sábado, 21 de agosto de 2010

SER EDIFICANTE!




SER EDIFICANTE!


Amados Visitantes,
Saudações Rosacruzes!
A guisa de reflexão questiono – o que é ser edificante?
Seria o espírito de Servir posto à prova com as nossas limitações?

O exemplo a que me refiro neste caso é a carta escrita pelo filósofo espanhol José Ortega Y Gasset a seu discípulo, também filósofo e madrilenho, Julian Marias, no momento da transmissão da liderança da Escola de Madrid.

É extraordinária e merece a nossa reflexão.
“O grande drama da vida talvez esteja em sua própria construção, naquilo que devemos fazer com ela, como o grito desesperado de São Paulo ao pronunciar ‘o homem tem que ser edificante’, cruel exigência ou maravilhoso favor. Nessa edificação ganha a imaginação a princípio. Mas só a princípio, já que ao efetivar-se o sonho, perdemos parte dessa grande mãe criativa, que tantas vezes se oculta na realidade que o mundo insiste em chamar de verdade.

Construímo-nos exatamente como o novelista constrói seus personagens. Somos novelistas de nós mesmos e se não o fôssemos, jamais poderíamos entender qualquer obra literária ou poética. Quem não percebe o autor de sua vida, não aprecia a arte que lhe inspira e nem admira a natureza que o espelha.

O lamentável é que, na maioria das vezes, cumpre-nos eleger um só e único caminho dentre os muitos que poderão chegar e atender aos apelos da vocação. São programas de vida e, não necessariamente, o projeto vital. Passam na fantasia mas nem sempre refletem o desejo. Ao escolher alguns, excluímos os demais, onde poderá haver justamente o ponto central. Pode acontecer, e geralmente acontece, que a multiplicidade dos dotes desoriente e perturbe o projeto vital, o chamamento sagrado do fogo interior. Como Goethe que viveu inseguro do seu Eu, do seu desejo, devido à natural exuberância de suas aptidões.

Quantos mais eu vi assim. Tamanha aptidão em confronto com uma vontade duvidosa! E uma vida de tal forma ambígua, flutuando ao sabor do acaso, sem maior determinação interna, torna-se vida em disponibilidade. Goethe queria permanecer eternamente em disponibilidade. Difícil questão: até que linha divisória a disponibilidade é o livre ser, a passagem para o novo, e até que ponto torna-se desperdício:

Tudo indica que Fernando Pessoa, esse grande entre os maiores, tenha sido um caso análogo. A multiplicação de suas vidas possíveis desorientou e perturbou o rumo de seus passos, para o que poderia vir a ser sua vida real, exclusiva, vocacional. Mergulhou por suas próprias palavras e, “progressiva e irreversível disponibilidade”. No vazio da disponibilidade, que fez de toda a sua existência a busca interminável e sempre frustrada da “identidade perdida”. Ou será essa identidade perdida que tira o homem do comum, desse diário ofuscante que preenche falsamente o impreenchível. É a dúvida dos libertos de pensamento, dos que possuem a saudável angústia da tragédia e a visão do paraíso dessa monumental condição humana.

Aqui, neste momento, Julian, penso se estou disponível, se sempre estive e tremo de pavor ao questionar se a disponibilidade já não cabe num homem tão envolvido! Enfim, se me fiz ou se me perdi. Neste inverno madrilenho, ao final da vida, é o meu drama e meu encanto. Ter Goethe e Pessoa como fantasmas e santos do meu sonho e do meu dia”.

Temos todos que vivemos,
Uma vida que é vivida,
E outra vida que é pensada,
E a única que realmente temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada...

Fernando Pessoa


É admirável e contentador reconhecer que há quem pense o mundo e o faz de forma tão especial e profunda.

Boa Reflexão

Hélio de Moraes e Marques
GRANDE MESTRE