quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os Rosa Cruzes



Os Rosa Cruzes
Loja Fênix - Lisboa - Portugal



Muito se tem dito e escrito ao longo dos séculos sobre os Rosa Cruzes. Curiosamente, existem quatro organizações que se pretendem herdeiras históricas dos Rosa Cruzes milenares. Estas associações são estanques entre si, e diferem substancialmente, tanto nos métodos quanto na doutrina e organização. Faremos, seguidamente, uma ligeira abordagem a cada uma delas.

Pedro Santos Pereira

1- A Sociedade Rosa Cruz do Lectorium Rosicrucianum ou Escola Espiritual Gnóstica da Rosa Cruz Áurea
Os membros desta sociedade são recrutados por cooptação. Da leitura de alguns dos seus textos oficiais, podemos inferir um esoterismo de herança cátara. O princípio doutrinal característico dos cátaros era maniqueísta-dualista, isto é, defendia dois princípios universais, criados, um deles do mundo espiritual e o outro do mundo material. Atendendo a estes referentes, segue-se que a alma viverá no corpo em cativeiro, só encontrando a paz pela libertação do corpo material, recuperando a plenitude da sua vida espiritual; o divórcio dos dois elementos inconciliáveis é obtido pela morte, não sofrida mas abraçada como libertação - primeiro passo para a felicidade. Esta morte poderia ser obtida pela iniciação, através da intervenção das personalidades. O Lectorium diz-se crístico e joânico, referindo-se freqüentemente aos Evangelhos, ao Apocalipse e ao Shamballah, nome que designa um centro subterrâneo no deserto de Gobi, centro do mundo onde se situaria a reencarnação de Christian Rosenkreuz, do qual o lectorium pretende ser emanação sua. Como atrás referimos, estes Rosa Cruzes pretendem-se crísticos mas não cristãos, já que rejeitam em absoluto, como inútil, todo o mecanismo da Igreja: os sacramentos, os sacrifícios do altar, a comunhão, os santos, a virgem, o purgatório, as relíquias, etc., etc.

2- A Fraternidade Rosa Cruz, vulgarmente conhecida pela associação ao nome do seu criador, Max Heindel, também faz o seu recrutamento por cooptação, contando com milhares de adeptos em todo o mundo. A doutrina é espalhada através dos livros de Max Heindel, de cursos por correspondência e de palestras pronunciadas em templos. A Astrologia e o desenvolvimento de faculdades mediúnicas e curativas são as bases da doutrina oficial, embora também esta organização se pretenda crística e joânica.

3- A Ordem dos Irmãos Primogênitos da Rosa Cruz, ainda mais secreta do que a anterior, adota o adágio taoísta: "tudo aquilo que pode ser dito não merece ser conhecido", aplicando-se o termo "conhecido" ao conhecimento integral, inexprimível e informal. A ordem pretende filiar-se, histórica e iniciaticamente, na tradição templária, da qual estes Rosa Cruzes seriam, desde o século XV, os únicos depositários, tendo recolhido aquilo que os processos de 1307 a 1314 tinham pretendido fazer desaparecer.

4- A Ordem Rosa Cruz - AMORC, Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz, também conhecida até ao século XX por Antiquus Arcanus Ordo Rosae Rubeae et Aureae Crucis, recruta os seus aderentes por meio de publicidade e por cooptação. A AMORC estabelece uma distinção entre os rosacrucianos, que são os seus próprios aderentes, e os Rosa-Cruz, raros esses que atingem os mais elevados graus da ordem.
Com efeito, em cada mil pessoas que respondem à propaganda, em média 402 são admitidas nos graus de Atrium, 329 ao primeiro grau postulante. O décimo segundo grau, de Templo, apenas é atingido por uma média de 101 aderentes, sendo essa iniciação então realizada - consta - na câmara do rei da pirâmide de Keops, fato para o qual será a única organização autorizada em todo o mundo.

Esta instituição compreende na cúpula a Suprema Grande Loja, em S. José da Califórnia, onde também existe uma Universidade, o Museu Egípcio Rosa Cruz, o Planetário e Museu de Ciências e o Templo Supremo.

A instrução dos seus membros é efetuada em vários níveis:

1. cerimônias ritualistas, abertas a todos os membros, onde são apresentadas comunicações da Suprema Grande Loja; estas não estão sujeitas a intervenções ou críticas, convidando-se os participantes à reflexão e meditação nos assuntos expostos. Note-se que, embora não possam criticar e participar dos temas apresentados, os membros têm plena liberdade de aceitar ou não os enunciados;

2. sessões livres e abertas a todos os filiados, não ritualistas, em que são apresentados, por membros da Ordem, trabalhos sobre os mais díspares e variados temas. Estes estão sujeitos, não só à troca de informações, como também à crítica e debate das opiniões aí expressas;

3. sessões de grau, reservadas aos titulares desse grau e supervisionadas por um elemento mais antigo, em que são debatidos e esclarecidos os assuntos respeitantes à instrução desse grau;

4. a aprendizagem propriamente dita é realizada através de apostilhas semanais, onde se encontram princípios filosóficos e exercícios de controle e desenvolvimento mental.

5- Considerações sobre o Simbolismo e Relações entre as Organizações
Apesar de tão heterogêneas, podemos no entanto detectar certos aspectos de concordância unívoca, que decompomos em três grandes grupos:

1. existência de laços fraternais entre estas organizações em pares simples. Assim, o Lectorium Rosicrucianum com a Fraternidade Rosacruciana, por um lado, e os Irmãos Primogênitos com a Ordem Rosa Cruz AMORC, por outro;

2. o segundo aspecto de concordância revela-se no fundo filosófico comum. Com efeito, todas as quatro instituições buscam as suas raízes ideológicas na tradição ocultista ocidental, por oposição às outras duas grandes correntes esotéricas ocidentais, que são: a Teosofia, procedente das revelações do Extremo Oriente, colhidas por Helena Petrovna Blavatsky e Annie Besant; e o Espiritismo, de Léon Denis e Allan Kardec.

Queremos com isto dizer que esta tradição ocultista ocidental vem na linha dos hermetistas, cabalistas cristãos e alquimistas, bebendo as suas raízes lá muito atrás em Platão, nos gnósticos da Pistis Sophia e em todas as outras grandes sínteses destas linhas.

