domingo, 29 de abril de 2012



A Venerável Figura do Mestre Cedaior
(Compilação organizada por Thoth, 3º Patriarca da Igreja Expectante,
a partir de biografia elaborada pelo 2º Patriarca, Sri Sevãnanda Swami,
na obra “O Mestre Philippe, de Lyon”, Volume II, páginas 139 a 151,
e publicada em La Iniciación, revista mensal do
Grupo Independente de Estudos Esotéricos, editada em Buenos Aires, Argentina,
numa série de sete artigos, com início em março de 1943.)

Meus queridos discípulos e amigos: vou propor-me a uma tarefa que reputo difícil e árdua. Entretanto, movido pelo amor e veneração, procurarei compilar dados o máximo possível para trazer à luz do conhecimento público os fatos da vida do Mestre Cedaior.
A pretensão de executar este artigo é devido a este mês de agosto, dia 17, a Igreja Expectante completar 59 anos de existência.
Como não poderia deixar de ser vamos homenagear seu fundador e primeiro Patriarca relatando fatos e flagrantes de sua vida pessoal, numa rústica biografia pela qual de antemão peço as devidas escusas sem, no entanto, deixar de fazer o máximo esforço possível para atingir o objetivo. Segue um excerto do texto do Mestre Sevãnanda...

Em 1º de setembro de 1872, nascia em Valence (Departamento de Drôme, sul da França), não longe de Lyon, na casa que fora outrora do lendário Cavalheiro Bayard (le chevalier sans peur et sans reproche), e filho de Marie Delmas e de Eloy Cotet ou Costet, visconde de Mascheville (e mais outros títulos como: du Peuch, de la Chèvrerie, de Benhayes, etc., nessa família aparentada com os de Livron, de Taillfer, de Segur, de Narbonne, de Rastignac e outros). O nome “Cotet” vem, aliás, de um antepassado árabe: Abbon Cat, enobrecido, lá pelo ano 700, por motivos que meu pai e Mestre me contava, na minha infância, revolvendo velhos pergaminhos e brasões – junto com a do nosso antepassado que fora buscar na Inglaterra o Rei João-sem-Terra – quando o Príncipe Negro o liberou... De Cat: Cati, Coti, Cote, Cotet, etc.

 O menino assim nascido chamou-se Albert Raymond. Não foi uma criança vulgar: aos 5 anos, certo dia em que a mãe ralhava com ele, reagiu exigindo “mais consideração que lhe era devida, desde aquele dia em que ela, mãe, o jogara nervosamente sobre a cama, quando ainda estava enfaixado e impossibilitado de se ‘defender’ na queda”. Já vimos que essa prodigiosa memória-consciência da meninice é típica dos que “não perdem a consciência” facilmente!
 Era o mais velho dos filhos de um celta e de uma latina. O segundo, Daniel, de grande talento como pintor, faleceu relativamente jovem.
 Com esses dados vamos primeiro tratar da vida, do homem, o que nos dará a compreensão da vida do Mestre, ou melhor: o preço que o HOMEM teve que pagar para poder trabalhar como INICIADO.

 No seu lar paterno, em plena infância, passa pela oposição na sua precoce vocação musical, onde muitos meninos desistiam mediante tamanha dificuldade. Porém, o Mestre Cedaior mostra já a sua força de vontade e obtém, aos 9 anos de idade, as lições gratuitas do célebre violinista francês Charles Dancla, cujos métodos são de fama mundial. Revela em sua puberdade uma grande virtuosidade e, sobretudo, uma sonoridade e grande expressão interpretativa que permaneceriam para sempre como suas características de violinista.
 Aos 13 anos de idade consegue “arrastar” seus pais a Lyon para obter, por recomendação de Charles Dancla, apoio para ingressar no Conservatório de Paris. Antes de partir de sua terra natal – a Valência francesa, que não fica longe de Lyon – ele tinha um amigo, mais velho que ele e que contava pouco mais de 13 anos.
 Eu não me lembro, mas meu Mestre me assegurou, reiteradamente, que esse amigo dele, jovem químico chamado L. B. morreu lá pouco antes de o jovem Albert viajar e que esse amigo... sou eu...
 E nessa idade, já lá em cima, as forças superiores começam a intensificar o trabalho para o seu desenvolvimento espiritual, pois foi nessa famosa passagem por Lyon que ele conheceu o Muito Excelso Mestre Amo Philippe.
 Cedaior consegue, pois, antes dos 15 anos, ser enviado a sós a Paris. E na Cidade Luz não se deixou levar pelo superficial e pelo frívolo.
 Para desespero de seus professores, toca nas noites, em orquestras de segunda categoria, a fim de ganhar o necessário para a sua subsistência. Leva essa vida durante alguns anos, até que obtém o primeiro prêmio do Conservatório de Paris e ganha logo, por concurso, a nomeação de professor do Conservatório de Nancy, posto que não assume.
 Em 1890, aos 18 anos, já se interessa profundamente pelos assuntos místicos e passa a dividir o seu tempo entre eles e sua atividade artística, que cresce, pois já dá alguns concertos em teatros conhecidos de Paris, como o Trocadero, no qual debuta brilhantemente.
 Em 1891 inicia voluntariamente o serviço militar, que se estenderia por quatro anos. Isso por razões econômicas e para poder arranjar colocação melhor em Paris. Relaciona-se nesta época com pessoas que influirão sobre sua carreira iniciática.
 Já em 1895 vamos encontrá-lo no Egito, em missão oficial do governo francês, fazendo oficialmente estudos sobre os instrumentos de acústica das civilizações antigas. E ali também estava em missão especial das Ordens Martinista e Rosa+Cruz Kabalística.
 Perto do ano de 1900 aumenta a sua atividade material, realiza várias invenções relacionadas com a música: surdina para violino, metrônomos, etc. E consegue sucessivamente elevados postos, chegando a tocar nos grandes concertos de Colonne, Lamoureux e, finalmente, na Ópera Cômica de Paris. Foi também uma época em que teve uma grande atividade Maçônica, Martinista e Kabalística.
 Em 1906 vamos encontrá-lo com uma casa editora de música e de aluguel e venda de pianos. Era membro da Sociedade de Autores de Paris, assim como sua esposa, brilhante pianista e compositora com a qual se casara anos antes e de cuja união nasceu, em 1901, seu primeiro filho, Visconde Léo Alvarez Costet de Mascheville, o querido Sri Sevãnanda Swami.
 Em 1910, desgostoso com a vida européia e os ódios raciais que já se manifestavam, embarca para a República Argentina, onde se faz conhecer como concertista e maestro. Funda conservatórios em Buenos Aires, Olivos e San Isidro, com sua companheira, e o casal chega a estabelecer rapidamente uma boa base material de vida.
 Porém, em 1914, pouco antes do nascimento do seu segundo filho, o INICIADO começa a cativar cada vez mais o HOMEM e a situação material de Cedaior sofre as conseqüências do desprendimento assim motivado. E, ao toque do clarim, tudo confiou ao Criador: esposa, filhos, lugar... Porque acreditou no Dever e no Sacrifício... E em linda visão deparou com maravilhoso Ser, daqueles que mui respeitosamente chamamos Mestre, que, dirigindo-se a ele disse: “Cedaior, teu dever aqui está, e não lá (referindo-se à Europa). O teu lema deve ser: AMOR e SACRIFÍCIO em teu nome. Tudo o que é passado não virá mais a ti”. Era 1915 e desde então passa a receber e ensinar a Nova Doutrina.
 Fazendo já quatro anos que dava Instruções, ensinamentos da Luminosa Lei de Vayu, que procura ativar o conhecimento da Reencarnação, e atravessando uma fase de grandes atividades e de estudos ocultos, publicou a sua famosa obra “Libro de las Leyes de Vayu” e em 17 de agosto deste ano de 1919 fundou, junto com um grupo de Discípulos seus, a IGREJA EXPECTANTE, a qual ficou registrada no referido livro.
 Desfazendo-se do seu primitivo lugar, se lança sozinho a explorar região que o atraía: a Cordilheira dos Andes.
 Em 1921 o vemos chegar a Mendoza, onde viverá modestamente de lições de francês e de música até 1924, data em que uma nova missão oculta o leva ao Brasil.
 No Brasil começará o que se poderia chamar de a segunda fase da vida do Homem e do Mestre. Faz várias tentativas, que examinaremos detidamente mais tarde, de fundar colônias naturistas e “olímpicas” (isto é, sobre a base explicada em seu livro). Todas, por diversas razões, fracassam, e sempre é o mestre um dos que mais sofrem, material e moralmente, as conseqüências. Assim transcorre a vida de Cedaior, primeiro em Santa Catarina, depois no Paraná – onde conhece sua segunda companheira, futura mãe dos cinco filhos do seu segundo matrimônio – depois em Goiás, novamente no Paraná e finalmente no Rio Grande do Sul, onde passará os dez últimos anos de sua vida, com exceção de três, passados em São Paulo, no meio de lutas de toda espécie.
 Tempos antes de sua desencarnação, já a espera e a anuncia aos que o rodeiam. Declara uns dias antes de sua morte, ainda com boa saúde: “terminei o que tinha que fazer por esta vez; vou dar uma olhadinha lá em cima e voltarei logo para continuar”.
 No dia 12 dá suas instruções para depois de sua partida. No dia 14 aparecem os primeiros sintomas. Instala-se uma congestão pulmonar e segue a uremia. O seu tema natal “morrerás só e abandonado, longe dos teus” cumpria-se, pois, não obstante o carinho de sua segunda esposa e dos filhos desse matrimônio, bem como de certos de seus Discípulos, ele ficou “largado” nos corredores da Santa Casa, transportado pela delicadeza do Dr. Antônio Pereira Júnior à casa de saúde do mesmo, onde, por curioso conjunto de circunstâncias, expirou sem nenhum dos seus junto a ele. Que bela morte, sossegada e tranqüila!
 O Venerável Mestre Cedaior passa suavemente ao outro plano às 16h55 do dia 22 de janeiro do ano de 1943 e uma forte chuva vem confirmar, na hora da entrega de seus despojos à terra, suas palavras de dias antes, de que “tinha que mexer um pouco em cima para interromper a seca”.
 Vimos assim, sumariamente, a vida social e material do HOMEM. Veremos mais tarde a atividade do MESTRE, sobre cuja tumba ressoou, carinhosamente, a voz dos representantes da Loja Maçônica Moreira Guimarães do Centro Vivekananda; da Irmã Hipathia, representando o Soberano Delegado Geral da Ordem Martinista e sobre a qual se estendeu a mão amiga dos Veneráveis Mestres em seus primeiros passos iniciáticos desta encarnação e aos quais sempre SERVIU o melhor que pôde e ao preço de qualquer SACRIFÍCIO: Amo Philippe – Papus – Vayusattwa – Sédir.
PARTE II

