O TARÔ EGÍPCIO ROSACRUZ DE 1933
Por Marco Guimarães Jr.
A imagem acima é
um trecho da revista rosacruz norte-americana Rosicrucian Digest, nº1 de
2007, páginas 44-46 editada pela Ordem Rosacruz, AMORC nos E.U.A., que pode
ser lida clicando aqui. Ainda nesta
mesma revista há a seguinte apresentação:
"Em 1933, H. Spencer Lewis, Imperator da Ordem
Rosacruz, AMORC, de 1915 a 1939, publicou estas vinte e duas cartas dos Arcanos
Maiores do Tarô como parte da série "Cabala Desvendada", pelo
"Frater Aquarius, Escriba". Há muito indisponível, elas proporcionam
uma mistura do tema tradicional do tarô com o simbolismo egípcio."
Muitos estudantes
rosacruzes e martinistas ficaram curiosos sobre o Tarô da AMORC ou ainda Tarô
Rosacruz, como está sendo chamado e onde poderiam ter mais informações a
respeito. O Tarô é um assunto que muitos estudantes se interessam, apesar de
não ser abordado dentro de sistema de estudo rosacruz ou martinista, muitos de
nossos mestres martinistas do passados como Eliphas Lévi e Papus
elevaram o estudo do tarô como ferramenta de autoconhecimento, sendo assim
tratada por nossos estudantes rosacruzes e martinistas, de forma simbólica.
Sobre o Tarô
Cabe esclarecer previamente
que a origem do tarô é incerta, não podendo afirmar que seja egípcio ou não. O
responsável por dar a suposta origem egípcia ao tarô foi o pastor e ocultista Antoine Court de Gebelin em 1775, que
dizia ter descoberto a origem do tarô quando se consultava com uma cartomante,
nela teria visto hieróglifos egípcios. A origem do tarô ainda é desconhecida,
mas as primeiras cartas conhecidas foram datadas em 1369, sendo chamado por ludus cartarum.
Se por um lado não
podemos comprovar sua origem, por outro se dá o mesmo em definir
arbitrariamente sua origem egípcia. Só em 1490 aproximadamente começou a ser
chamado por tarocco (Itália) e na
França por tarot, palavra essa de
etimologia desconhecida, como afirma o brasileiro Nei Naiff.
Sabe-se que a
estrutura básica do tarô clássico é a composta por 78 arcanos sendo 22 arcanos
maiores e 56 menores, esses divididos em quatro naipes contendo cada quadro figuras
e dez sequencias numeradas.
Cerimônia Rosacruz em Luxor de 14 de fevereiro de 1929
Nessa
data os Rosacruzes de jurisdição de língua inglesa para os EUA, fariam uma viagem turística ao Egito e também, participariam de uma cerimônia de iniciação ao 4º Grau da Ordem, que entre vários percalços acabou acontecendo.
Essa
viagem foi publicada passo a passo e em detalhes na revista The Mystical Triangle, agosto de 1929 (imagem ao lado). De
acordo com o então Imperator Harvey S. Lewis, todos aqueles presentes à esta
Iniciação posteriormente receberiam uma série de monografias extras sobre
cabala, além de serem considerados membros da simbólica Loja R+C Amenhotep de Luxor, enviando um certificado como forma de
lembrança da cerimônia ocorrida naquele dia no vale do Nilo.
Posteriormente
Ralph M. Lewis enviaria esse certificado a todo membro que atingisse o 4º Grau
de Templo dos estudos Rosacruzes, relembrando simbolicamente assim aquela
cerimônia. Em San José, Califórnia então sede da Suprema Grande Loja da AMORC,
em 1935 foi construído o “Memorial de
Amenhotep IV” comemorativo dessa mesma viagem ao Egito.
A
nova série de monografias enviadas em paralelo aos membros do 4ºGrau de Templo foi chamada
de “Kabbalah
Unveiled by Frater Aquarius”.