Característica intrínseca da mesma é aceitarem as teses cármicas da reencarnação, subjacentes à doutrina de Hermes Trimegisto, sintetizada como está no axioma hermético: "O que está em baixo é como o que está em cima, e o que está em cima é igual ao que está em baixo, para realizar os milagres de uma única coisa", i.e., a correspondência entre o macrocosmo e o homem - o microcosmo. Outra é aceitarem a trilogia unitária do homem, que se dividirá em corpo, espírito e perispírito. O espírito, também denominado alma, constituirá no homem a sua verdadeira individualidade, indestrutível e imortal, manifestando-se no seu tríplice aspecto, a saber: Memória, Inteligência e Vontade. O espírito propriamente dito é susceptível de adquirir no tempo novas qualidades, que o enriquecem, depuram e elevam. Estas qualidades, obtidas através da experiência adquirida, são arquivadas no perispírito, vulgarmente conhecido por astral, ou duplo etéreo, pelos cientistas que se dedicam a quantificar, isolar e testar essa bioenergia aural presente em todo o ser humano.

3. o terceiro aspecto da concordância está necessariamente subjacente ao segundo, já que todas as organizações se reclamam herdeiras dos mesmos antepassados Rosa Cruzes. Todas admitem o mesmo fundador Christian Rosenkreuz, como restaurador da ordem. Este personagem, meio mítico não se sabe ao certo se terá existido, ou se o seu nome não será de um mero simbolismo para o Cristão Rosacruz. Na realidade, aquilo que sabemos de tão ilustre personagem está condensado no manuscrito FAMA FRATERNITATIS ET CONFESSIO FRATRUM ROSAE CRUCIS da autoria de Jean Valentin Andreae, de finais do séc. XVI. Na Fama encontra-se a biografia de Christian Rosenkreuz e noutros três palimpsestos o seu ensinamento.

Se sobre Christian pairam dúvidas da sua existência, de uma longa lista de outros personagens estas não existem.

E assim, entre os mais proeminentes encontramos: Robert Fludd e Paracelso, aos quais, em conjunto com o primeiro, poderemos atribuir a paternidade do movimento Rosacruz; Comenius que, em 1956, foi homenageado pela Unesco e considerado por esta organização como o seu mentor espiritual; Sir Francis Bacon, o insigne ministro e criador da "Nova Atlântida"; o rei da Prússia, Frederico Guilherme II; Wolfgang Goethe, criador do "Fausto"; o conde de Saint German; Victor Hugo; René Descartes; Leibniz; Isaac Newton; Benjamin Franklin; Lord Bulwer Lytton; e Fernando Pessoa.

Outros há profundamente ligados à Maçonaria, como Eliphas Lévi, Stanislau de Guaïta, Martinez de Pascually, Louis Claude de Saint Martin, e Papus, estes últimos fundadores da Tradicional Ordem Martinista.

Aliás, é importante referir aqui que, atualmente, a única via de acesso à Tradicional Ordem Martinista é através da Ordem Rosa Cruz AMORC, só podendo ingressar naquela Rosacrucianos que tenham atingido, pelo menos, o terceiro grau do templo (coisa que, em tempo útil, se poderá quantificar em quatro anos de aturada aplicação ao estudo).

Podemos portanto verificar que, neste terceiro aspecto de concordância, que os pergaminhos são velhos, e que as divergências se situam apenas no princípio deste século.

Não poderíamos deixar este estudo, que se pretende breve mas forçosamente incompleto, sem tentar de alguma forma explicar o porquê do nome e simbolismo Rosa Cruz Áurea.
Uma das interpretações, à priori, é a de que poderemos encontrar no símbolo a cosmogonia hermética, onde a Cruz - signo masculino e espiritual - representa a divina energia criadora que fecundou a matéria da substância primordial, de que a imagem é a feminina Rosa, fazendo passar o ovo cósmico à existência do Universo, como professava Mestre Paracelso.

A Rosa, que em todas as épocas, foi o símbolo da beleza, da vida, do amor e do prazer, expressava misticamente o pensamento secreto de todas as oposições manifestadas durante a Renascença. Era a carne revoltada contra a opressão do espírito; era a natureza declarando-se filha de Deus; era o amor que não desejava ser sufocado pelo celibato; era a humanidade aspirando a uma religião natural, toda feita de inteligência e amor, baseada nas revelações das harmonias do Ser, do qual a Rosa, para os iniciados, era o símbolo vivo e cheio de viço. A conquista da Rosa era o problema apresentado pela iniciação à ciência; à medida que a religião se ocupava em estabelecer o triunfo universal e exclusivo da Cruz (esta representa o homem e a sabedoria secreta para os hermetistas). A Rosa é o símbolo da fragilidade humana, e representa a eternidade da alma, e significa também o segredo guardado, porque se fecha sobre o coração, abrindo-se no momento de morrer. No plano esotérico, a Rosa inscreve-se nas quatro dimensões: comprimento, largura, espessura e tempo, e a Cruz na quinta dimensão dos Rosa Cruzes, a Mente Associada à Rosa, encontramos as subdimensões: forma, matéria; cor, perfume, todas reunidas na mais completa harmonia e defendidas pelos (guardiões) espinhos.

A Rosa é, pois, uma criação excepcional, o emblema da Perfeição para a Grande Obra dos Alquimistas. Mas, como só entreabre as suas pétalas e revela o seu coração e o seu mais íntimo segredo, no momento em que vai perecer, é também o símbolo da Morte. Segredo ciosamente guardado, Perfeição e Morte, tudo se encontra na Rosa. A Cruz, como já dissemos, é a sabedoria do Salvador, do Deus feito homem, é o conhecimento do iniciado. Sabedoria mantida secreta, tal é a Rosa sobre a Cruz, a Rosa Cruz.

Não encontramos aqui uma analogia com o inefável segredo maçônico? Não está o ritual maçônico todo ele impregnado do simbolismo Rosa Cruz, do mais rudimentar ao dos mais elevados graus? Tanto quanto podemos apurar, a Ordem Rosa Cruz AMORC e a dos Irmãos Primogênitos saúdam os seus irmãos Maçons como os atores ativos no mundo profano sócio-econômico-político, elegendo esta suposta Ordem como uma escola de aperfeiçoamento humano inspirada nos princípios da justiça, tolerância, igualdade, liberdade e fraternidade, reservando-se os Rosa Cruzes um papel mais místico, contemplativo, meditativo, isto é, passivo e espiritual.