No número anterior do nosso jornalzinho fiz referência panorâmica à vida do homem, à vida material e social daquele que como Mestre e irmão conhecemos como “Mestre Cedaior”. Iniciarei neste artigo a história de sua vida iniciática.
 Já lhes disse que quando Cedaior era ainda menino, aos 13 anos de idade, havia entrado pela primeira vez em contato com o MEM Amo Philippe. Efetivamente, um senhor, amigo da família de Cedaior, o levou à presença do Mestre Amo por haver achado algumas particularidades no menino. O Mestre Amo lhe olhou demoradamente, seguramente com a vista interna sobre o todo, e resumindo sua impressão com um sorriso perguntou ao menino: “Diga-me, pequeno, te agradaria ser útil em ajudar uma senhora que sofre de um terrível martírio?”.
 O menino Cedaior não vacilou em responder com a afirmativa. Então o MEM lhe colocou a mão sobre a cabeça por alguns instantes e disse: “Diariamente o senhor que te trouxe até aqui te levará até o hospital no qual se acha a dita senhora, QUE TEM UM GRAVE CÂNCER NO SEIO. Tu colocarás as tuas pequenas mãos sobre o mal DURANTE UMA HORA, desejarás que se cure e pedirás a JESUS”.
 Com perseverante alegria o menino Cedaior fez durante dez dias o que o Mestre mandara e, ao término dos dez dias, a senhora saía do hospital completamente curada. Que misterioso laço se estabeleceu entre o Espírito do Plano Crístico, o MEM, a vitalidade e o bom coração do menino Cedaior e a enferma assim curada?... A meditação lhes dirá se é que já não lhes disse sem nada dizer.
 Profunda impressão deixou no menino Cedaior o fato referido. E, ao chegar a Paris para estudar no Conservatório, como já foi dito, seus pensamentos e sua leitura eram de uma seriedade pouco comum em pessoa de tão pouca idade, e dedicava-se a temas místicos e iniciáticos.
 Aos 18 anos de idade cria uma “Sociedade Secreta” com alguns companheiros, na qual celebram ritos que eram uma síntese de adaptação dos mistérios egípcios e outros, visando especialmente à obtenção de estados de transe voluntário e consciente. Graves juramentos obrigavam os componentes. E um punhal de ondulada folha e cabo de marfim gravado com hieróglifos era, ao mesmo tempo, objeto de reconhecimento e de lembrança sobre o silêncio aceito.
 Vários membros da sociedade chegaram a resultados curiosos. O próprio Cedaior já chamava a atenção de seus companheiros pela facilidade com que conseguia pôr-se em catalepsia por um período de tempo pré-fixado e sempre exatamente verificado, contando, no seu “regresso” ou despertar, tudo o que havia feito e visto, havendo muitos fatos que foram verificados como exatas visões à distância, do presente e do passado, e alguns até como previsões (pré-visões) de fatos ainda não acontecidos e que se realizaram tal como os descrevia o iniciado Cedaior.
 Foi nessa época que visões e comunicações várias lhe anunciavam o nascimento de seus filhos. O primeiro devia ser reencarnação de um seu amigo de muito mais idade, químico e que efetivamente morreu quando Cedaior ainda não tinha seus 20 anos. O segundo devia ser retorno de um “Chela” brahmânico que tinha com Cedaior laços anteriores.
 Em 1892, sendo já militar (como oboé solista e subchefe da banda do seu regimento) Cedaior conheceu o sargento Montagne, que o colocou em contato com o Grupo Independente de Estudos Esotéricos no qual Cedaior conheceu Papus, Barlet, Sédir e outros Mestres da época, inclusive dois magnetizadores que se fizeram muito amigos de Cedaior e que foram também seus futuros companheiros no Martinismo, Raymond e Moutin.
 No mesmo 1892 Cedaior foi iniciado na Ordem Martinista pelo grande místico Sédir e recebeu os seguintes nomes: “Cedaior”, nome místico e simbólico, e o nome esotérico SDR/2-H (o que indica que foi ele o oitavo discípulo iniciado por Sédir).
 Em 1893 achamos Cedaior como iniciado Martinista e logo como S.I. (terceiro grau) e na função de Mestre de Cerimônias da Loja Martinista Mística “HERMANUBIS”, que se dedicava especialmente à Via Mística e, dentro dela, preferentemente a parte oriental da doutrina.
 É possível que isto tenha influenciado para “reavivar” o seu passado oriental (todos nós devemos ter um, Carolei!), pois que, durante certa época, os seus desdobramentos voluntários foram assistidos por Mestres do Tibet e de Allahabad, que até o levaram a prestar certos compromissos perante a chamada “Grande Loja Branca”, compromissos que lhe foram lembrados e exigidos mais tarde, como consta de seu “Libro de las Leyes de Vayu”.
 Entre tais mestres, um deles chegou a “materializar-se” (sem a intervenção de fenômenos mediúnicos, é claro) em Paris, e fazer “prova de fé”... como aquela na qual Cedaior recebeu ordem para apontar um revólver para o peito de sua jovem esposa... e atirar... ficando a bala tremendo no ar e caindo no chão, ante o espanto dos quatro ou cinco que, com Cedaior, compunham um grupo muito fechado.
 Embora não me seja possível fazer uma biografia “dia por dia”, devo citar aqui alguns fatos anedóticos que, para os que sabem, mostrarão que o então iniciado Cedaior tinha já sua Via bem traçada e que já havia sido permitido sabê-lo.
 Certa vez Cedaior disse a Papus que tinha a possibilidade de fazer uma pequena excursão pelo interior da França, pelos lados de Rouen. Então Papus, que provavelmente tinha “suas razões” para isso, lhe deu uma carta coberta de sinais especiais para que, com ela, se apresentasse a um determinado ADEPTO, naquela época Patriarca Gnóstico, que vivia na calma província francesa.
 Cedaior, jovem e solteiro ainda, não viu nenhum inconveniente em se fazer acompanhar em sua excursão por uma “amiguinha” que, por sinal, era pessoa mui curiosa, pois sua profissão era de “encantadora de serpentes”, com o que ganhava a vida em pequenos teatros.
 Quando chegaram à cidade do interior na qual vivia o ADEPTO, Cedaior deixou sua amiguinha com as serpentes e se dirigiu só para visitar o Mestre, não sabendo exatamente a quem ia encontrar, pois Papus não lhe deu maiores detalhes, deixando assim o ADEPTO com plena liberdade de falar ou calar, conforme o que VISSE em Cedaior.
 Perguntando pelo nome civil do ADEPTO, Chegou Cedaior no curtume no qual o dono, a pessoa indicada por Papus, o recebeu afavelmente e o fez visitar a indústria e, com grande surpresa de Cedaior, não disse uma só palavra de assuntos iniciáticos durante toda a manhã. Cedaior respeitou o silêncio, que podia ser uma prova. Perto do meio-dia o ancião anfitrião, de barba branca e imponente figura, disse a Cedaior: “Venha você almoçar comigo e assim poderemos conversar um pouco mais”.
 Efetivamente, ao chegar a sobremesa, o Venerável ancião começou a falar de simbolismo, de sua interpretação, da Luz Astral e, de repente disse, mui afavelmente a Cedaior: “Creio que você já sabe que em todos os tempos a ‘serpente’ representou a luz astral, a vida e... também as paixões ou, pelo menos, a parte sexual da vida...” É claro que ao jovem Cedaior tais palavras pareceram uma direta alusão a sua companheira e uma prova de vidência do Mestre, o qual seguiu dando a Cedaior formosas explicações sobre a Doutrina. Porém, no meio delas sempre se arranjava para deixar claro ao Iniciado Cedaior que todo o seu passado familiar, material, moral, espiritual, enfim, de toda espécie, era para ele como um livro aberto.
 No final de tal conversação Cedaior se sentia cheio de respeito pelo ADEPTO que de forma tão sutil lhe provava seus poderes e sua ampla tolerância para as debilidades humanas. Foi então quando o ADEPTO lhe disse ao despedir-se: “Você consagrará algum dia toda a sua atividade à Via Iniciática; irá a países de ultramar e ali terá sua missão mais efetiva e fecunda. Sangrará por seu caminho, porém os espinhos que lhe firam serão partes da planta que leva luminosas e fecundas rosas”.
 Regressou Cedaior a Paris, cheio de entusiasmo pelos Mestres aos quais o mesmo Papus, por modéstia, indubitavelmente, reverenciava tão humildemente, e seguiu os caminhos que haviam sido indicados.
 No Martinismo fez rápidos progressos, galgando a hierarquia iniciática. Em 1893 já era S.I. e Gnóstico. Em 1894 foi sagrado Bispo, por “Valentinius”, em Orleáns mesmo, e nessa oportunidade o Patriarca (Jules Doinel) lhe fez demonstração de vários poderes, inclusive o da profecia, ao dizer-lhe: “Tudo que fazes na França é apenas preparatório para ti. A tua missão pessoal é do outro lado do mar”.
 Efetivamente, não obstante uma missão oficial no Egito, onde recebeu iniciações também, e tornou-se amigo de Mariette-Bey, o conservador do Museu do Cairo, após o casamento que motivara esta viagem, ficou ainda em Paris até 1910 somente. Foi nesses anos, pois, que trabalhou com Papus, com Sédir e com outros, tendo havido certo assombro, por ocasião de uma viagem do MEM Philippe a Paris, na qual diferentes Martinistas deviam Lhe ser “apresentados”, tendo Cedaior declarado que já O conhecia... E, pela primeira vez, referiu-se publicamente ao fato já narrado, ocorrido na sua juventude, em Lyon.
 Em 1895 o encontramos já S::I:: (isto é, INICIADOR com poderes para formar discípulos). Tinha então 23 anos de idade e Papus o nomeou Delegado Especial do Supremo Conselho da Ordem Martinista.
 Em tal qualidade Cedaior inspecionou muitas corporações e viveu com os Superiores Incógnitos do Supremo Conselho horas fecundas de aprendizagem, tanto da Doutrina como de suas aplicações. Já pertencia também à Ordem Kabalística da Rosa+Cruz e entrava assim em contato mais íntimo com Mestres tais como Stanislas de Guaita, Saint-Yves d’Alveydre, Péladan, Barlet, Oswald Wirth, Papus, Sédir, Lermina e tantos outros.
Assim aguardaremos no próximo número a continuação.
Como dizíamos, em 1895 achamos o irmão Cedaior, já S::I::, organizando Lojas Martinistas no interior da França, inspecionando e instruindo outras.
 Também nesta época se dirige ao Egito em missão oficial do governo francês como investigador em matéria científica (acústica) e arqueológica (estudos das formas instrumentais dos antigos egípcios). Porém, esta missão oficial obtida, diga-se de passagem, por influência de irmãos Martinistas das esferas oficiais, pois que, na realidade, Cedaior é enviado ao Egito em missão confidencial da Ordem Martinista e da Ordem da Rosa+Cruz Kabalística para entrar em contato com certas Fraternidades de lá e verificar “in loco” certos estudos sobre simbolismo e cerimoniais iniciáticos.
 Os resultados de sua missão oculta não foram jamais publicados, porém se sabe, nas Ordens, que permitiram a Sédir e a Papus documentar melhor certos pontos da antiga estrutura dos Templos e de seus ensinamentos, pois Cedaior percorreu desde Damieta e Alexandria até Karnak, tendo permanecido longo tempo no Cairo, onde manteve grande amizade com Mariette-Bey, que era o conservador do Museu do Cairo e que lhe prestou relevantes serviços.
 Sua missão oficial foi coroada de êxito, pois o governo francês, não podendo, devido à idade de Cedaior, outorgar-lhe a Legion de Honor, premiou os seus trabalhos com a Palma Oficial da Academia.
 Seu regresso a Paris marca a época de sua vida na qual mais ativamente se ocupará da Maçonaria, Martinismo e Orientalismo.
 Seus trabalhos, desde 1898 até mais ou menos 1909, se orientam sucessivamente na forma seguinte, junto com os irmãos de que falarei na continuação: Com Sédir (que fora seu iniciador, como já vimos) fez uma quantidade de experiências destinadas a verificar pela psicometria e pela visão astral direta da “Memória da Natureza” as buscas feitas no Egito e no Líbano. Cerca de mil fotos servem de documentação a tais trabalhos, assim como pequenos fragmentos dos Templos de Karnak, das pirâmides e da Esfinge, assim como de “certos outros Templos Subterrâneos do Egito”.