No Brasil era enviada apenas em espanhol com título “Cabala Sin Velos” pelo
Frater Aquarius”. Como veremos adiante após alguns anos o “Cabala
Desvendada do Frater Aquarius” foi substituída por outra de mesmo nome, porém
assinada pelo Frater Temporator,
significativas alterações foram feitas e é essa versão que nos chega até hoje.
Essa viagem foi publicada passo a passo e em detalhes na revista The Mystical Triangle, agosto de 1929 (imagem ao lado). De acordo com o então Imperator Harvey S. Lewis, todos aqueles presentes à esta Iniciação posteriormente receberiam uma série de monografias extras sobre cabala, além de serem considerados membros da simbólica Loja R+C Amenhotep de Luxor, enviando um certificado como forma de lembrança da cerimônia ocorrida naquele dia no vale do Nilo.
Aquarius x Temporator
A revista Rosicrucian Digest apenas apresenta os 22
arcanos maiores do tarô, mas não dá maiores informações de sua origem, quem o
desenvolveu ou como seria utilizado. Sabe-se pela revista, que faria parte da
indisponível série de monografias chamada Cabala
Desvendada pelo Frater Aquarius, Escriba. Não descobrimos, entretanto, quem
seria o Frater Aquarius Escriba.
Houveram
duas séries distintas das monografias intituladas A Cabala Desvendada, a primeira, mas antiga pelo Frater
Aquarius Escriba de aproximadamente 1930 e a segunda e atual pelo Frater
Temporator Escriba.
Iniciando
pela mais recente do Frater Temporator, vemos que essa publicação originalmente
enviada em formato de monografias, composta de 22 discursos privativos em forma
de monografias, divididas em duas séries (A e B) enviadas aos membros da Ordem
entre as décadas de 60 a 80, atualmente é editada e a disposição dos membros em
formato de livro, inclusive em língua portuguesa.
Nessa publicação do
Frater Temporator temos noções
elementares, mas importantes sobre a Cabala baseadas no Livro do Esplendor ou Zohar
assim como no Livro da Criação ou Sepher Yezirah, muito utilizado pelos
estudantes rosacruzes-martinistas. As referências sobre o tarô aparecem somente
no capítulo 18 em tom de alerta, e com muitas reservas quanto ao estudo da
Cabala baseados no tarô.
Não há estudo da simbologia dos arcanos, nem técnicas
para a taromancia oracular nem qualquer forma de estudo, quer seja específico
quer seja referencial com a cabala.
Imagem do La Cabala Sin Velos Frater Aquarius
Imagem do La Cabala Sin Velos Frater Aquarius
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Já
a série do Frater Aquarius Escriba -
mais antiga que a do Frater Temporator – atenta longamente ao estudo da
simbologia universal dos arcanos maiores, traçando comparativos entre as linhas
de estudos do tarô de A.E. Waite
(inglesa), de Papus (francesa),
a do Conde C. de Saint-Germain (Egípcio)
e pôr fim a explicação Rosacruz
do número do arcano. Da mesma forma alerta
quanto às correlações feitas entre a cabala, letras hebraicas, caminhos da
árvore da vida e o tarô, afirmando que não há consenso quanto às correlações
corretas e que, diversos autores da época, tanto da linha francesa quanto da
linha inglesa do estudo de tarô, não chegam a um denominador comum dessas
relações. Entretanto não há qualquer forma ou técnica para o jogo do tarô em si
para adivinhação ou previsão. O estudo é totalmente focado no simbolismo e
autoconhecimento. Da mesma forma esse estudo não conferia ao estudante qualquer
autoridade no assunto sendo a experiência mística advinda do estudo da cabala o
objetivo central.
Qual a origem então do Tarô Egípcio Rosacruz de 1933?