Bibliografia
- Arnold (Paul) Histoire des Rose + Croix et les Origines de la Franc-Maçonnerie, Paris, Mercure de Frande, 1955
- Bayard (J.P.) Os Rosa-Cruz ou a Conspiração dos Sapientes, Lisboa, Edições 70, 1978
- Cartas de Informações para Pesquisadores, s.l. Edição da Escola Espiritual da Rosa Cruz Áurea, s.d.
- Frère (Jean Claude) Vie et Mystères des Rose-Croix, Paris, Maison M., 1973
- Heindel (Max) Conceito Rosa Cruz no Cosmos [Tratado elementar sobre a evolução passada do homem, sua constituição atual e o seu futuro desenvolvimento], S. Paulo, Fraternidade Rosacruciana de S. Paulo, 1980
- Incognito (Magnus) A Doutrina Secreta dos Rosa-Cruzes, São Paulo, 1984
- La Maitrise de La Vie. Ancient Mystique Ordre Rosae Crucis, Le Neubourg, 1981
- O Homem: Alfa e Omega da Criação, Curitiba, Ordem Rosa Cruz AMORC, 1985 

.·.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Carta para o século XXI das Ordens Martinistas - Rémi Boyer


Carta para o século XXI das Ordens Martinistas - Rémi Boyer




Ao longo do século passado, a história das Ordens e da Ordem Martinista foi rica e movimentada. Se a Ordem fundada por Papus se ramificou em numerosos ramos, esta árvore foi o fruto da iniciação martinista, da iniciação livre, da linhagem, de indivíduo à indivíduo.

Os círculos, grupos, lojas e Ordens Martinistas ao longo de todo o século passado foram cadinhos que permitiram os iluministas, ocultistas e hermetistas perdurar e se desabrochar. A liberdade, a tolerância, o espírito de investigação que dominou, apesar de algumas inevitáveis vicissitudes, e o movimento martinista, permitiu numerosos questionadores reencontrarem-se, independente dos seus caminhos particulares, numa verdadeira comunhão sob a égide do Filósofo Desconhecido.

A Ordem Martinista soube também acolher no seu seio outras correntes para preservar, ajudar e conhecer um novo desenvolvimento.

Hoje, a fim de que este espírito permaneça, de modo que o que está vivo, não se torne fixa, estão inscritos nesta Carta para o século XXI das Ordens Martinistas, os princípios simples que contribuíram para a radiação (influência) do Martinismo desde Papus.

A adoção desta Carta é livre, não confere nenhum direito, somente os deveres decorrentes da ética. Ninguém terá que prestar contas disto, exceto a si mesmo e a Providência.
Fonte: CIREM. Copia incentivada.

I – De acordo com Saint-Martin

1
«A minha seita, é a Providência, meus prosélitos, sou eu; o meu culto, é a justiça.»

«…Estou surpreso que você encontrou o fraco mérito, de modo que eu posso dar o meu nome para a minha antiga escola ou a qualquer outra. As instituições, por vezes, são usadas para mitigar os males do homem, mais na maioria das vezes para aumentar, nunca para curar.»

«A única iniciação que procuro, com todo o ardor da minha alma é aquela onde podemos entrar no coração de Deus e fazer o coração de Deus entrar em nós, para fazer um casamento indissolúvel, que nos torna o amigo, o irmão e o cônjuge nossa divina reparadora. Não há outro mistério para chegar à esta santa iniciação, apenas aprofundar-nos cada vez mais, até as profundezas do nosso ser e não deixar seguir, de que não chegamos a sentir a raiz viva e vivifiante, porque então de todos os frutos que devíamos levar de acordo com a nossa espécie ocorrem naturalmente em nós e fora de nós, como vemos que isto chega às nossas árvores terrestres, porque são aderentes à sua raiz particular e que não param de bombear os sucos.»
2
Louis-Claude de Saint-Martin dedicou grande parte de sua vida, as ordens iniciáticas que frenquentou, não fundou nenhuma e guardou uma justa reserva para com todas. Pela sua obra, ele iniciou uma corrente de pensamento iluminista cristã maior e convidou a montar-se uma fraternidade de espírito. No artigo de sua morte, Louis-Claude de Saint-Martin “exortando todas as pessoas à sua volta a colocarem a sua confiança na Providência, e viver entre eles como irmãos, nos sentimentos evangélicos”.

II – De acordo com Papus

1
Papus fundou a Ordem Martinista em várias etapas:
-         1884-1885: primeiras iniciações.
-         1887: primeira loja.
-         1887-1890: estabelecimento da Ordem Martinista, redação dos estatutos e cadernos de instrução.
-         1891: constituição do primeiro Supremo Conselho.
2
A iniciação de 1882 à qual Papus faz referência é aquela que Augustin Chaboseau situa, no que lhe diz respeito, em 1886, iniciações que transmitiram-se respectivamente em 1888, continuam a ser incertas na sua natureza e quanto às circunstâncias. Elas revelam uma forma diferente e apenas ritual. É a iniciação de Papus, não de Papus-Chaboseau, que constituirá depois a fundação da Ordem Martinista, a iniciação “martiniste”.

III – De acordo com a Ordem

1
Papus concebeu e definiu a Ordem Martinista, ao mesmo tempo, como uma ordem iniciática e uma escola de cavalaria moral[1] e de ocultismo cristão.
O cristianismo da Ordem Martinista é marcado pela doutrina da Reintegração Universal de Martinès de Pasqually, como pela via cardíaca de transmutação interior de Saint-Martin, e o ocultismo é “o conjunto das doutrinas e as práticas fundadas sobre a teoria segundo a qual todo objeto pertence a um conjunto único e possui, com qualquer outro elemento deste conjunto, reportes necessários, intencionais, não-temporais, e não-espaciais”[2], dita teoria das correspondências.
2
Papus e os Companheiros do Hierofante, foram animados pelo espírito da investigação, pela especulação não dogmática que encontra os seus fundamentos assim como os seus resultados no operativo.
3
Fiel ao seu título, a Ordem Martinista une-se principalmente para estudar e aplicar o ensinamento original de Louis-Claude de Saint-Martin e para compreender a influência do seu primeiro mestre, Martinès de Pasqually e Jacob Böhme, em sua doutrina.[3]
a)     Primeira conseqüência: A Ordem Martinista é unida pela simplicidade das formas rituais, cuja Ordem Martinista primitiva dá o exemplo.
b)     Segunda conseqüência: A fraternidade e o companheirismo são o coração da experiência martinista: «Você não vai me chamar de Mestre. Porque existe um só Mestre ; e vocês todos são meus irmãos.[4]».
c)      Terceira conseqüência: Uma Ordem Martinista é independente de toda Igreja como de toda outra ordem iniciática; os membros continuam a ser livres para estabelecer quaisquer afiliações em espírito. As equivalências entre os graus da Ordem Martinista e de outras ordens iniciáticas já existiu. Elas são desprovidas de sentido iniciático.
d)     Quarta conseqüência: A Ordem Martinista convida seus membros a engajarem-se no caminho da Reintegração. Isto implica em prepará-los a se libertarem de toda forma de alienação, incluindo a adesão a todo tipo de iniciação incluindo a Ordem Martinista.

