Rito
Escocês Retificado
O
Rito Escocês Retificado é também conhecido como Rito de Willermoz, em alusão ao
seu criador, Jean Baptiste de Willermoz (Lyon,1730- Lyon,1824), que foi
iniciado na maçonaria aos 20 anos de idade em uma loja que funcionava sob os
auspícios da Estrita Observância Templária.
A
intenção de ter um Rito Escocês Retificado seria trazer de volta antigas
influências dos Cavaleiros Templários, como um rito de cavalaria, também de um
antigo rito chamado Rito de Heredom. Segundo Willermoz o Rito havia se
descaracterizado com o tempo, perdendo assim sua identidade original como um
Rito de Cavaleiros.
Foi
relançado nas suas bases atuais, graças ao trabalho incansável de Jean-Baptiste
Willermoz, que mantinha relações com maçons de toda a Europa, principalmente
com os Irmãos mais qualificados de todos os ritos.
Ele
passou a vida inteira reunindo todo o tipo imaginável de documentos, rituais e
instruções, buscando alcançar a essência da iniciação maçônica.
O
sistema maçônico que o interessava de imediato, foi o da Estrita Observância
Templária, em razão das origens templários que esse sistema atribuía à
Maçonaria e por sua organização em forma de ordem de cavalaria.
ORIGENS
MAÇÔNICAS DE WILLERMOZ
Jean-Baptiste
Willermoz era muito estimado pelos seus discípulos, principalmente pelas
maneiras cordiais, amigáveis e sedutoras. Ele tinha como profissão profana a
fabricação e comércio de artigos de seda, sendo ainda um grande proprietário de
imóveis na cidade de Lyon, no centro da França.
Desde
jovem, conseguiu reunir em torno de si um grupo de homens devotados à causa
espiritual, tais como: Louis Claude de Saint-Martin, Joseph de Maistre,
Martinez de Pasqually e o famoso Conde de Saint-Germain, alguns companheiros de
estudos, outros seus próprios mestres.
Claude
Catherin Willermoz foi seu pai, que por tradição também se dedicava à produção
de tecidos; sua irmã Claudine foi iniciada nas ordens externas e o seu irmão
mais novo, o médico Pierre-Jacques Willermoz foi iniciado em todas as ordens e
jogou um papel importante na afirmação de Lyon como centro maçônico importante.
Jean-Baptiste
Willermoz iniciou-se na Maçonaria em 1750. Com 20 anos de idade e já em 1752
era Venerável Mestre da sua loja e um ano mais tarde fundou a loja ";A
Perfeita Amizade", que desempenhou um papel muito importante mais tarde.
Em 1756 obteve a filiação da sua loja na Grande Loja da França. Em 1760, com 30
anos de idade, fundou uma segunda loja: "Os Verdadeiros Amigos";
juntamente com o Venerável da sua primeira loja: "A Amizade";, o
irmão Jacques Irenée Grandon.
Nesse
mesmo ano, as três lojas AMIZADE, A PERFEITA AMIZADE, e os VERDADEIROS AMIGOS,
sob a coordenação de Willermoz, fundam a GRANDE LOJA DOS MESTRES REGULARES DE
LYON, que recebeu Grandon como o seu primeiro presidente. Esses maçons tinham
como objetivo a volta às suas origens primitivas.
Willermoz
torna-se Grão Mestre em 1761, reelegendo-se em 1762, mas desinteressou-se em
seguida, devido ao aumento das tarefas administrativas. Além disso, ele estava
desgostoso com a banalidade dos trabalhos maçônicos o que o induziu a fundar o
Capítulo dos ";CAVALEIROS DA ÁGUIA NEGRA", onde recrutava os melhores
elementos de todas as lojas da cidade.
Willermoz
ensinava no seu Capítulo que, para encontrar a pedra cúbica, que contém em si
todos os dons, virtudes ou faculdades, era necessário encontrar o princípio da
vida que os Adeptos chamam Alkaeter. Esse espírito tem a faculdade de purificar
o ser anímico do homem, prolongando sua vida.
Ele
também tem a virtude de transformar os vis metais em ouro. Esse espírito
encontra-se nos três reinos da natureza e cabe ao homem encontrar a maneira de
manipulá-lo. Eles ensinavam que a pedra bruta representava a matéria disforme
que devemos preparar; a pedra cúbica com ponta piramidal representava a matéria
desenvolvida pela tríplice ação do Sal, do Enxofre e do Mercúrio.
O
portador do terceiro grau possuía duas jóias, uma era o emblema dos três reinos
da natureza que entra no trabalho de preparação da Grande Obra, a outra era o
Pantáculo de Salomão, de sorte que o iniciado deveria portar em si toda a
ciência cabalística. Entretanto, Willermoz logo desinteressou-se do Capítulo da
Águia Negra, pelas seguintes razões: primeiro porque a base de simbolismo já
era do seu pleno conhecimento e havia conseguido formar Mestres capazes de
continuar esse trabalho de instruir o s maçons do capítulo; segundo porque
encontrou Martinez de Pasqually em 1767, quando tinha 37 anos de idade.