 Algumas irmãs Martinistas, psicômetras, se propuseram a servir de instrumentos de pesquisa e verificação de assuntos magnéticos. Entre eles a Irmã Allopair, minha Mãe, também Martinista que, além de talentos de grande pianista e compositora, tinha notáveis dons “psicométricos”. Ela, ao colocar uma pedrinha ou um fragmentozinho na testa, proveniente de um lugar ou monumento do Egito, passava a “ver” e a descrever, minuciosamente, e indo para trás no tempo, as gentes, acontecimentos e até cerimônias ou civilizações que tenham sido “presenciadas” por aquele fragmento.
 Com Moutin, de Rochas e outros Cedaior faz experiências sobre exteriorização da sensibilidade, da motricidade e sobre levitação de corpos vivos, chegando, entre outras experiências, a fazer levitar em posição vertical um cidadão inglês que por certo levou um susto ao se ver suspenso no ar com os pés a uns 30 centímetros do solo.
 Cedaior, com Oswaldo Wirth, faz um ciclo de conferências pelas Lojas Maçônicas de Paris e arredores para estimular o estudo da Tradição, do Simbolismo e do Esoterismo. É lamentável ter que registrar o quase absoluto fracasso de tal campanha: A Maçonaria Francesa quer ser uma “potência social e política” e o estudo da Ciência Oculta e a superação individual não mais interessam às Lojas... pois se deseja “reformar a humanidade” por decretos... como se isso fosse possível. No entanto, isso não impede que Oswaldo Wirth, Cedaior e outros recebam, das ditas Lojas, formosas medalhas comemorativas do Ciclo de Conferências, suave mania bem européia e, sobretudo, bem francesa de conceder condecorações... antes do “arquive-se”.
 Com o martinista Champion e o maçom Boissy d’Anglas, seguindo as orientações de Papus, o qual mediante a vidência e outros meios ocultos lhes indica onde achar as fontes, Cedaior e outros formam o chamado “Comitê da Sobrevivência” e, depois de conseguir revolver os arquivos secretos da Biblioteca do Arsenal e da Polícia Judiciária, conseguem DOCUMENTAR o fato de que Luiz XVII, o “rei menino”, o infeliz Dauphin, o “Golfinho Perdido”, não foi morto na prisão “du Temple”, como afirmam os textos históricos, e que seus descendentes legítimos ainda vivem. Toda esta busca tem uma enorme importância, pois sua realização traz, simultaneamente, três resultados:
1º) Aclara o mistério histórico de sobrevivência do rei menino e, ao mesmo tempo, o aparentemente inexplicável fuzilamento do Duque de Enghien, que foi sacrificado justamente porque era partidário do regresso de Luiz XVII ao Trono de França. Aclara, também, certas misteriosas atividades de Josefina de Beauharnais, que, depois do seu divórcio com Napoleão, freqüenta, com o general Charrette, misteriosas reuniões cujas atividades eram tipicamente monarquistas;
2º) Obriga o governo francês a devolver aos descendentes de Luiz XVII sua nacionalidade francesa, seu nome civil real e reparar assim, na medida do possível, o sacrifício do “Golfinho” que viveu miseravelmente ou quase na Suíça, Prússia e, finalmente, na Holanda, onde morreu em Delft, com a idade de 63 anos, encontrando-se sua tumba na dita cidade;
3º) O resultado mais importante para a Ordem Martinista: fica moralmente reabilitada a atividade das sociedades iniciáticas durante a Revolução Francesa, pois, se por um lado fica evidente que muitos ritos Maçônicos foram arrastados para o lado popular e violento daquela “revolução”, de outra sorte a Ordem Martinista e outras ordens iniciáticas reais seguiam imutavelmente o ritmo “evolutivo” e tratavam de minorar o mal e a violência, como fez o próprio “Filósofo Desconhecido”, o Venerável Mestre Visconde Louis Claude de Saint Martin, que estava de guarda na prisão “du Temple” na noite em que se fazia evadir dela o pequeno rei, o Mártir da Revolução Francesa e o Mártir da Ordem Martinista, já que, de sua vida, que durou uns 63 anos, passou quase dois terços em várias prisões, como veremos quando estudarmos separadamente este interessante assunto, que foi durante muitos anos “um” dos segredos que a Ordem Martinista guardava zelosamente, pois nele estava a chave de compreensão do laço que a ligava à atividade de muitas seitas místicas em sua silenciosa luta contra a violência e a tendência material e popular que se instalaria cada vez mais nos ritos externos.
 A atividade de Cedaior em Paris é, pois, essencialmente de colaboração com Stanislas de Guaita, Papus, Sédir, Barlet, Lermina e outros, na parte de busca sobre a Tradição, especialmente egípcia e oriental em geral, e de divulgação do simbolismo dos ambientes maçônicos e outros.
 Sua atividade na França como Iniciador Martinista propriamente dito é limitada em quantidade, porém bons elementos são ligados por ele a nossa Venerável Ordem e, sendo hoje todos já falecidos, e personagens dos quais já não se falam mais no ambiente profano, podemos citar os ditos elementos de sua cadeia iniciática européia que foram:
1 CDR/A      Hno. Allopair – Concertista de piano e psicometrista notável na época;
2 CDR/B      Hno. Baudry – Dedicado ao estudo das tradições orientais;
3 CDR/C      Hno. Jeho (René Oudeyer) – idem;
4 CDR/D      Hno. Horéme – Poeta egípcio de grande valor literário e místico. Morreu jovem;
5 CDR/E       Hno. Jarson – Místico do tipo de Sédir;
6 CDR/F      Hno. Quinisset – Astrônomo especializado em fotografias celestes. Foi um dos diretores do Observatório de Juvisy, perto de Paris. Astrólogo e kabalista. 
Esta corrente iniciática de Cedaior continuou na América do Sul, como veremos nos artigos seguintes, pois em 1910, como já dissemos ao iniciar esta série biográfica, o Irmão Cedaior iniciou sua Missão Pessoal, saindo para a América do Sul à procura de terra e gente de menos acumulação cármica, e onde a promessa de maiores ciclos de paz permitisse construir algo estável. Iniciava-se assim o cumprimento da profecia que o Mestre Gnóstico lhe fizera.
Chega, pois, a Buenos Aires, no princípio de 1910, o Venerável Mestre Cedaior, e começa a “adaptar-se” ao ambiente, estudando as condições de vida, idioma, etc. E lançando as bases materiais necessárias ao sustento de sua família (esposa e filho) e dele mesmo.
 Desde 1910 até 1914 suas atividades no terreno iniciático são bem mais reduzidas, compondo-se de visitas esporádicas a Lojas Maçônicas, a grupos teosóficos, a sociedades espiritualistas e a tomar contato individual com pessoas que pudessem chegar a ser futuros colaboradores de algo mais concreto. Do Martinismo e da Rosa+Cruz Kabalística nem sequer fala... Observa, classifica, compara.
 Em 1914, pouco antes da tormenta mundial que ia converter-se em hecatombe, um dos Mestres Orientais com os quais Cedaior estivera em contato por várias vezes através de suas “saídas astrais” em épocas anteriores, especialmente entre 1895 e 1900, e ao qual, se pode dizer, viu materializado em mais de uma reunião de certos grupos místicos muito reservados, em Paris, um desses Mestres, como disse, “aparece” a Cedaior e lhe declara que “é chegado o momento” de cumprir uma missão que ele, Cedaior, aceitara uma vez, em certa reunião da Grande Fraternidade Branca, para a qual fora espiritualmente levado. Afirma o Mestre: “Virá a guerra, te chamarão, porém não irás”.
 Cedaior afastado, como disse, das atividades superiores da iniciação, estranha esse regresso “não provocado por ele” do contato com os Grandes Mestres e espera que acontecimentos visíveis do mundo concreto venham confirmar as palavras do Mestre.
 Efetivamente, surge a mobilização francesa, Cedaior é chamado e se apresenta ao consulado francês de Buenos Aires, no qual, com sua surpresa, lhe declaram “inapto” para todo serviço, em virtude de um defeito que permaneceu em um joelho, em conseqüência de uma queda ocorrida um ou dois anos antes no campo.
 Volta a manifestar-se o Mestre Vayusattwa e Cedaior se inclina reverentemente, declarando-se “pronto” para executar o que lhe for indicado “a qualquer preço”. Segue-se a esse fato uma quantidade de acontecimentos que seria longo detalhar, porém cuja sucessão tratarei de resumir o tanto quanto possível: 
1º) Nasce o segundo filho de Cedaior, em condições curiosas que são, para Cedaior, a chave da descoberta da Lei da Astrologênese e da Reencarnação Consciente ligada à Procriação Consciente, cujo detalhamento expõe em sua obra “Libro de las Leyes de Vayu”; 
2º) De 1914 até 1919 a atividade iniciática do Mestre Cedaior se pode considerar caracterizada como segue:
a)                          Longos retiros e silêncio, nas meditações atento às instruções de seu Guru, cujas manifestações são quase diárias. Sob sua direção Cedaior escreve quase todo o “Libro de las Leyes de Vayu”. Algumas partes são somente comentários feitos por Cedaior à doutrina revelada pelo Guru e que constitui como um “evangelho” reservado aos que deverão constituir um dos núcleos precursores da Sexta Sub-Raça, nascida “potencial e cosmicamente” em 13 de fevereiro de 1916, segundo os ensinamentos de Vayusattwa.
b)                          Como é natural, o espírito de Cedaior, em união estreita com o seu Guru, se encontra cada vez mais afastado da atividade mundana e quatro longos anos de absoluta castidade, um desinteresse cada vez mais acentuado pela atividade profana e profissional desequilibram (se quisermos assim chamar) a situação material e familiar de Cedaior, que é cada vez mais poderosamente “levado” a romper todo laço para entregar-se à via livre aceitada.
c)                          Trata de difundir, nos ambientes em que está iniciaticamente relacionado, as revelações que tem obtido e, salvo poucas pessoas, sua ação não interessa às sociedades senão sob o aspecto cultural que interessa quase mais a Cedaior, pois o que ele busca é a realização de um núcleo inicial de seres que se preparem para a nova vida. 
Sem dúvida, alguns teósofos, maçons e livres estudantes ouvem seus ensinamentos com interesse e, em homenagem à memória de uma dedicadíssima Colaboradora do Mestre, devo citar a extinta senhora Rose L. de Robinson, que ajudou a realizar uma versão inglesa do Livro de las Leyes de Vayu e colaborou muito moral, espiritual e materialmente em todas as empresas de Cedaior naquela época.
 Uma das tentativas de Cedaior para difundir, simultaneamente, os ensinamentos gnósticos e rosacruzes, assim como a Doutrina da Nova Sub-Raça, foi a fundação da Igreja Expectante, em 17 de agosto de 1919 (ver o suplemento no fim do Livro de las Leyes de Vayu), tentativa que fracassa como organização, porém de cujo espírito a semente fecunda permaneceu em muitos corações e mentes de pessoas que hoje, todavia, se acham ligadas de uma forma ou de outra à obra do Mestre.
 Um detalhe interessante, kabalisticamente falando, é que enquanto todas essas atividades se realizavam Cedaior vivia em “Olivos” e a sede de seu grupo em Buenos Aires estava na rua “Viamonte, 666”. Analisem: Via Monte dos Olivos – chave numérica 666: o número do Apocalipse, que tem longo comentário em seu livro.
 Tal “Via – Monte” devia ser efetivamente cada vez mais a via-crúcis individual do Mestre, pois numerosas tentativas com espiritualistas locais, com "Henri Denil" (pseudônimo do Comandante Deuil) chefe do movimento europeu "Les Veilleurs" (dirigido por Gastón Revel) e autor de um belíssimo livro "Progres et Ordre" (comentários sobre a Sinarquia) e com muitos outros, levam Cedaior à seguinte conclusão: muitos acham a Doutrina "belíssima teoria", mas quando se trata de "largar os três centavos ou os três ladrilhos que possuem" para realizar algo em um ambiente novo... todos preferem suas casas, o biógrafo da esquina, a reunião de sua Loja ou grupo, uma vez por semana...
 Cedaior fez uma viagem ao sul da Argentina (Chubut, Neuquén e até o Chile) para estudar várias coisas ao mesmo tempo:
1º) Astro-sismologia, ou seja, a previsão de fenômenos sísmicos mediante a Astrologia, ciência na qual chega a ser realmente notável, como veremos mais tarde;