IV – Da fraternidade

1
Após a morte de Papus, a Ordem Martinista se ramificou e o processo não se interrompeu. Toda controvérsia sobre as Ordens Martinistas e precedentes é incoveniente, exceto se toda ordem qualificada de martinista subscrever os princípios gerais enunciados acima. Entre as ordens martinista, assim como entre os membros de cada ordem martinista, a fraternidade é a regra, e a concorrência não é admissível sob o relação da virtude.
2
Todas as Ordens Martinistas dispensam a mesma iniciação; um membro de qualquer Ordem Martinista pode e deve ser recebido como visitante numa reunião conduzida sob os auspícios de uma outra Ordem Martinista.

[1] Papus. Martinésisme, willermozisme, martinisme et franc-maçonnerie. Paris. Chamuel. 1899.
[2] L’Occultisme, esquisse d’un monde vivant. Saint Jean de la Ruelle. Éditions Chanteloup. 1987.
[3] «É à Martinès de Pasqually que devo a minha entrada nas verdades superiores. É a Jacob Böhme que devo os passos mais importantes que fiz nestas verdades» Portrait, n° 418.
[4] Mt. XXIII, 8.


 Fonte: OMCC

OM Napolitana - Expulsão



ORDINE MARTINISTA NAPOLITANO


 Io sottoscritto Mauro Primavera++haiaiel++ Gran Maestro dell’Ordine Martinista Napolitano(Italia) e della Rosa Croce d’oro italiana,in piena facoltà dei miei poteri,espulgo tutti i membri dellle accademie site in Brasile:

 Accademia "Hahaiel" - 01 - San Paolo responsabile: Fr+ Domênico / +Sitael+)- José   Marcelino Domênico (Grado: S:::I:::L:::I:::)Accademia "Caliel" - 02 - Guarulhos (responsabile: Fr+ Romão / +Lelael+): Renan Romão (Grado S:::I:::L:::I:::) Accademia - 03 - San Paolo (responsabile: Fr+ Laurenti / +Memael+): César Laurenti (S:::I:::L:::I:::)

Ed esorto tutti i fr+ di non usare mai piu tutto il materiale dell’Ordine Martinista Napolitano e di togliere tutti i siti relativi all’ordine Martinista Napolitano ,e mi tolgo da tutte le responsabilità per quello che potrebbe succedere in tal caso non venga eseguito questo ordine,che viene dall’invisibile dai sudetti Eggregori.  

30/03/2010                                                          
                                                                   +haiaiel+                                                                                                                                               


                                                                                                                                         



                                                                                                                                                                  











                                                                                                                                         

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os Emblemas Rosacruzes de Daniel Cramer e a Alquimia Espiritual





Os Emblemas Rosacruzes de Daniel Cramer e a Alquimia Espiritual


O Mutus Liber
Afirma a ancestral sabedoria chinesa que uma imagem vale mais que mil palavras, e essa observação é particularmente correta quando nos referimos as imagens herméticas ou alquímicas que os Sábios deixaram para o deleite e edificação dos amantes de sua Ciência. São chamados "livros mudos", mas sua mudez é muito distinta da habitual, pois é particularmente eloqüente quando logramos penetrar em seu aparente silêncio.

A Obra Decades Qvator Emblematvm Sacrorvm Ex, ou a Iesv et Rosae Crucis Vera Os Emblemas Rosacruzes de Daniel Cramer são um dos primeiros tratados rosacrucianos. Este surpreendente "livro mudo" veio à luz em 1617, um ano depois da publicação das "Bodas Alquímicas de Christian Rosenkreutz". Centrado no simbolismo do coração, os 40 emblemas parecem descrever um processo de purificação e aperfeiçoamento que atravessa a alma ou o homem interior através de 40 passos. Daniel Cramer, pastor protestante, foi um grande conhecedor do conteúdo esotérico das escrituras. A Obra foi dedicada a Felipe II. Ediciones Obelisco (Edição em Espanhol).

Outra obra de importante relevo, e bem dentro da tradição rosacruciana é o conhecido MUTUS LIBER, ou O Livro Mudo da Alquimia.

Reconhecidamente uma das obras mais importantes da tradição alquímica. Composto de 15 pranchas, gravadas por Altus (La Rochelle, 1677), descreve os passos para realização da Grande Obra apenas por imagens. É possivelmente o único livro conhecido, desde o apogeu da civilização egípcia, que se propõe condensar a sabedoria hermética, como prática empírica e caminho espiritual, praticamente sem o uso da palavra.

A publicação em 1614, 1615 e 1616 dos primeiros manifestos rosacruzes (Fama, Confessio e Bodas Alquímicas) deu-se início a uma nova vertente esotérica que procurou definir-se mais auto-conscientemente como tributária de uma visão esotérica do Cristianismo. Dedicaram-se a normatizar e a regular a própria forma das alegorias e dos símbolos alquímicos, retirando a espontaneidade e sua marca intransferivelmente pessoal e solitária, colocando em seu lugar as regras e valores hierárquicos próprio das sociedades secretas que se propõem administrar politicamente a vivência do mundo espiritual. A produção típica desse movimento é o que se costuma chamar de Alquimia Espiritual.

