O mês de maio é conhecido como “mês de Maria”. Maria, Mãe, Mare, Nossa Senhora, Maria Coluna do Templo, Sophia, a Deusa Mãe dos Celtas, a Cibele entre os Romanos, Ísis dos Egípcios, Maria a Mulher do Apocalipse coroada com as 12 estrelas e tendo a Lua sob os seus pés.
Mas, o que Ela representa para os Cavaleiros de todos os tempos?
O culto Marial, do qual São Bernardo foi um dos principais iniciadores, desabrochou no século XII, no mundo cristão. Sem dúvida, o culto de Nossa Senhora associa-se ao culto da Senhora reverenciada nas canções dos trovadores. O “amor cortês” elevava o Cavaleiro, pois fazia nascer em seu interior a chama do Amor Espiritual – Ágape – que nunca se esgota.
O culto da Senhora é de elevado alcance iniciático e cavaleiresco. A Virgem Mãe, a Iniciadora, a papisa do Tarot, são todas símbolos de realidades milenares e arquetipais. É o princípio negativo, o elemento terra associado ao elemento água, às correntes telúricas, à Natureza e à Criação em constante movimento, em constante gestação. O culto da Virgem é certamente mais antigo que o culto Crístico ou Solar. As antigas reminiscências do culto céltico na Bretanha e na Irlanda relatam o poder feminino. A mulher, a Rainha, tinha (e ainda tem) o poder temporal, porque o poder espiritual está sob o seu encargo. O maravilhoso mistério da cristandade e de toda Iniciação tradicional retirada das fontes da autenticidade está no desdobramento das duas correntes, na reconciliação das duas energias, masculina e feminina (o culto Crístico Solar e o culto Marial Lunar). Devemos refletir sobre a importância desta dupla figura na Iniciação Templária.
Para o monge-cavaleiro o dia iniciava (ou deveria ainda ser assim) com uma saudação à Dama de todas as Damas do seguinte modo:
“Em estreita comunhão com a corrente Templária do Templo de sempre, damos graças à Virgem Maria, Nossa Senhora por ser Ela Chefe de nossa Ordem, porque Nossa Senhora estando no início de nossa Ordem, Nela e em sua Honra estará, se for do agrado de Deus, o retorno de nossa Ordem em sua Verdade, em seu poder, sua Pureza, e o fim de nossa Ordem quando assim for do agrado de Deus. Amém.”
O fim do dia terminava com a “Mãe da Misericórdia, a Rainha, nossa Vida, nossa Doçura, nossa Esperança na Terra comparada ao vale de lágrimas”. E muitos ainda assim o fazem hoje.
Vemos na Tradição a importância deste Ser feminino. Maria reconciliadora dos elementos, Maria divina Alquimista, Maria de Cem Faces, Nossa Senhora de Sob a Terra de Chartres, Virgem Negra de Rocamadour, Virgem Negra de Vezelay (França), ou seja, todas as Virgens negras, a saber: Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora de Mont Serrat na Espanha; a Virgem Negra Nossa Senhora de Aparecida no Brasil; a Virgem Negra de Einsiedein na Suíça.
No signo zodiacal de Virgem que corresponde ao nono mês do ano (setembro), Maria é o símbolo da fecundidade e da maternidade. É aquela que dá a vida e que canaliza as correntes telúricas. Em todos os espaços consagrados as energias da Mãe Terra podem ser estudadas e canalizadas de acordo com o conhecimento tradicional dos antigos, a fim de se conseguir a melhor harmonia possível nos trabalhos. Às vezes é representada com as mãos voltadas para a terra perto de uma fonte, tal como os Druidas veneravam as deusas do poço (poço que devia dar passagem ao centro da Terra, à Iniciação interior, ao princípio de todas as coisas).
Não se trata apenas de uma imagem de devoção. A ideia que Deus ou que todo Avatar possa ter nascido de uma Virgem – “e o Verbo fez-se carne e habitou entre nós” – não é nova. Assim, Ísis concebe e dá a luz a Hórus, e antes dela a Deusa-Mãe Hator representava a Mãe no seio da qual Hórus, “o Sol”, encerrava-se toda tarde para renascer toda manhã. Em muitos lugares a saudação à Maria confunde-se com a saudação a terra. Antigamente o Cavaleiro beijava o solo três vezes e voltava-se para o norte, invernal e feminino. O norte é outra denominação para a Estrela do Mar, também chamada Vênus, planeta do amor. Para o Cavaleiro Templário, o monge-soldado que pronunciou os três votos dos monges: pobreza, castidade e obediência, Nossa Senhora é o ideal feminino personificado, a Dama a ser conquistada. Assim como na carta seis do Tarô, os Enamorados, o Cavaleiro terá que escolher entre os dois caminhos a seguir na bifurcação que se lhe apresenta à frente, ou seja, entre a Dama/espiritualidade e a mulher da carne/matéria.
Foi para homenagear Nossa Senhora que a Idade Média construiu muitas das Catedrais. É a Ela que o Cavaleiro pede proteção antes de ir ao combate, dedicando a sua vida, o seu coração e o seu corpo. Para os aspirantes a Cavaleiros, é Ela que mostra a Via Sagrada, sendo a “Porta do Céu” e a Iniciadora. Também é a “Fonte de Vida e de Luz”. É a “Pedra Negra” de nossa transformação alquímica. Maria recebeu a Sophia, a Grande Mãe, e tornou-se Serva direta da Divindade na qualidade de Imaculada Conceição, o “Vas Spirituale”, a Matéria encarnando o Espírito resultando na Matéria Vivente.
Nas horas sombrias da dura batalha, quando as dificuldades chegavam aos corações dos Cavaleiros, lembrava-se da Sua presença irradiante, eterna fonte de Vida e de Luz, de Consolação e de Compaixão. Sempre perto das fontes naturais de água, Sua força era saudada pelos Monges-Guerreiros com reverência e paz profunda.
*Adílio Jorge Marques é professor de Física e História da Ciência da rede pública e particular de ensino do Rio de Janeiro. Pesquisador em História da Ciência luso-brasileira e história das Tradições.
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