2º) Verificar “in loco” a existência de certos remanescentes de velhas tradições entre aborígines. Mediante os dados que obtém, por um lado pelo Sr. Curutchet, de Buenos Aires, por outro lado pelo engenheiro Saurel - em Neuquén – e, finalmente, por um cacique de uma tribo de índios brancos de olhos azuis e cabelos quase ruivos do sul da Argentina, Cedaior reconstitui elos perdidos da tradição ameríndia e enlaça estes estudos com os que já fizera, “akasicamente”, sobre a Ilha Vayu (ou Ilha de Páscoa);

3º) Verifica o que lhe havia sido dito por seu Guru: que em certos pontos da Cordilheira dos Andes se estabelecem "centros de força" para o governo espiritual do Continente e que certos seres - uns humanos e outros dévicos – vão fixando sua atenção – ou, às vezes, sua residência – nos citados pontos.
Cedaior tenta a fundação de uma Colônia "Olímpica", ou seja, da Sexta Sub-Raça nas ditas regiões, mas como sempre o fracasso surge pela falta de colaboração dos "idealistas citadinos" que não querem deixar suas macias poltronas. E, sem dúvida, ele, o Mestre fez todas essas viagens a cavalo, a pé, como era possível, utilizando seu violino, com o qual se fizera outrora conhecido como grande concertista, como um simples meio de ganhar o pão e o transporte, tocando até em armazéns (barzinhos) dos Pampas ou da pré-Cordilheira.
No artigo anterior vimos que Cedaior havia feito uma longa viagem à Cordilheira dos Andes, onde fracassou uma tentativa de fundação de uma “Colônia Olímpica”, que seria localizada perto de Nahual-Huapi.
 Regressa então Cedaior a Buenos Aires, onde se achava seu filho Léo Alvarez Costet de Mascheville (que então tinha o nome místico de JEHEL), que era, já desde alguns anos, ajudante do Mestre. Nessa época  – 1921 – Cedaior toma uma resolução bem característica daqueles que confiam inteiramente em que “sempre tudo se cumpre como deve ser realizado”. Abandona definitivamente suas atividades urbanas e se prepara para uma nova viagem pela região dos Pampas e pela região Andina, que deverá depois leva-lo a fixar residência em Mendoza.
 Ao partir de Buenos Aires deixa a seus raros discípulos a escolha de seguir ou não o caminho, a direção por ele indicada, e deixa a seu próprio filho, Jehel, em plena liberdade para seguir a “vida normal”, quer dizer, de criatura desejosa de realizar-se numa situação comercial e civil “brilhante” ou seguir o caminho áspero da Realização Espiritual. Nem sequer tem Cedaior esse paternal e humano “egoísmo” de querer levar consigo ou até seu ideal o seu próprio filho, apesar de este já há alguns anos se interessar profundamente pelas coisas iniciáticas. Antes de sair, sem dúvida, põe Jehel em contato com um Rosacruz alemão, doutor em filosofia e letras, membro de várias academias européias, e que havia abandonado tudo para levar uma vida de iogue errante no Continente Sul-Americano, em virtude de uma missão especial, de natureza espiritual, recebida. O dito iniciado, mui elevado, respondia civilmente pelo nome de WALTER BAUER. Tinha cabelos longos até a cintura e barba dourada que lhe davam um aspecto místico que a pureza de seus grandes olhos azuis, transparentes como os de um menino, completavam admiravelmente. Poderia ter naquela altura uns trinta e cinco anos e era casto desde o seu nascimento, o que já indica de que se tratava de um ser muito evoluído, já que fisicamente era de uma perfeição rara de forma, proporções e beleza.
 Cedaior chega, pois, em princípios de 1922, a Mendoza, onde se encontra com Jehel, que já havia chegado, tendo feito uma longa viagem a pé durante meses seguindo Walter Bauer, levando uma vida parecida com a dos “Sanyasines” orientais: sempre a pé, dormindo ao relento, apesar das geadas, e comendo o que a natureza oferece ou o que a caridade outorga ao viajante. Walter Bauer, a partir de certo ponto do itinerário, tomou outro rumo, no qual não desejava ser acompanhado por ninguém. Parece oportuno ressaltar do pouco, muito pouco do que Bauer dissera, que um dos objetivos de sua missão era de servir de PONTO DE IRRADIAÇÃO de certas correntes de força espiritual que começavam a fixar-se na parte sul da Argentina.
 Em Mendoza, utilizando suas possibilidades como professores de idiomas e música, Cedaior e Jehel fazem estudos sobre sismologia e, naquela época, Cedaior prevê e publica com antecipação os dias e as horas de grandes terremotos, como o do Japão (1921), o da Bolívia, que quase destruiu os mais importantes edifícios de La Paz, e o de San Rafael, Mendoza – sem contar muitos outros de menor importância – avisando sempre antes aos governos respectivos... que nunca deram – é claro! – a menor atenção!
 Também prosseguiu nos estudos sobre “astrometeorologia”, chegando a predizer o tempo: secas, chuvas, ventos, tormentas, com bastante precisão, para qualquer zona do mundo da qual se conhecesse bem as determinadas kabalístico-astrológicas. Esse ramo do saber está longe, aliás, na minha opinião, de ter sido resolvido pelo Mestre Cedaior, que apenas pretendeu orientar a investigação dos estudiosos.
 Todos os terremotos dos quais falamos foram preditos com uma exatidão que chamou a atenção de várias pessoas que rodeiam o Mestre e um grupo entusiasta começa a interessar-se por fundar em Mendoza uma Colônia como projetara Cedaior, desde antes, como já vimos. Foi possível também, para Cedaior, salvar a vida do então governador de Mendoza, Dr. Lencinas (mediante visão antecipada de um atentado, cujo autor foi desarmado no gabinete da vítima, o que comprovou o aviso...). Com isso certa proteção oficial é dada ao Mestre e, pouco tempo depois, o Dr. Lencinas lhe oferece de presente grande parte do belo Vale de Sonda, para estabelecer sua colônia. No entanto, uma das condições é a de aguardar quase dois anos para que o governo provincial faça os trabalhos de canalização que permitam a irrigação do vale. Cedaior, já sozinho, pois Jehel havia partido para a França em missão especial de retomar contato com as Ordens Tradicionais (Martinismo, Rosa+Cruz Kabalística e Les Veilleurs) resolve não aguardar tanto tempo e, juntamente com alguns amigos e discípulos, entre os quais lembraremos o fiel Yanácare, comprar um terreno na zona de San Rafael para estabelecer a primeira Colônia.
 E é neste momento quando se produz um fato que tem enorme importância, pois mudará toda a vida e a realização do Mestre. Cedaior mantinha correspondência já havia muito tempo com a iniciada IDA HOFFMAN, conhecida nas ordens iniciáticas como Sóror Peregrina, por ter sido a colaboradora mais íntima de THEODOR REUSS (Fráter Peregrino), o sucessor de Rudolf Steiner. Ida Hoffman (rosacruz, co-maçom, membro da Ordo Templi Orientis - O. T. O.) havia conseguido por correspondência a promessa de Cedaior, de colaborar com ela, se chegasse a vir ao Continente Sul-Americano, para formar uma Colônia Olímpica e Naturista, pois Ida Hoffman conhecia bem tais organizações, por ter sido colaboradora íntima de HENRI OEDENKOVEN, o fundador do célebre sanatório e colônia naturista de “Monte Veritá”, situado perto de Ascona. Falaremos sobre esta pessoa mais tarde.
 Cedaior, escravo de sua palavra, recebe EXATAMENTE NO DIA em que ia assinar a escritura de compra do terreno para a colônia de Mendoza, uma carta de Ida Hoffman, comunicando que já se encontrava no Brasil, que já havia comprado o terreno e que ali o esperava, segundo o convencionado entre ambos. Não resta, pois, a Cedaior, outro caminho senão o de partir para o Brasil e deixar a seus poucos companheiros de Mendoza a tarefa de realizar o que havia sido projetado, segundo seus ensinamentos. Parte para o Brasil passando por Buenos Aires, em cuja cidade tem um rápido e último contato com seus restantes fiéis discípulos, entre os quais a Sra. Rose de Robinson, já citada, e o Dr. Miguel Angel Márquez, de quem voltaremos a falar oportunamente.
 De passagem, rumo ao Brasil, Cedaior desembarca em Montevidéu, em cuja cidade o obrigam a permanecer por algumas semanas e onde fez grandes e profundas amizades com as senhoritas de Roldán, com as quais se ocupa do sistema musical de Menchaça, idéia que o Mestre não abandonará nunca mais, como veremos, e com Juan Geiss, Queirolo, Cotello, de la Sierra e muitos outros, tanto no ambiente teosófico, no qual dá várias conferências, como no ambiente maçônico e espiritualista em geral. Vários laços daquela época subsistem ainda.
 Finalmente, em 1923, chega ao Brasil, no estado de Santa Catarina, na cidade de Joinville, na qual, com Ida Hoffman, estabelece o que ela alegremente chamava “o Quartel General Olímpico”. Fecundas terras, com a superfície de 120 hectares (24 alqueires) compradas a 40 quilômetros da cidade, num lugar acidentado e pitoresco de nome Palmital (hoje pertencente ao município de Garuva, extremo nordeste do estado), e que se chamou a Colônia “Monte do Sol”.