"A alquimia simboliza tudo o que o homem pode aspirar a atingir espiritualmente em seu presente estado. As promessas do ouro, da longevidade e da saúde são todas símbolos da regeneração interior. Remetem à Idade do Ouro da tradição indo-européia, presente tanto nos escritos platônicos quanto na tradição da Índia Antiga. A alquimia é o grande símbolo do caminho iniciático, caminho solitário e penoso, cheio de impasses, mas que é o único caminho a seguir para que possamos voltar à Casa." Adam McLean

"Não são fábulas. Você o tocará com suas mãos, o verá com seus olhos, o Azôto, o Mercúrio dos filósofos, que sozinho é suficiente para obter a nossa Pedra... A Escuridão aparecerá na face do Abismo; a Noite, Saturno e o Antimônio dos sábios aparecerão; o negrume e a cabeça de corvo dos alquimistas, e todas as cores do mundo, aparecerão na hora da conjunção; e também o arco-íris, e a cauda do pavão. Finalmente, após a matéria passar de cor de cinzas para branca e amarela, você verá a Pedra Filosofal, nosso Rei e Supremo Dominador, sair de seu vítreo sepulcro para montar em sua cama ou trono com seu corpo glorificado... diáfana como cristal; compacta e muito pesada, derrete ao fogo qual resina, e com a fluidez da cera, mais ainda que a do mercúrio vulgar... com a cor do açafrão quando pulverizada, mas vermelha como rubi quando em uma massa integral..." - H. Khunrath, Amphitheatrum

Os “Landmarks” do Martinismo




Os “Landmarks” do Martinismo

Traduzido por Buscador +
Revisado por AEC

O propósito deste artigo é examinar os “Landmarks” do Martinismo, os elementos particulares do Martinismo com os quais todos os Martinistas, individualmente, e todas as Ordens Martinistas, coletivamente, podem estar de acordo. Na Franco-Maçonaria, os “Landmarks” são aqueles conceitos que definem a Maçonaria, e qualquer outra coisa que não seja Maçônica. Um “Landmark” é então uma característica que define quem nós somos, e que nos ajuda a definir os caminhos, e as maneiras, embora falemos línguas diferentes, ou usemos vestes diferentes, mesmo assim somos membros de uma mesma família; como ninguém evidentemente pode em nossa restrita família ver semelhanças ?

Um grande compromisso tem sido firmado exatamente nesses itens que nos separam. Não somos filhos de UM mesmo Pai? Não somos Irmãos e Irmãs de UMA mesma família Iniciática?

    1) Crer em Deus, e invocar Yeheshua. O Martinismo é uma Ordem essencialmente Cristã, e Yeheshua é invocado em todo encontro e mencionado em todo documento Martinista. A crença na Deidade é uma característica de todos os corpos Iniciáticos. Sem ela não temos razão de ser e nossos juramentos são sem significados. Nós somos cristãos, não numa maneira limitada nem dogmática, mas como verdadeiramente reverenciando Yeheshua como o mistério da encarnação do Logos no mundo físico. Neste sentido, os eventos do drama Cristão estão em progresso, é desta participação Divina na existência, que vem a tona todos os milagres que ocorrem em resposta as nossas orações e rituais teúrgicos. Todos os martinistas estão, ou deveriam estar de acordo com este “Landmark”.
    2) A Iniciação transmitida por Saint Martin, S.I. Alternativamente nós podemos considerar que esta Iniciação, se origina tanto em Pasqually como em Saint Martin. É este o legado que nos torna Martinistas. Nós consideramos como a transmissão de uma Essência Espirital que nos une numa grande família Iniciática. Pode haver diferentes caminhos que temos conhecimento até o momento, como a diferença entre a Tradição Russa, a Tradição que vem de Papus e a Tradição que vem de Chaboseau, mas são afiliações que em todo o caso, ascende a Saint Martin. Concordando com a teoria de nosso estimado Irmão Robert Amadou, é então uma questão de afiliação de Desejo, de uma afiliação espiritual que era, aos pedaços formalizada ritualisticamente sob a influencia de diversas personalidades.
    3) A organização por Papus, de uma estrutura consistindo de 2 Graus preparatórios e 1 Grau posterior que é o S.I.. Todas as Ordens Martinistas trabalham com a mesma estrutura, embora possa haver variações nos nomes desses Graus. Eles utilizam mais freqüentemente: 1º Grau – “Associado”, 2º Grau – “Iniciado” e o 3º Grau – “Superior Incógnito” ou “Servidor Incógnito”.
    4) Transmissão da Iniciação de pessoa à pessoa, EM PESSOA, por um Iniciador autorizado, qualquer que seja seu título. A Iniciação é um presente dado por um Iniciador ao seu iniciando ou a sua inicianda, e é uma marca da mais profunda confidência entre os dois. Não pode ser transmitida pelo correio, ou por telefone ou qualquer outra maneira que não seja pessoalmente e na presença dos símbolos essenciais do Martinismo. O Iniciador pode ser conhecido por diversas formas e títulos deferentes: Iniciador, Iniciador Livre, Filósofo Desconhecido, etc. Em todos os casos significam a mesma coisa, uma vez dada a autoridade por outro Iniciador, assim podendo conferir a Iniciação. Para cada Grau, cada Iniciador é livre e autônomo. É basicamente deixada a discrição ao Iniciador para conferir a Iniciação. O desejo é o requisito para dar intelectualidade e a caridade espiritual para o Homem de Desejo, que deve estar equilibrado pela consciência da responsabilidade envolvida. Um Iniciador nunca deve conferir a Iniciação a aqueles meramente curiosos, nem aqueles que procuram na Iniciação a satisfação de seus próprios egos, ou ainda não conferir a aqueles que a procuram com fins lucrativos e mercenários. Não deixar nas mãos destes, nossa Tradição. Enquanto que cada Iniciador deve se esforçar para preservar a herança que lhe foi conferida, e passá-la intacta a posterioridade, deve ainda ter a certeza de que a Tradição não seja depreciada nem conferida por aqueles que não tem sido perfeitamente preparado e educado, e nem para aqueles que não tem certeza que manterão a Tradição pura, nem a dissolvendo, nem a barganhando por mera comodidade.
    5) Os Mestres do Passado. Estes são aqueles que tem criado, contribuído, e definido nossa Tradição, são aqueles que transmitiram a afiliação a nós. Alguns deles, todos nós conhecemos: Papus, Sédir, Phaneg, Mestre Philippe. Outros Mestres são conhecidos somente por aqueles que pertencem a uma ou outra linha de afiliação. Há alguns que tem trabalhado tão completamente “por detrás da máscara”, que são conhecidos somente por santos e grandes almas. Nós invocamos sua presença em cada encontro e pedimos por sua orientação e sua proteção. 6) A liberdade essencial para o Iniciado buscar seu próprio caminho rumo a reintegração.A Ordem Martinista teve desde os dias primordiais, um programa de instrução e certos símbolos fundamentais. À parte destes, cada Iniciador ou grupo de dirigentes, foram livres para instruir de acordo com sua própria compreensão, e a compreensão e interesse do grupo. Deste modo, o Martinismo é mais um local de encontro, que propriamente um currículo rígido, e isto é como deveria ser, pois o caminho da reintegração é pessoal. Assim, alguns trabalharão com uma Ordem, outros com outra e alguns trabalharão sozinhos como Martinistas Livres. Sempre tem sido assim.
    7) Crer no processo de reintegração para sair da Floresta dos Erros. A Ordem Martinista desde seus antecedentes primordiais na Doutrina de Pasqually, sempre sustentou que o homem está caído, perdido em sua própria privação, sem conhecimento dos privilégios de seu estado primordial. A função das escolas de Pasqually e Saint Martin tem sido relembrar ao homem as suas glorias, a sua origem sobrenatural, e indicar o caminho de retorno. Alguns irão preferir seguir um caminho Operativo, e outros o caminho do Coração; mas qualquer que seja o caminho escolhido, a jornada deve ser empreendida e completada.
    8) O Uso do Manto Simbólico, da Máscara e do Cordão. Realmente não importa se o manto é preto, branco ou vermelho; ou se o cordão do S.I. é branco, vermelho, ou amarelo; ou se há 3 nós, 5 nós ou nenhum deles. Todos os Martinistas fazem uso desses três símbolos profundos, e os significados das entrelinhas de todos eles, na verdade são o mesmo. 9) O Uso dos três tecidos, preto, vermelho e branco. Assim como o manto, a máscara e o cordão, essas cores são de uso universal e seu respectivo simbolismo está explicado em toda parte da mesma forma.
    10) O Uso do Trígono de Luminárias. No alto de um altar Martinista, existem 3 velas brancas, dispostas em forma triangular. Em algumas Lojas estas são usadas somente em 2 Graus, em outras em todos os 3 Graus, mas apagada em um. O simbolismo é sempre o mesmo e pode ser aceito por todos os Martinistas.
    11) O Uso do pantáculo Martinista. Em algumas Ordens Martinistas, o pantáculo está localizado no chão ao leste, em outras está acima da cadeira do Iniciador e em outras Ordens Martinistas, o pantáculo se encontra em ambos os lugares. Está em todos os documentos Martinistas e constitui um símbolo Martinista universal.
    12) O local dos Mestres do passado. Em todo Templo Martinista, qualquer que seja seu nome, há um lugar, ou uma cadeira, ou uma mesa, ou um altar com uma vela representando os Mestres do passado de nossa Ordem, da nossa família Iniciática. Pode ser mais decorado, mas a vela sempre está presente, e ilumina todas as cerimônias para representar nossa invocação aos Mestres do passado, para representar a presença deles em nossas assembléias, e para representar nossa aspiração para se juntar a eles.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