No Cabala Sin Velos do Frater Aquarius, Escriba
no discurso número 4 dessa série verificamos o plano de interpretações que o
Frater em questão propôs para o estudo do simbolismo dos arcanos:
“O
plano do autor é estabelecer primeiro, o pensamento da escola francesa da
Cabala e para este fim citamos Papus, a maior autoridade
francesa. A segunda análise é da escola inglesa encabeçada por Waite. A terceira interpretação é a do Saint Germain (...). A quarta parte de cada monografia
é a moderna interpretação Rosacruz (...)”.
Assim já conseguimos
começar a desvendar a base desses discursos sobre cabala e mais ainda traçar
origem do Tarô Rosacruz, pois há menção de três fontes que o compõe: Papus, A.E.Waite e Saint-Germain. Os
dois primeiros autores vamos dispensar nossa atenção devido ao fato de serem
amplamente conhecidos, assim como seus livros e toda sua bibliografia. Vamos
focar na terceira fonte: Saint-Germain.
O Conde de Saint-Germain, Mestre de
tradições esotéricas também muito conhecido pela sua eterna juventude e vida
misteriosa, ao pesquisar a fundo sua obra não encontramos qualquer estudo sobre
Tarô. O Conde de Saint-Germain citado nos discursos do Frater Aquarius era nada
menos que Edgar Vancourt que, em 1901 sob pseudônimo “Comte C. de
Saint-Germain” escreveu o livro Practical Astrology, A Simple Method of Casting Horoscopes, em
livre tradução seria “Astrologia Prática, Um Simples Método para Traçar
Horóscopos.
Ao confrontar as
descrições dos arcanos descritos no Practical
Astrology e o Cabala Sin Velos do
Frater Aquarius, constatamos serem idênticas, integralmente. Nas imagens abaixo
vemos um trecho do discurso nº 9 do Cabala
Sin Velos do Frater Aquarius e a sua direita as páginas 194 e 195 do Practical Astrology, ambas descrevendo o
simbolismo do Arcano nº5 ou Sumo Sacerdote:
Portanto
concluímos que nosso Frater Aquarius tomou como base esse livro de Edgar
Vancourt, Practical Astrology de 1901 para ajudar a compor juntamente com
escritos de Papus e Waite, seu Cabala Sin Velos ou em português Cabala
Desvendada.


V. Tarô de Falconnier, 1896 VI. Tarô do "Saint-Germain", 1901 VII.Tarô Rosacruz, 1933
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Ainda
em seu livro Edgar Vancourt ou Comte C. de Saint-Germain, seu pseudônimo,
mostra os arcanos maiores e menores, como visto na imagem acima. Por outro
lado, não cita a fonte ou qual seria o tarô por ele usado. O estudante mais
atento verificará que o Tarô Rosacruz de 1933 está muito similar ao de
Saint-Germain de 1901 e esse por fim, idêntico ao Tarô de Falconnier. O Senhor
R. Falconnier publicou em 1896 seu
livro “Les XXII Lames Hermètiques du
Tarot Divinatoire” ou em livre tradução “As
22 Lâminas Herméticas do Tarô Divinatório”.
Nessa época o
Egito exercia forte influência no imaginário esotérico dentro de quase todas as
ciências ditas ocultas e escolas místicas, o tarô foi uma delas.
O livro de
Falconnier relata uma possível origem egípcia, além de exposição simbólica de
todos os 22 arcanos do tarô. Reparamos que o Edgar Vancourt ou Comte C. de
Saint-Germain tomou por base quase integralmente não apenas as lâminas, mas
também o significado das lâminas de Falconnier para fazer seu Practical
Astrology.
Assim o ”Rosicrucian
Egyptian Tarot", nada mais é que o tarô de Falconnier de 1896, e que
esse chegou ao nosso Frater Aquarius através do livro Practical Astrology do
Edgar Vancourt, vulgo Conde C. de Saint-Germain. Excelentes fontes para estudo
simbólico.