Martinez, que como se sabe, foi o fundador da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus
Cohens do Universo, sistema operativo, cujo ensinamento marcou profundamente o
espírito de Willermoz.
A
DOUTRINA DE MARTINEZ E O GRANDE TEMPLO DE LYON
Os
maçons de Lyon, embora perseverantes no seu trabalho, não possuíam, uma
doutrina sintética, que lhes assegurasse o objetivo dos seus trabalhos. A
doutrina exposta por Martinez encaixou como uma luva nas mãos laboriosas dos
maçons ocultistas de Lyon, cujo chefe era Jean-Baptiste Willermoz.
Tal
doutrina comportava a revelação de verdades primordiais, comunicadas outrora a
alguns seres privilegiados, e em sua síntese, ensinava a maneira de transpor a
barreira que separa o Homem da Divindade.
Martinez
trazia a mensagem de uma tradição oculta, conservada alegoricamente nas
Escrituras Sagradas, sob o véu dos símbolos, transmitida através dos tempos
pelas Sociedades Secretas. A Maçonaria tinha perdido a chave dessa tradição,
que foi reencontrada por Martinez e por ele retransmitida nos seus rituais.
A
sua doutrina explicava que a história da humanidade se resumia nas
conseqüências do pecado original e na subdivisão do Homem Primitivo. A
Divindade emanou Adão para que fosse o guardião da prisão onde tinha colocado
os anjos rebeldes. Adão, revestido de uma forma "gloriosa"; comandava
toda a criação. Mas, seduzido pelos Espíritos perversos, Adão quis ter a sua
própria posteridade "espiritual";.
Entretanto,
a criação de Adão não resultou senão numa forma material (Eva), que constituiu
sua própria prisão futura. Essa condição o privou da comunicação com a
Divindade e o expôs aos ataques dos espíritos perversos, dos quais ele era
anteriormente o Mestre.
A
posteridade de Seth poderá obter sua reconciliação e entrar em contacto directo
com a Divindade, após ter percorrido todas as esferas superiores do mundo
celeste.
Willermoz
foi iniciado por Martinez em Versailles, perto de Paris, no Equinócio de Março
de 1767, quando este instalou o seu Tribunal Soberano de Paris. Willermoz tinha
sido apresentado por Bacon de la Chevalerie e o Mestre logo reconheceu em
Willermoz um futuro adepto, um continuador da sua doutrina, motivo pelo qual não
pode conter as lágrimas, sobretudo, porque via nessa iniciação a prova da sua
reconciliação com a Divindade. Nesse mesmo ano, Willermoz foi recebido como
membro não residente do Tribunal Soberano e a sua correspondência com o Mestre
durou cinco anos.
Entretanto,
durante esse período não obteve nenhuma luz, o que quase induziu Willermoz a
abandonar a Ordem, apesar de Martinez lhe dizer que o desenvolvimento das
qualidades espirituais, não vinha de um dia para o outro, e que somente o tempo
e a perseverança na iniciação lhe poderia oferecer os resultados esperados.
Divindade,
nada lhe será dado. Somente a graça da reconciliação do Pai dará a potência e o
poder ao filho. A luz não é dada ao curioso, ao apressado; o Altíssimo a
concede ao Homem submisso aos seus mandamentos e que pratica a sua justiça.
O
Elus Cohen deveria seguir rigorosamente o ritual teúrgico e renunciar a tudo o
que existe neste baixo mundo, e resignar-se a receber a graça no seu devido
tempo. Esta virá, a partir de um trabalho constante, quando menos se espera. A
preguiça, ou a impureza de um único membro durante os trabalhos, prejudica todo
o trabalho coletivo dos grupos operativos.
Willermoz
compreendeu rapidamente estas premissas e trabalhou de corpo e alma, não
somente na sua regeneração pessoal como também com o objetivo de estender essa
doutrina à Maçonaria, fazendo novos adeptos para a Ordem. Foi por essa razão
que buscou a aliança com os maçons alemães da Estrita Observância Templária,
isentos dos objetivos políticos e vingativos dos maçons Franceses.
OS
DIRETÓRIOS ESCOCESES NA FRANÇA
O
regime Escocês Rectificado originou-se da introdução na França, dos diretórios
escoceses em 1773 e em 1774 pelo Barão de Weiler, que retificou certas lojas
existentes em Estrasburgo segundo o rito da Estrita Observância Templária da
Alemanha, cujo Grão-Mestre da loja de Saxe (região da Alemanha Oriental) era o
Barão de Hund. Após uma longa troca de correspondências com Willermoz, Weiler
instalou em 1774 em Lyon o primeiro Grande Capítulo da região e colocou
Willermoz como chefe ou delegado regional.