ALQUIMIA E MAÇONARIA



ALQUIMIA E MAÇONARIA
Omar Cartes


Podemos afirmar que o maçom tem contato com a Alquimia nos primeiros momentos em que, como candidato, tem contato com a Ordem. A Câmara de Reflexões indiscutivelmente é um legado alquimista, a sua "decoração" com os elementos água, enxofre e sal, que acrescida do mercúrio são substâncias que constituem a Prima Matéria da Alquimia. A Alquimia é estudada sob três aspectos diversos, suscetíveis de interpretações distintas, e que são: o cósmico, o humano e o terrestre.

Elas são representadas pelas três propriedades alquímicas: enxofre, mercúrio e sal. Muitos autores afirmam que há três, sete, dez e doze procedimentos respectivamente, porém, todos concordam em que há apenas um único objetivo na Alquimia, que é a transmutação em ouro dos metais mais grosseiros. Porém, este é apenas um dos aspectos da Alquimia, o terrestre ou puramente material, pois, compreendemos logicamente que o mesmo processo seja executado nas entranhas da Terra. Contudo além desta interpretação, há na Alquimia um significado simbólico, psíquico e espiritual.
 
Como vimos o alquimista procura simbolicamente ouro, isto nada mais é do que o maçom procura, através da sua opus, transformar a pedra bruta em pedra polida, e que é o aprimoramento moral e espiritual do maçom. Enquanto o alquimista cabalista muitas vezes procura a realização do ouro material, o alquimista ocultista, desdenhando o ouro das minas, volta toda a sua atenção e concentra todos os seus esforços na Divina Trindade do homem que, quando, finalmente se fundem, formam apenas um.
 
Os planos espiritual, mental, psíquico e físico da existência humana são comparados, em Alquimia, aos quatro elementos: fogo, ar, água e terra, e cada um deles é suscetível de uma constituição tripla, a saber: fixa, variável e volúvel. Aqui temos também um outro elo entre a Maçonaria e a Alquimia, mas precisamente nas três viagens que o recipiendário é obrigado a fazer acrescido da prova da Terra que simbolicamente, é a Câmara de Reflexões, a que nos referimos' anteriormente.
 
A Maçonaria vê na prova do AR (primeira viagem com seus ruídos e trovões) a representação do segundo elemento primordial que com seus meteoros e contínuas flutuações é o emblema da vida, sujeito as contraditórias variações. Na Alquimia o AR é trabalhado através da operação sublimatio. Ela transforma o material em ar por meio de sua elevação e volatilização. O termo "sublimatio" vem do Latim Sublimis, que significa elevado. Isso indica que o aspecto essencial do Sublimatio é um processo de elevação por intermédio do qual uma substância inferior se traduz numa forma superior mediante um movimento ascendente.
 
Na Maçonaria a água é o oceano e este é um símbolo do povo, a cujos serviços dedicam-se os verdadeiros maçons. Os homens são as gotas do vasto oceano da humanidade, de que as nações são partes.
 