 Iniciam-se os trabalhos e um jovem alemão (Tuitenhof) se encarrega de tomar conta das primeiras plantações de arroz e cortes de madeira do monte da Colônia. Porém, procede sem bom senso e só abusa da hospitalidade de Ida e Cedaior, que trabalham dia e noite com lições e tocando em orquestras até de cafés para sustentar a incipiente colônia. É bom ter em conta que naquela época Ida Hoffman tinha uns 60 anos de idade e Cedaior, 51. Que ambos são europeus, de climas frios e realizam este esforço em um lugar de clima subtropical, com um entusiasmo e um espírito de sacrifício admiráveis. Como são ambos vegetarianos, resistem mais facilmente ao clima da cidade, porém na colônia a febre malária, endêmica naquela região, já se havia feito sentir.
 Antes de abandonar este período é bom citar um fato notável para aqueles que sabem observar como “Lá de Cima” somos constantemente guiados. Quando Cedaior estava em Mendoza, um pastor alemão, escritor conhecido, o Reverendo WILHELM BREPHOL – casado com uma irmã de Ida Hoffman – mas que não tinha relação alguma nem sequer epistolar com Cedaior, já havia enviado por correio sua enorme biblioteca a Mendoza, onde desejava fixar residência. Quando Cedaior parte de Mendoza, SIMULTANEAMENTE e sem que houvesse aparentemente razões poderosas para isto, o pastor Brephol muda de idéia, faz voltar os milhares de livros enviados a Mendoza e inicia trâmites com as igrejas que representa como missionário para ser enviado ao Brasil, o que ocorrerá em 1925. Veremos mais tarde a importância desta mudança, indiscutivelmente ORDENADA pelos que guiam constantemente nossos passos, ainda que nem sempre e até freqüentemente não tenhamos consciência disso, se não somos ou iluminados ou observadores minuciosos.
No final de 1924, mais exatamente a 30 de novembro de 1924, chega ao Brasil o irmão Jehel (Sri Sevãnanda Swami), que regressa de uma estada de dois anos na Europa, onde realizou três coisas: seu serviço militar, pagando assim à França sua primeira educação; a missão recebida de observar o estado das Ordens Martinista e Rosa+Cruz Kabalística no Velho Continente e, finalmente, casou-se com uma parisiense, pessoa sumamente pura e mística, que nas ordens ficou conhecida como a Irmã Lothusia. Inicia-se, com o seu regresso, uma nova época de atividades.
Efetivamente, Jehel e Lothusia vão se instalar em plena selva, na “Colônia Monte Sol”. Porém, em pouco tempo, dada a mais absoluta preguiça dos poucos “colonos naturistas” que se haviam apresentado e a intensidade da febre malária que reinava, atacando aos colonos, a Lothusia e a Jehel, apesar de serem todos vegetarianos e quase exclusivamente frugívoros, Jehel se convence da inutilidade de lutar em tais condições de inferioridade.
Cedaior também se cansa de lutar contra o clima demasiado quente e, de comum acordo, todos se mudam para os planaltos do Paraná, para a bonita cidade de Curitiba, na qual Cedaior já tinha relações por correspondência com o poeta e filósofo Dário Veloso.
Em Curitiba, Jehel insiste na revivificação da Ordem Martinista e, como Dário Veloso (XDR/8 era S:: I:: IV) iniciado por Papus e até tinha sido nomeado, em 1904, por carta patente nº 141, como Soberano Delegado Geral para o Brasil, pelo Supremo Conselho, presidido por Papus, Jehel o convida a tomar parte em tal movimento de reorganização da Ordem Martinista no continente.. O irmão Dário, que já havia tentado, sem grande êxito, algo semelhante em anos muito anteriores, e havia abandonado a tudo para dedicar-se unicamente à fundação de seu INSTITUTO NEOPITAGÓRICO, declara não achar-se disposto a novas lutas, em face de sua idade e estado de saúde e as funções de seu cargo foram por ele deixadas ao cuidado de Cedaior também.
Permaneceu, sem dúvida, na ordem sendo sempre um dedicado amigo de Cedaior e Jehel. E é com emoção que oferecemos hoje a nossos leitores uma histórica fotografia, tirada em 1926, na Biblioteca “Templo das Musas” do Instituto Neopitagórico. Esta imagem tem hoje um valor emotivo apreciável, pois os três iniciados que nela figuram já regressaram ao Astral: De pé, o Mestre Cedaior ao violino, executando o final de uma obra de Haendel. Ao piano, Ida Hoffman. Sentado: Dário Veloso.
Iniciaticamente, as características destes três Mestres são estas:
Dário Veloso (Apolônio): C:.K:.(30:.) N:./P:. S::I:: IV
Ida Hoffman (Peregrina): 33:. O:.T:.O:. R+C (escola de Steiner-Reuss)
Cedaior: 33:. S::I:: VII – Dr. Kab:. – M.S.T. – C:.E:.P:. – O.E.O. – O:.T:.O:. – Bispo da Igreja Gnóstica - Soberano Delegado Geral da Ordem Martinista - Presidente da Ordem da Rosa+Cruz Kabalística (as duas últimas, para a América do Sul). 
Durante o ano de 1925, Cedaior e Jehel iniciam a alguns novos Martinistas e vários deles são hoje ativos iniciadores, por sua vez. Intercalam-se a esta altura da vida do Mestre dois fatos novos, ambos de suma importância: 
1º) Ida Hoffman nunca tinha perdido a esperança de conseguir estabelecer a colaboração entre Cedaior – rico espiritualmente e pobre materialmente – com o ex-fundador do Sanatório Naturista de Monte Veritá, o milionário belga Henri Oedenkoven. Precisamente no ano de 1925 este último chega ao Brasil e, depois de percorrer grande parte do enorme país num Ford de campanha, havia adquirido grande extensão de terras no estado de Goiás. 
2º) Nesta mesma época chegava a Curitiba a família do Pastor Brephol, cuja filha mais velha, hoje nossa Irmã Lorelair (nome místico da senhora Emma Costet de Mascheville) e Cedaior se reconheceram rapidamente como seres destinados a unir-se, como efetivamente o celebraram em pouco tempo. Lorelair se constituiria desde então na mais admirável companheira que o Mestre pudesse haver sonhado, já que seu valor como mulher, Iniciada e Mãe é digno de todas as homenagens, além de sua extraordinária resistência a todos os embates da vida, como o provaria depois na existência de contínuas lutas materiais junto a Cedaior, a quem daria todavia cinco formosos filhos, 4 homens e por último uma filha. 
Em 1926, depois de um “Conselho Deliberativo” no qual o único voto discordante foi o de Jehel, se resolveu tentar a fundação de uma Colônia em Goiás e marcharam em “vanguarda” para lá Cedaior, Lorelair, Lothusia e Jehel, seguidos de perto por outro Martinista, o (já falecido agora) Irmão Nerval e sua família. Em Goiás se iniciaram alguns raros elementos para o Martinismo e chegou a fundar-se uma loja (Resp. Loja “Papus”, Jehel, Fil... Desc... ).
 Da Colônia resultou um grande fracasso, pois o naturalista belga não cumpriu com suas promessas, nem de ordem doutrinária, nem de ordem material. Basta dizer que depois de terem passado até fome em Goiás, Nerval e família regressaram a São Paulo; Lorelair e Cedaior se foram outra vez para o estado do Paraná e Jehel e Lothusia permaneceram algum tempo mais em Goiás, até pagar as dívidas que existiram em virtude do abandono material provocado por Oedenkoven.
 É lamentável que a necessidade de ser sintético neste ensaio biográfico do Mestre Cedaior me impeça de relatar passagens, umas belas, outras quase trágicas, de suas lutas em tais condições, em climas tão difíceis de suportar para um europeu de alguma idade e com as contínuas desilusões com seus colaboradores.
 Depois de instalar-se por algum tempo na Lapa (região metropolitana de Curitiba, Paraná), lugar no qual Cedaior recebe a notícia da perda total da biblioteca maravilhosa reunida por ele, Peregrina e Jehel, sobrevém também o falecimento de Ida Hoffman, que não pôde ter em seus últimos meses de vida a felicidade de ver realizado seu ideal de colônia naturalista-espiritualista.
 Cedaior já tem mais um filho e Jehel uma filha quando ambos, em Curitiba (novamente) organizam mais amplamente o Martinismo, que já conta com Iniciados em vários estados do Brasil e com uma Loja funcionando em Curitiba (Resp. Loja Hermanubis, Fil... Desc... Jehel) que havia sido fundada em 1925, antes da saída para Goiás.
 Desde 1927 até 1931 Cedaior e Jehel vivem quase sempre em cidades diferentes e o Mestre trabalha em seus manuscritos perdidos sobre a sismologia, a nova raça, a doutrina olímpica, etc., enquanto crescem os filhos que em 1931 já são dois.
 Em 1931, ambos se reúnem novamente no sul do Brasil, primeiro em Caxias, depois em Porto Alegre. Nesta altura começa o movimento mais forte dentro do Martinismo. Cedaior está agora, além de seus estudos pessoais sobre a nova raça, ocupado em tratar de dar à Maçonaria do Brasil uma renovação de espiritualidade e, sobretudo, de espírito de união. Não insistiremos sobre as tais tentativas, nas quais muitos Martinistas receberam ordem de trabalhar ativamente e o fizeram, no entanto, sem conseguir grandes resultados.