Nesse
mesmo ano, outros diretórios foram constituídos em Montpellier e em Bordeaux,
cidade onde residia Martinez. O sistema era constituído por 9 graus,
consistindo de três classes:
1a
classe: Aprendiz, Companheiro e Mestre
2ª
classe: Escocês vermelho e Cavalheiro da Águia Rosa Cruz
3a
classe: (ordem interna): Escocês verde; Escudeiro noviço; Cavalheiro e
Professos.
Os
Professos eram considerados SUPERIORES INCÓGNITOS, pois não eram conhecidos dos
membros da Ordem. O seu chefe, que mais tarde tornou-se conhecido, era o Duque
Ferdinando de Brunswick, que possuía o título de Grande Superior da Ordem.
O
CONVENTO DE GAULES (LYON, 1778)
O
sucesso das lojas do Rito Escocês Rectificado foi total na França,
principalmente porque elas eram oriundas das tradições templárias e sobretudo
porque os seus chefes eram nobres autênticos, príncipes, duques, barões e as
iniciações eram muito seletiva. Nessa mesma época, estava-se instalando o
Grande Oriente da França, que fez questão de agrupar os Diretórios Escoceses
sob sua égide e um tratado foi assinado nesse sentido. Esses diretórios não
tinham uma direção central na França e uma união era preconizada por todos.
Entretanto as desavenças em vez de diminuírem, aumentaram. O próprio Willermoz
escreveu ao Príncipe Charles de Hesse, queixando-se que Weiler não conhecia
nada sobre "as coisas essenciais";.
O
grande superior Ferdinando de Brunswick procurava desesperadamente a doutrina e
a coesão que faltava. Os Lyoneses detinham há 11 anos o sistema de Martinez de
Pasqually, doutrina que poderia interessar aos Diretórios. Willermoz e Louis
Claude de Saint-Martin de maneira muito oculta, prepararam as coisas com
cuidado.
Eles
conseguiram iniciar Jean de Turkeim e Rodolphe de Salznan na Ordem dos
"Elus Cohens" homens de grande importância no seio da Estrita
Observância Templária do Diretório de Estrasburgo. E esses dois homens
desempenharam um papel muito importante quando os ocultistas de Lyon
apresentaram a sua proposta dos conventos que iriam realizar no futuro. Com os
espíritos preparados, segundo a doutrina de Martinez, os Lyoneses convocaram o
CONVENTO DE GAULES em 1778, em Lyon. As grandes figuras da Estrita Observância
Templária estiveram presentes em Lyon, mas preocuparam-se essencialmente com o
futuro administrativo da Maçonaria. Willermoz demonstrou, desde logo, que a
preocupação deveria nortear-se sobre o verdadeiro objetivo da Maçonaria, suas
diretivas de estudos que deveriam orientar-se na busca da Divindade.
No
transcurso dos trabalhos, decidiram distinguir as lojas simbólicas das lojas da
Ordem Interior e substituir por Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa a palavra
Templário. Os rituais apresentados pelos Lyoneses foram aprovados, assim como
as instruções secretas de Willermoz, tiradas do "Tratado da Reintegração
dos Seres Criados"de Martinez de Pasqually. O objetivo primeiro da
Maçonaria seria comunicado somente aos iniciados nos dois últimos graus, os de
"Professo" e do "Grande Professo". A denominação de
Superior Incógnito, que tinha sido condenada anteriormente, foi ressuscitada no
convento, e era designada àqueles portadores de alta doutrina da Ordem.
Entretanto, o verdadeiro objetivo da Maçonaria, permanecia desconhecido por
todos aqueles que não tinham entrado realmente dentro da iniciação, embora
portassem títulos de nobreza e mesmo os altos graus do "Rito Escocês
Rectificado". Além disso, havia várias tendências maçônicas e de outras
sociedades espiritualistas que colocavam uma grande confusão nas mentes dos
vários grupos maçônicos, oriundos de regiões diferentes. Havia assim, a
necessidade da realização de um outro convento.
CONVENTO
DE WILLELMSBAD DE 1782
Foi
assim que quatro a nos mais tarde, em 1782, se realizou outro em Willelmsbad,
com um número maior de participantes em relação àquele efetivado na cidade de
Lyon em 1778. As reuniões duraram 45 dias e lá estavam presentes Willermoz e
Saint-Martin, bem como, representantes dos Filaletes, dos Iluminados da
Baviera, etc, todos ligados à Estrita Observância Templária.
A
diversidade de idéias e de opiniões, impediu que se chegasse a um denominador
comum e que se definisse com precisão a doutrina da Ordem. Desta maneira,
acabou-se mantendo as mesmas resoluções do Convento de Lyon, inclusive a
doutrina de Martinez. Abandonou-se a pretensão da descendência direta dos
Templários, evocando-se, entretanto uma filiação espiritual, oriunda do Mundo
Invisível.
Os
rituais foram modificados substancialmente, diferenciando o sistema da
Maçonaria Tradicional.
Esta
é a razão pela qual o sistema foi denominado de RITO ESCOCÊS RETIFICADO