Na Alquimia a água é a Prima Matéria, idéia que os alquimistas herdaram dos pré-Sócrates. Pensam os alquimistas que uma substância não poderia ser transformada sem antes ter sido reduzida à Prima Matéria. A água é trabalhada através da operação Solutio, esta provoca o desaparecimento de uma forma e o surgimento de uma nova forma regenerada. No poema abaixo, escrito por Lao Tse, a Maçonaria fala a mesma linguagem que a Alquimia, quando tratam de água:
 

"O menor dos homens é como a água.
A água a todas as coisas beneficia
E com elas não compete.
Ocupa os (humildes) locais visto por todos com desdém
Nos quais se assemelha ao Tao
Em sua morada (o Sábio) ama a (humilde) terra
Em seu coração ama a profundidade
Em suas relações com os outros, ama a gentileza
Em suas palavras, ama a sinceridade
No governo ama a paz
No trabalho, ama a habilidade
Em suas ações ama a oportunidade
Porquanto não quere-la
Vê-se livre de reparos."
 
O quarto elemento, o fogo, também une os propósitos dos dois colégios. Para a Maçonaria o fogo cujas chamas sempre simbolizam aspiração, fervor e zelo deve lembrar ao iniciado que este deve aspirar a excelência e a verdadeira glória e trabalhar com dedicação nas causas empenhadas, principalmente as do povo, da pátria e da ordem.
 
 Para o alquimista o fogo é tratado na operação calcinatio. Eis porque toda imagem que contém o fogo Livre queimando ou afetando substâncias se relaciona com a calcinatio. O fogo da calcinatio é um fogo purgador, embranquecedor. Atua sobre a matéria negra, a nigredo, tomando-a branca. Diz Basil Valentine: "Deves saber que isso (a calcinatio) é o único meio correto e legítimo de purificar nossa substância." Isso a vincula ao simbolismo do purgatório. A doutrina do purgatório é a versão teológica da calcinatio projetada na vida depois da morte.
 
Morte, um tema muito caro para os maçons e alquimistas. Na Maçonaria a morte é tratada de forma muito especial, na Lenda de Hiram que perpassa vários graus da Escada de Jacó. O maçom conhece muito bem estas palavras:... o pó volte a Terra e o espírito volte a Deus que o deu...
 
Para o alquimista a morte também é um processo, uma continuação que faz parte do trabalho da coagulatio. Esta pertence ao elemento Terra, e costuma ser seguida por outros processos, em geral pela mortificatio e pela putrefactio. Aquilo que se concretizou plenamente ora se acha sujeito à transformação. Tornou-se uma tribulação, que chama à transcendência. Eis como podemos entender as palavras do apóstolo Paulo ao vincular o corpo e a carne à morte: "Quem me libertará do corpo desta morte?... Porque, se vivemos na carne, morreremos; mas se por meio do espírito, mortificarmos os feitos do corpo, viveremos... Porque aquele que vive segundo a carne inclina-se para as coisas da carne. A inclinação da carne é a morte; mas a inclinação do espírito é a vida e paz”.
 
A identificação do corpo e da carne com a morte deve-se ao fato de que tudo aquilo que nasce no plano espaço-temporal deve submeter-se às limitações dessa existência, que incluem um fim a morte. Esse é o preço do ser real. Uma vez plenamente coagulado ou encarnado, o conteúdo torna-se sem vida, sem maiores possibilidades de crescimento. Emerson exprime essa idéia: "Somente a vida é beneficio, e não a ter vivido. A força cessa no instante do repouso; ela reside no momento da transição de um estado passado para um novo, na voragem do abismo, no arremesso contra o alvo. Eis um fato que o mundo abomina. O fato de a alma vir a ser porquanto isso degrada o passado, tornando todos os bens em pobreza, toda reputação em vergonha, confundindo o santo com o velhaco, varrendo Jesus e Judas para longe, sem distinção.” Realizada a plena coagulatio, vem a putrefactio. Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no espírito do espírito ceifará a vida eterna. Um texto alquímico trata do mesmo tema: o leão, o sol inferior pela carne se corrompe... Assim, o leão tem corrompida a natureza por meio da sua carne, que segue os ritmos da lua, e é eclipsada. Porque a lua é a sombra do sol, e com o corpo corruptíveis é consumida; e, por meio da destruição da lua, o leão é eclipsado com auxílio da umidade de mercúrio; o eclipse não obstante, é transmutado tomando-se útil e de melhor natureza, e ainda mais perfeito do que o primeiro.
 
Em vários graus da Maçonaria o crânio é uma peça importante tanto na representação do grau como na ornamentação do templo para o ritual do grau. Pois bem, na alquimia o crânio como momento mori é um emblema da operação da mortificatio. Ele produz reflexões a respeito da mortalidade pessoal de cada um e serve como pedra de toque para os valores falsos e verdadeiros. Refletir sobre a morte pode nos levar a encarar a vida sob perspectiva da eternidade e, desse modo, a negra cabeça da morte pode transformar-se em ouro. Com efeito, a origem e o crescimento da consciência parecem estar vinculados de maneira peculiar à experiência da morte. Talvez o primeiro par de opostos a penetrar na consciência em vias de despertar dos seres humanos primitivos tenha sido o contraste entre o vivo e o morto. E provável que somente a criatura mortal seja capaz de ter consciência. Nossa mortalidade é nossa fraqueza mais importante e derradeira. E essa fraqueza, segundo C. G. Jung, foi o elemento que colocou Jó em vantagem diante de IAHWEH.
 
Esta palavra é muito significativa em alguns graus da Escola Filosófica da Maçonaria (REAA). IAHWEH é o nome da Divindade expressa no Antigo Testamento do Livro Sagrado. Para o alquimista IAHWEH redime e purifica pelo fogo sagrado, daqueles que passaram pela calcinatio: "Não temas, porque eu te resgatei, eu te chamei pelo teu nome, és meu. Quando passares pelo mar, estarei contigo; quando passares pelos rios eles não te submergirão. Quando passares pelo fogo, a chama não te atingirá e não te queimarás. Pois eu sou IAHWEH, teu Deus, o Santo de Israel, teu Salvador.
O Juízo final pelo fogo corresponde à provação pelo que testa a pureza dos metais e lhes retira todas as impurezas. Há inúmeras passagens do Antigo Testamento que usam metáforas para descrever os testes que IAHWEH submete seu povo eleito. Por exemplo, IAHWEH diz: "Voltarei minha mão contra ti, purificarei as tuas escórias no cadinho, removerei todas as impurezas." (Isa., 1:24,25)
 
"E eis que te pus na fogueira como a prata, testando-te no cadinho da aflição. Por causa de mim mesmo e só por mim mesmo, agi - deveria meu nome ser profanado? Jamais darei minha glória a outro." (Isa.,48;10,11)
 