 Em 1932 Cedaior é ajudado materialmente pela “sorte grande” da loteria (comprada em um dia de miséria absoluta, por indicação de Lorelair, que já era nesta época excelente astróloga) e vivem assim algum tempo de relativa tranqüilidade em uma casa de campo que constroem nos arredores de Porto Alegre, cidade na qual nascem seus três últimos filhos.
 Sua atividade iniciática Martinista é relativa, porém sua influência espiritual é cada vez maior, pois seu amplo ponto de vista já lhe dificulta a adaptar-se a um método determinado. O que ele busca é desenvolver nos seres a percepção do caminho humano pelas reencarnações em condições CADA VEZ MELHORES AO SER CADA VEZ MAIS CONSCIENTE. Por isso, a Procriação Consciente e a preparação de Mães e Pais dispostos a senti-la e vivê-la permanecerão sua preocupação fundamental.
 Em 1936 terminam para o Mestre Cedaior duas atividades: perde sua casa de Porto Alegre, sua situação neste lugar se torna difícil e é convidado por um grupo de espiritualistas para ir residir em São Paulo. Antes de mudar-se para esta cidade, entrega ao Irmão Jehel o cargo de Presidente da Ordem Martinista e, de comum acordo, decidem que o Martinismo se desinteressará do esforço feito desde alguns anos por revitalizar a parte espiritual da Maçonaria e voltará a sua finalidade única traçada por Papus: “A difusão do esoterismo, principalmente cristão, e o estudo dos fenômenos da natureza”.
 Cedaior, Lorelair e seus filhos passam, pois, a residir durante dois anos e meio na cidade de São Paulo, na qual, se por um lado suas desilusões são muitas, pois grande parte dos espiritualistas que os haviam convidado a ir para lá mostram posteriormente pouca disposição por realizações verdadeiras, por outro lado é a época em que vários Martinistas de São Paulo rodeiam o Mestre de um carinho especial e se assentam assim as bases do que mais tarde será o movimento Martinista daquela metrópole brasileira.
 De outra parte, e no que pese as constantes dificuldades de ordem material, o Mestre Cedaior continua divulgando a Doutrina Olímpica amplamente e se dedica ao estudo de problemas transcendentais de aspecto matemático e filosófico da escola platônica, resolvendo, entre outros, o famoso teorema de “Fermat”, ou seja, o dividir um cubo em dois e em três cubos, trabalho que algum dia será publicado com suas conseqüências filosóficas e outras.
 Lorelair, por sua vez, se torna astróloga de uma amplitude e profundidade cada vez maiores, fazendo predições sobre acontecimentos mundiais e estudos sobre a biologia da evolução humana e cósmica pela via astrológica, que são interessantíssimos e se religam diretamente a real “astrosofia” que Saint Yves, Barlet e Papus haviam reintroduzido nos altos graus do Martinismo. É interessante notar, sem dúvida, que Lorelair realiza tudo isto quase sem partir das bases de trabalhos de seus predecessores, fazendo suas pesquisas somente pela observação, meditação e intuição pessoais, sob os auspícios dos Veneráveis Mestres e incentivada por seu maravilhoso companheiro e Mestre Cedaior.
 Em 1939, Jehel havia organizado novamente a ORDEM MARTINISTA DA AMÉRICA DO SUL, à semelhança e miniatura daquela que o Venerável Mestre Papus fizera em 1887 na Europa e já o Grande Conselho, situado naquela época em Porto Alegre, consegue reunir condições para que o Mestre Cedaior, Lorelair e sua família passem a residir naquela cidade, na qual os trabalhos seguem seu curso, com a Loja Central do Martinismo, que tinha tomado como título distintivo o nome de “CEDAIOR”.
 É na dita cidade de Porto Alegre que Cedaior terminará seus trabalhos já citados sobre o “cubo” e problemas subjacentes, assim como a preparação de vários elementos que irão seguir sua obra em seus diversos aspectos. Tudo isto até chegar à época na qual, como dissemos no primeiro artigo, pronuncia a frase “Terminei o que devia fazer desta vez, agora darei uma espiada lá em cima e depois voltarei”, frase serena dessa linguagem simples com a qual os Iniciados Ocidentais costumam apresentar sem ostentação ensinamentos às vezes muito importantes. Efetivamente, pouco depois Cedaior deixava seu veículo “de Mascheville” para regressar ao Plano Espiritual (em 22 de janeiro de 1943) e continuar ali sua tarefa, a serviço da Cavalaria Cristã (Rosa+Cruz) da qual falava Papus.
 Será suave a seu coração, Carolei, lembrar alguns aspectos do meu Mestre, que também pode ser o seu, ou seja: um dos caminhos que levam ao MEM PHILIPPE...
 Mestre Cedaior tinha tipo celto-latino. Esbelto, de cútis tão alva que só os Jupterianos a têm, cabelos castanhos, olhos cor de avelã que às vezes tomavam nuances cinzento-azuladas... Como todos os nascidos com Ascendente Sagitário e, bom tema, gostava das coisas singelas, um pouco primitivo até. Amava a Natureza em forma ilimitada. Adorava o Egito como a Índia, e a França como o Brasil. Tinha respeitosa amizade por Papus e Sédir, adoração por Mestre Philippe, a quem chamava de Amo, com certa reserva sorridente...
 Foi, para mim, por toda a sua vida, o maior, o melhor, para não dizer o único amigo, embora fôssemos tão diferentes. Era um artista e um precursor. Tinha o futuro sempre presente. Eu sou ainda da velha raça e apóio no passado um presente que para mim é tudo. O Mestre Cedaior tinha predileção por música sacra, grave. De Nardini a Beethoven; de Bach a Mozart. Suas composições pessoais são essencialmente bucólicas de forma, angélicas ou elegíacas de sentir.
 Amava muito as flores. Lembro ainda os longos passeios na França e, mais tarde, nos quais ele colhia o “Églantier” (rosa-de-cão) cujas quatro singelas pétalas de Rosa Silvestre, com o dourado centro de geração, o encantavam.
 Antes de terminar esta série, tão sintética – demasiadamente sintética – de artigos sobre a vida objetiva do Mestre, devo completar o quadro de seus iniciados Martinistas. Já citei os 6 Martinistas que Cedaior havia iniciado na Europa. Na América do sul, sua corrente não foi muito ampla nem numerosa, mas, como veremos, foi fecunda pela proporção muito elevada de elementos que chegaram a SERVIR à Ordem, quer dizer, ao Ideal!
 Efetivamente, aos 6 Iniciados da Europa, Cedaior acrescenta a sua corrente, na América do Sul, somente mais 14 Iniciados. Destes, cinco já são Iniciadores com funções importantes na Ordem, e sabemos que, no Martinismo, tais funções não são “títulos decorativos”, senão RESULTADO DE MUITO TRABALHO E OBRIGAÇÃO DE TRABALHAR MAIS AINDA DEPOIS DE OBTER OU ACEITAR TAIS FUNÇÕES: 
07 CDR/3G – JEHEL – Atual Presidente do Grande Conselho da Ordem; 
08 CDR/3H – de NERVAL – S::I::III, já falecido; 
09 CDR/3I – XBRGS/B-4 – Já Iniciador e Delegado da Ordem na cidade de São Paulo;  
10 CDR/3J – BRDDL/C-4 – Já Iniciador e Delegado da Ordem na cidade de Curitiba;  
11 CDR/34 – XLRLR/D-4 – Já Iniciador e atual membro do Grande Conselho;  
12 CDR/3L – de FERSEN – Já felecido;  
13 CDR/3M – Estudante;  
14 CDR/3N – PARACELSO – Já S::I::III dedicado à divulgação da Doutrina Olímpica;  
15 CDR/3O – TTH/E-4 – Já Iniciador y atual Presidente de Corporação Martinista;  
16 CDR/3P – Fiel Martinista, atual Del::Mart:: em Porto Alegre;  
17 CDR/3Q – Atual Del::Mart:: em Rivera, dedicado com carinho a curas e estudos;  
18 CDR/3R – Dedicado Martinista já adiantado;  
19 CDR/3S – Dedicado Martinista já adiantado;  
20 CDR/3T – Martinista Livre.  
 Basta meditar sobre esta lista de Iniciados para verificar que o Mestre Cedaior soube eleger seus "Seres de Desejo" e conduzi-los a alimentar o Fogo Sagrado, a realizar-se verdadeiramente e, coisa especialmente importante, por SER A AUTÊNTICA CARACTERÍSTICA DO MARTINISTA: REALIZAR PARA OS DEMAIS, DANDO SEMPRE TUDO O QUE RECEBEU, buscando ativamente como dá-lo, adaptá-lo, fazê-lo fecundo e vivo.
  Por isso conseguiu o Mestre Cedaior que alguns de seus Iniciados se tornassem não somente Iniciadores, por sua vez preenchendo com eficiência funções de constante sacrifício na nossa Venerável Ordem, como também conseguiu que alguns tantos se fizessem dignos de ingresso na "Ordem Kabalística da Rosa+Cruz", isto é, ENTREGASSEM SUA VIDA à "CAUSA", VIVENDO PARA O IDEAL EM FORMA TOTAL E DEFINITIVA.
  Os que conhecem a história secreta da Ordem, a vida pessoal do Mestre e o porquê e como de muitas de suas realizações, sabem que preço de sacrifício material, moral e de toda espécie teve que pagar para SERVIR realmente, e é por isso que, ao pronunciar, outra vez, ao fim deste último artigo, a saudação que lhe dirijo em nome de todos os Rosa+Cruzes Kabalistas e de todos os Martinistas, que fique claro que não é apenas mais uma fórmula vã, é a evocação de uma realidade sobre este Plano e o Outro: Cedaior, querido Mestre que sempre Serviste o melhor possível, ao preço de qualquer sacrifício, a SÉDIR – AMO – PAPUS ­­– VAYUSATTWA.  

