sexta-feira, 15 de maio de 2015

MANIFESTO INCOERISTA



MANIFESTO INCOERISTA
alpha 17

Por Rémi Boyer, in Poeiras de Absurdidade Sagrada

1.
O Incoerismo é uma força de criação vertical, livre manifestação da Esseidade, totalmente fora do ter e do fazer, unicamente orientada para a Absolutidade, nascida do Oceano do Silêncio e jorrada do Intervalo, como um génio demónico.

2.
O Incoerismo gera a Vida como Desempenho a partir duma postura de Despertar. Desempenho para se libertar até da própria libertação. Ou seja, é erguer o estandarte da perfeição dobrado dentro da imperfeição. O Gesto Absoluto reside na perfeição do gesto imperfeito.

3.
O Incoerismo é uma postura do corpo e do espírito contra todas as imposturas.

4.
O Incoerismo é a consciência acrescida, a consciência de intensidade, a consciência de intenção, a consciência de que “Eu sou” é o único criador, o único actor, o único encenador, o único realizador, o único espectador, do seu próprio espectáculo a que ele chama “mundo” mas que é apenas “onda”. Solipsismo total. Grande Jogo do “isso acontece” enquanto “Isso permanece”.

5.
O Incoerismo nota, na Pessoa, que o seu desejo de coerência global é a fonte da sua alienação. A história, a política, as ciências ditas humanas ou autoproclamadas exactas, as religiões constituídas, as artes estatuídas, são as patologias da Pessoa. O Ser é a única Coerência, fora de quaisquer coerências, e o Grande Nada mantém-se fora dessa e destas.

6.
Não existem valores universais, não há senão valores pessoais. A questão dos valores, fonte de todos os conflitos, internos ou externos, só se resolve com o desaparecimento da Pessoa.

7.
Estamos sob uma ditadura, subtil ou grosseira. Esta não teve a sua origem num hipotético e improvável exterior mas sim em nós mesmos. O nobre combate é pois interno e axial. As brigas externas e periféricas conduzem invariavelmente ao esgotamento. Não deixa de ser – ou torna-se ainda mais – necessário desenvolver uma verdadeira Arte da Guerra.

8.
O Incoerismo ajusta contas com o Tempo e com todos os tempos, a fim de navegar livre pelos mundos relativos, ao sabor do vento do Querer.

9.
A procura da transcendência da arte tem o seu apogeu na Demanda de uma Arte de Nada, Arte absoluta do Intervalo. Na encruzilhada da Beleza Absoluta, da Virilidade Absoluta, da Feminidade Absoluta, só o Inapreensível é Arte.

10.
O Incoerismo exige, clama, grava no Instante e no Sempre, o respeito e a celebração ilimitadas da  Feminidade Absoluta, essencial, universal, potência magnífica e face sublime do Real, o Eterno Feminino em todas as suas formas, divinamente humanas ou humanamente divinas, todas sofiais.

11.
Só os Mestres do Grande Nada conseguem reconhecer, na total plenitude do Ser, a subversão, o desvio e a reversão como caminhos do Intervalo. Aos malcriados e desajeitados, não resta senão a agitação egótica da Pessoa.

12.
O Incoerismo é a Ideia-Apreensão Apaixonada, o Lugar-Estado no ápice do Ser. Fulmínea Absolutidade.

“Eu Sou, A Vontade Absoluta”

“Eu Sou, A Liberdade Absoluta”