"Eu os levarei ao fogo, e os purificarei como se purifica a prata, e os testarei como se testa o ouro. Eles invocarão meu nome e eu escutarei, respondendo: Eis o meu povo; e todos dirão IAHWEH é meu Deus.” (Zacarias 13:9)
 
O fogo purifica e santifica a matéria bruta e corrompida, os maçons e alquimistas sabem disso, no entanto, o fogo da Senda Sinistra mata e regride a evolução que o ser procura na sua existência. Este fogo nada mais é do que a luxúria, a inveja e ira. Nesta categoria temos a ira que moveu Nabucodonosor, ao destruir o Templo de Salomão. Ele personifica o motivo do poder, a autoridade arbitrária do ego inflamado, que passa pela calcinatio quando suas pretensões irresistíveis são frustradas pela presença da autoridade transpessoal. Nabucodonosor corresponde ao rei alquímico, que serve de alimento ao lobo e depois é calcinado
 
Conclusão:
A Maçonaria e os maçons com as suas alegorias de construção, como ferramentas: trolha, esquadro, compasso, régua, maço, cinzel; materiais como tríplice argamassa, de forma alguma querem dar a entender que queiram construir algum prédio material - quando assim o querem contratam uma firma especializada - mas sim a construção de um Templo Espiritual à Divindade Maior, o Grande Arquiteto do Universo. É a procura do auto-conhecimento para purificar o ente de cada obreiro, e a partir daí construir a morada do Espírito Santo como falam os cristãos. Essa construção maçônica percorre vários patamares (Escada de Jacó) e à medida que o maçom vai galgando os seus degraus (os graus maçônicos) ele tem um compromisso com a Lei do Karma de estar mais santificado que no patamar anterior. Da mesma forma o alquimista no seu trabalho de manipulação das substâncias não quer dizer que ele queira conseguir ouro material. Alquimia é a ciência pela qual as coisas podem não ser decompostas e recompostas (como se faz em química), mas também sua natureza essencial pode ser transformada e elevada ao mais alto grau ou ser transmutada em outra.
 
A química trata apenas da matéria morta, enquanto a Alquimia emprega a vida como fator. Todas as coisas têm natureza tríplice, da qual sua forma material e objetiva é sua manifestação inferior. Assim é que, por exemplo, há ouro espiritual, imaterial; ouro astral etéreo, fluído e invisível, e ouro terrestre, sólido, material e visível. Os dois primeiros são, digamos assim, o espírito e a alma do último e, empregando os poderes espirituais da alma, podemos produzir mudanças nele, a fim de que se, tornem visíveis no estado objetivo.
 
Certas manifestações exteriores podem ajudar aos poderes da alma em sua operação. Porém, sem os segundos, as manipulações serão totalmente inúteis. Portanto, os procedimentos alquímicos podem ser utilizados com êxito unicamente por aquele que é o alquimista nato ou por educação. Sendo todas as coisas de natureza tríplice, a Alquimia também apresenta um aspecto triplo. No aspecto superior, ensina a regeneração do homem espiritual, a purificação da mente e da vontade, o enobrecimento de todas as faculdades anímicas. No aspecto mais inferior trata das substâncias físicas e, abandonando o reino da alma viva e desvenda matéria morta. Termina na química de nossos dias. A Alquimia é um exercício do poder mágico da livre vontade espiritual do homem e, por esta razão, pode ser praticada apenas por aqueles que renascem espiritualmente.
 
Por último, passarei a palavra final aos alquimistas, ao citar, in toto, seu texto mais sagrado. A Tábua da Esmeralda de Hermes. Via-se esse texto “como uma espécie de revelação sobrenatural aos filhos de Hermes, feita pelo patrono e sua Divina Arte”. De acordo com a lenda, a tábua da Esmeralda foi encontrada no túmulo de Hermes Trismegistus,  por Alexandre o Grande, ou, em outra versão, por Sara, a esposa de Abraão. A princípio, só se conhecia o texto em latim, mas, em 1923, Holmyard descobriu uma versão árabe. É provável que um texto anterior tenha sido escrito em grego e, segundo Jung tinha origem alexandrina. Os alquimistas o tratavam com veneração ímpar, gravando suas afirmativas nas paredes do laboratório e citando-o constantemente em seus trabalhos. Trata-se do epítome críptico da opus alquímica, uma receita para segunda criação do mundo, o unus mundus
 



 A TÁBUA DA ESMERALDA DE HERMES
 1. Verdadeiro, sem enganos, certo e digníssimo de crédito.
2. Aquilo que está embaixo é igual àquilo que está em cima, e àquilo que está em cima é igual àquilo que está em baixo, para realizar os milagres de uma só coisa.
3. E, assim como todas as coisas se originam de uma só, pela mediação dessa coisa, assim também todas as coisas vieram dessa coisa, por meio da adaptação.
4. Seu pai é o sol; sua mãe, a lua; o vento a carregou em seu ventre; sua ama é a terra.
5. Eis o pai de tudo, a complementação de todo o mundo.
6. Sua força é completa se for voltada para dentro (ou na direção) da terra.
7. Separa a terra do fogo, o sutil do denso, com delicadeza e com grande ingenuidade.
 8. Ela ascendeu da terra para o céu, e desce outra vez para a terra, e recebe o poder do que está em cima e do que está embaixo. E, assim, terás a glória de todo o mundo. Desse modo, toda a treva fugirá de ti.
 9. Eis o forte poder da força absoluta; porque ela vence toda coisa sutil e penetra todo sólido.
10. E assim o mundo foi criado.
11. Daqui as prodigiosas adaptações, à feição das quais ela é.
12. E assim sou chamado HERMES TRISMEGISTUS, tendo as três partes da filosofia de todo o mundo.
13. Aquilo que eu disse acerca da operação do sol está terminado.
BIBLIOGRAFIA
 
1)       Blavatsky, Helena P. Glossário Teosófico. São Paulo: Global Editora e Distribuidora
2)       Edinger, Edward F. Anatomia da Psique: O Simbolismo Alquímico da Psicoterapia
3)       Figueiredo, Joaquim Gervásio de Dicionário de Maçonaria. São paulo: Pensamento/1987
4)       Rituais do Grande Oriente do Brasil e do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito ( R.·.E.·.A.·.A.·.).