Fonte: Egrégora Expectante.

Rito Escocês Retificado



Rito Escocês Retificado

O Rito Escocês Retificado é também conhecido como Rito de Willermoz, em alusão ao seu criador, Jean Baptiste de Willermoz (Lyon,1730- Lyon,1824), que foi iniciado na maçonaria aos 20 anos de idade em uma loja que funcionava sob os auspícios da Estrita Observância Templária.

A intenção de ter um Rito Escocês Retificado seria trazer de volta antigas influências dos Cavaleiros Templários, como um rito de cavalaria, também de um antigo rito chamado Rito de Heredom. Segundo Willermoz o Rito havia se descaracterizado com o tempo, perdendo assim sua identidade original como um Rito de Cavaleiros.

Foi relançado nas suas bases atuais, graças ao trabalho incansável de Jean-Baptiste Willermoz, que mantinha relações com maçons de toda a Europa, principalmente com os Irmãos mais qualificados de todos os ritos.

Ele passou a vida inteira reunindo todo o tipo imaginável de documentos, rituais e instruções, buscando alcançar a essência da iniciação maçônica.

O sistema maçônico que o interessava de imediato, foi o da Estrita Observância Templária, em razão das origens templários que esse sistema atribuía à Maçonaria e por sua organização em forma de ordem de cavalaria.

ORIGENS MAÇÔNICAS DE WILLERMOZ

Jean-Baptiste Willermoz era muito estimado pelos seus discípulos, principalmente pelas maneiras cordiais, amigáveis e sedutoras. Ele tinha como profissão profana a fabricação e comércio de artigos de seda, sendo ainda um grande proprietário de imóveis na cidade de Lyon, no centro da França.

Desde jovem, conseguiu reunir em torno de si um grupo de homens devotados à causa espiritual, tais como: Louis Claude de Saint-Martin, Joseph de Maistre, Martinez de Pasqually e o famoso Conde de Saint-Germain, alguns companheiros de estudos, outros seus próprios mestres.

Claude Catherin Willermoz foi seu pai, que por tradição também se dedicava à produção de tecidos; sua irmã Claudine foi iniciada nas ordens externas e o seu irmão mais novo, o médico Pierre-Jacques Willermoz foi iniciado em todas as ordens e jogou um papel importante na afirmação de Lyon como centro maçônico importante.

Jean-Baptiste Willermoz iniciou-se na Maçonaria em 1750. Com 20 anos de idade e já em 1752 era Venerável Mestre da sua loja e um ano mais tarde fundou a loja ";A Perfeita Amizade", que desempenhou um papel muito importante mais tarde. Em 1756 obteve a filiação da sua loja na Grande Loja da França. Em 1760, com 30 anos de idade, fundou uma segunda loja: "Os Verdadeiros Amigos"; juntamente com o Venerável da sua primeira loja: "A Amizade";, o irmão Jacques Irenée Grandon.

Nesse mesmo ano, as três lojas AMIZADE, A PERFEITA AMIZADE, e os VERDADEIROS AMIGOS, sob a coordenação de Willermoz, fundam a GRANDE LOJA DOS MESTRES REGULARES DE LYON, que recebeu Grandon como o seu primeiro presidente. Esses maçons tinham como objetivo a volta às suas origens primitivas.

Willermoz torna-se Grão Mestre em 1761, reelegendo-se em 1762, mas desinteressou-se em seguida, devido ao aumento das tarefas administrativas. Além disso, ele estava desgostoso com a banalidade dos trabalhos maçônicos o que o induziu a fundar o Capítulo dos ";CAVALEIROS DA ÁGUIA NEGRA", onde recrutava os melhores elementos de todas as lojas da cidade.

Willermoz ensinava no seu Capítulo que, para encontrar a pedra cúbica, que contém em si todos os dons, virtudes ou faculdades, era necessário encontrar o princípio da vida que os Adeptos chamam Alkaeter. Esse espírito tem a faculdade de purificar o ser anímico do homem, prolongando sua vida.

Ele também tem a virtude de transformar os vis metais em ouro. Esse espírito encontra-se nos três reinos da natureza e cabe ao homem encontrar a maneira de manipulá-lo. Eles ensinavam que a pedra bruta representava a matéria disforme que devemos preparar; a pedra cúbica com ponta piramidal representava a matéria desenvolvida pela tríplice ação do Sal, do Enxofre e do Mercúrio.

O portador do terceiro grau possuía duas jóias, uma era o emblema dos três reinos da natureza que entra no trabalho de preparação da Grande Obra, a outra era o Pantáculo de Salomão, de sorte que o iniciado deveria portar em si toda a ciência cabalística. Entretanto, Willermoz logo desinteressou-se do Capítulo da Águia Negra, pelas seguintes razões: primeiro porque a base de simbolismo já era do seu pleno conhecimento e havia conseguido formar Mestres capazes de continuar esse trabalho de instruir o s maçons do capítulo; segundo porque encontrou Martinez de Pasqually em 1767, quando tinha 37 anos de idade. Martinez, que como se sabe, foi o fundador da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Cohens do Universo, sistema operativo, cujo ensinamento marcou profundamente o espírito de Willermoz.

A DOUTRINA DE MARTINEZ E O GRANDE TEMPLO DE LYON

Os maçons de Lyon, embora perseverantes no seu trabalho, não possuíam, uma doutrina sintética, que lhes assegurasse o objetivo dos seus trabalhos. A doutrina exposta por Martinez encaixou como uma luva nas mãos laboriosas dos maçons ocultistas de Lyon, cujo chefe era Jean-Baptiste Willermoz.

Tal doutrina comportava a revelação de verdades primordiais, comunicadas outrora a alguns seres privilegiados, e em sua síntese, ensinava a maneira de transpor a barreira que separa o Homem da Divindade.

Martinez trazia a mensagem de uma tradição oculta, conservada alegoricamente nas Escrituras Sagradas, sob o véu dos símbolos, transmitida através dos tempos pelas Sociedades Secretas. A Maçonaria tinha perdido a chave dessa tradição, que foi reencontrada por Martinez e por ele retransmitida nos seus rituais.

A sua doutrina explicava que a história da humanidade se resumia nas conseqüências do pecado original e na subdivisão do Homem Primitivo. A Divindade emanou Adão para que fosse o guardião da prisão onde tinha colocado os anjos rebeldes. Adão, revestido de uma forma "gloriosa"; comandava toda a criação. Mas, seduzido pelos Espíritos perversos, Adão quis ter a sua própria posteridade "espiritual";.

Entretanto, a criação de Adão não resultou senão numa forma material (Eva), que constituiu sua própria prisão futura. Essa condição o privou da comunicação com a Divindade e o expôs aos ataques dos espíritos perversos, dos quais ele era anteriormente o Mestre.

A posteridade de Seth poderá obter sua reconciliação e entrar em contacto directo com a Divindade, após ter percorrido todas as esferas superiores do mundo celeste.

Willermoz foi iniciado por Martinez em Versailles, perto de Paris, no Equinócio de Março de 1767, quando este instalou o seu Tribunal Soberano de Paris. Willermoz tinha sido apresentado por Bacon de la Chevalerie e o Mestre logo reconheceu em Willermoz um futuro adepto, um continuador da sua doutrina, motivo pelo qual não pode conter as lágrimas, sobretudo, porque via nessa iniciação a prova da sua reconciliação com a Divindade. Nesse mesmo ano, Willermoz foi recebido como membro não residente do Tribunal Soberano e a sua correspondência com o Mestre durou cinco anos.

Entretanto, durante esse período não obteve nenhuma luz, o que quase induziu Willermoz a abandonar a Ordem, apesar de Martinez lhe dizer que o desenvolvimento das qualidades espirituais, não vinha de um dia para o outro, e que somente o tempo e a perseverança na iniciação lhe poderia oferecer os resultados esperados.

Divindade, nada lhe será dado. Somente a graça da reconciliação do Pai dará a potência e o poder ao filho. A luz não é dada ao curioso, ao apressado; o Altíssimo a concede ao Homem submisso aos seus mandamentos e que pratica a sua justiça.

O Elus Cohen deveria seguir rigorosamente o ritual teúrgico e renunciar a tudo o que existe neste baixo mundo, e resignar-se a receber a graça no seu devido tempo. Esta virá, a partir de um trabalho constante, quando menos se espera. A preguiça, ou a impureza de um único membro durante os trabalhos, prejudica todo o trabalho coletivo dos grupos operativos.

Willermoz compreendeu rapidamente estas premissas e trabalhou de corpo e alma, não somente na sua regeneração pessoal como também com o objetivo de estender essa doutrina à Maçonaria, fazendo novos adeptos para a Ordem. Foi por essa razão que buscou a aliança com os maçons alemães da Estrita Observância Templária, isentos dos objetivos políticos e vingativos dos maçons Franceses.

OS DIRETÓRIOS ESCOCESES NA FRANÇA

O regime Escocês Rectificado originou-se da introdução na França, dos diretórios escoceses em 1773 e em 1774 pelo Barão de Weiler, que retificou certas lojas existentes em Estrasburgo segundo o rito da Estrita Observância Templária da Alemanha, cujo Grão-Mestre da loja de Saxe (região da Alemanha Oriental) era o Barão de Hund. Após uma longa troca de correspondências com Willermoz, Weiler instalou em 1774 em Lyon o primeiro Grande Capítulo da região e colocou Willermoz como chefe ou delegado regional.

Nesse mesmo ano, outros diretórios foram constituídos em Montpellier e em Bordeaux, cidade onde residia Martinez. O sistema era constituído por 9 graus, consistindo de três classes:

1a classe: Aprendiz, Companheiro e Mestre

2ª classe: Escocês vermelho e Cavalheiro da Águia Rosa Cruz

3a classe: (ordem interna): Escocês verde; Escudeiro noviço; Cavalheiro e Professos.

Os Professos eram considerados SUPERIORES INCÓGNITOS, pois não eram conhecidos dos membros da Ordem. O seu chefe, que mais tarde tornou-se conhecido, era o Duque Ferdinando de Brunswick, que possuía o título de Grande Superior da Ordem.

O CONVENTO DE GAULES (LYON, 1778)

O sucesso das lojas do Rito Escocês Rectificado foi total na França, principalmente porque elas eram oriundas das tradições templárias e sobretudo porque os seus chefes eram nobres autênticos, príncipes, duques, barões e as iniciações eram muito seletiva. Nessa mesma época, estava-se instalando o Grande Oriente da França, que fez questão de agrupar os Diretórios Escoceses sob sua égide e um tratado foi assinado nesse sentido. Esses diretórios não tinham uma direção central na França e uma união era preconizada por todos. Entretanto as desavenças em vez de diminuírem, aumentaram. O próprio Willermoz escreveu ao Príncipe Charles de Hesse, queixando-se que Weiler não conhecia nada sobre "as coisas essenciais";.

O grande superior Ferdinando de Brunswick procurava desesperadamente a doutrina e a coesão que faltava. Os Lyoneses detinham há 11 anos o sistema de Martinez de Pasqually, doutrina que poderia interessar aos Diretórios. Willermoz e Louis Claude de Saint-Martin de maneira muito oculta, prepararam as coisas com cuidado.

Eles conseguiram iniciar Jean de Turkeim e Rodolphe de Salznan na Ordem dos "Elus Cohens" homens de grande importância no seio da Estrita Observância Templária do Diretório de Estrasburgo. E esses dois homens desempenharam um papel muito importante quando os ocultistas de Lyon apresentaram a sua proposta dos conventos que iriam realizar no futuro. Com os espíritos preparados, segundo a doutrina de Martinez, os Lyoneses convocaram o CONVENTO DE GAULES em 1778, em Lyon. As grandes figuras da Estrita Observância Templária estiveram presentes em Lyon, mas preocuparam-se essencialmente com o futuro administrativo da Maçonaria. Willermoz demonstrou, desde logo, que a preocupação deveria nortear-se sobre o verdadeiro objetivo da Maçonaria, suas diretivas de estudos que deveriam orientar-se na busca da Divindade.

No transcurso dos trabalhos, decidiram distinguir as lojas simbólicas das lojas da Ordem Interior e substituir por Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa a palavra Templário. Os rituais apresentados pelos Lyoneses foram aprovados, assim como as instruções secretas de Willermoz, tiradas do "Tratado da Reintegração dos Seres Criados"de Martinez de Pasqually. O objetivo primeiro da Maçonaria seria comunicado somente aos iniciados nos dois últimos graus, os de "Professo" e do "Grande Professo". A denominação de Superior Incógnito, que tinha sido condenada anteriormente, foi ressuscitada no convento, e era designada àqueles portadores de alta doutrina da Ordem. Entretanto, o verdadeiro objetivo da Maçonaria, permanecia desconhecido por todos aqueles que não tinham entrado realmente dentro da iniciação, embora portassem títulos de nobreza e mesmo os altos graus do "Rito Escocês Rectificado". Além disso, havia várias tendências maçônicas e de outras sociedades espiritualistas que colocavam uma grande confusão nas mentes dos vários grupos maçônicos, oriundos de regiões diferentes. Havia assim, a necessidade da realização de um outro convento.

CONVENTO DE WILLELMSBAD DE 1782

Foi assim que quatro a nos mais tarde, em 1782, se realizou outro em Willelmsbad, com um número maior de participantes em relação àquele efetivado na cidade de Lyon em 1778. As reuniões duraram 45 dias e lá estavam presentes Willermoz e Saint-Martin, bem como, representantes dos Filaletes, dos Iluminados da Baviera, etc, todos ligados à Estrita Observância Templária.

A diversidade de idéias e de opiniões, impediu que se chegasse a um denominador comum e que se definisse com precisão a doutrina da Ordem. Desta maneira, acabou-se mantendo as mesmas resoluções do Convento de Lyon, inclusive a doutrina de Martinez. Abandonou-se a pretensão da descendência direta dos Templários, evocando-se, entretanto uma filiação espiritual, oriunda do Mundo Invisível.

Os rituais foram modificados substancialmente, diferenciando o sistema da Maçonaria Tradicional.

Esta é a razão pela qual o sistema foi denominado de RITO ESCOCÊS RETIFICADO