sábado, 16 de janeiro de 2010

O Simbolismo Maçónico e o Espírito Científico





Isaac Newton é o seu nome, e a sua Obra a primeira dedução que a razão conseguiu dar do Universo em que estamos mergulhados.

Mais do que descrever o trabalho de Newton, julgo que será mais enriquecedor enquadrá-lo numa corda unificadora do tempo, como aquela que envolve todos nós, tentando fazer uma pobre reflexão sobre donde viemos, aonde julgamos que chegámos e para onde caminhamos.

O Universo, em que a Terra representa uma partícula tão pequena quanto um grão de areia numa praia muito, muito extensa, rege-se por um conjunto de mecanismos que os homens sonham algum dia entender.
É a procura do entendimento destes mecanismos que faz com que possamos dizer que há um pensamento antes de Newton e um pensamento após Newton.

De facto, até Newton, desde Euclides, Anaximandro de Estrabão e Aristóteles na antiguidade Clássica, passando por Nicolau Copérnico, Tycho Brae, Galileu Galilei, Joannus Kepler, já durante o Renascimento e o Barroco, todos tentaram deduzir as equações do movimento e da interacção dos corpos, a partir de sistemáticas observações directas. Para todos eles as leis que deduziam sobre o movimento e interacção dos corpos, eram consequência de, aturadas, observações directas dos eventos. Kepler passou uma vida inteira a caminhar para uma torre que tinha junto de sua casa, de onde observava e registava a trajectória dos astros durante longas noites, demonstrando uma devoção à ciência, como poucos o fizeram. É precisamente sobre a chamada terceira lei de Kepler que Newton vai desenvolver um trabalho notável, que iria revolucionar toda a ciência, com implicações que ainda hoje e para todo o sempre se farão sentir.

Mas porquê este impacto tão grande e o que é que Newton fez que outros não tinham conseguido fazer?!

Isaac Newton foi criado pelos avós, já que seu pai morreu pouco antes do seu nascimento. Estava talhado, segundo o desejo de sua mãe, para tomar conta das propriedades da sua família em Woolsthorpe no Linconshire, propriedades essas deixadas pelo seu falecido pai, homem abastado, mas quase analfabeto, com uma grande maioria naquela época, mesmo entre os mais abastados. Felizmente para todos nós que um tio seu (irmão da mãe) e o Reitor da escola local, conseguiram convencer a sua mãe, que seria muito importante mandá-lo para a Universidade, tais as suas capacidades.

Ingressou no Trinity Colledge da Universidade de Cambridge, onde, até aos 22 anos, demonstrou ser uma completa nulidade no plano curricular, onde deveria estudar Filosofia e Direito. É, no entanto, durante este período que, à margem do ensino curricular estabelecido, o recém-empossado na Cátedra Lucasiana de Matemática, Isaac Burrow, lhe dá acesso a obras que permitem entender desde a Geometria Euclidiana, até, à data, os mais recentes trabalhos de Kepler. Para melhor entendermos a importância da percepção que Burrow terá tido para dar acesso a esta (in)formação a Newton, é necessário ter em conta que esta cátedra que se mantém há mais de 300 Anos, foi decretada por Carlos II, em 1664, cumprindo o desejo de Henry Lucas, professor representante da Universidade de Cambridge no Parlamento, que legou àquela Universidade os seus 4 000 Livros de ciência, pedindo como contrapartida, a criação desta cátedra que deveria ser ocupada por personalidade reconhecida e sem ligações à Igreja.

Olhando para algumas das personalidades, poderemos dizer que os seus desejos foram cumpridos já que desde Newton (que sucedeu a Burrow) a Charles Babadge, em 1828, o pai da máquina analítica como pai da computação moderna, a Paul Dirac, em 1932, cujo trabalho está na origem da Mecânica Quântica e da percepção da existência da anti-matéria, a Stephan Hawkings até Outubro de 2009 e, actualmente, Michael Green um dos autores da teoria das cordas e ambos com trabalho na busca de teoria unificadora do campo electromagnético e do campo gravítico.

Newton é um dos mais ilustres ocupantes desta cátedra, porque com as bases matemáticas adquiridas pela consulta das obras e, eventualmente, com o apoio de Burrow, vai desenvolver de forma quase sobrenatural, novas ferramentas matemáticas que suportarão a sua teoria da Gravitação Universal.

Em 1665, com 22 anos, volta para casa, porque alastra em toda a Inglaterra a peste negra e a Universidade é encerrada.

E durante dois anos, com as bases matemáticas que resultavam do que tinha estudado por sua conta, vai desenvolver as “series and fluxions”, que hoje conhecemos como cálculo diferencial e integral e ainda vai postular, aquilo que hoje sabemos ser, a natureza ondulatória da luz e a sua composição multiespectral.

A partir daqui, com o reconhecimento que passaria a ter, vai continuar os seus trabalhos na sua Universidade, que culmina na publicação do Philosophiae Naturalis Principia Mathematica em 1687, explanará as suas famosas três leis do movimento e a Lei da Gravitação Universal, além de correlacionar fenómenos como a excentricidade das orbitas dos planetas, as variações das marés ou a influência gravítica do Sol nos movimentos da Lua. Esta obra é considerada, por muitos, a mais importante publicação científica da Humanidade.

Para termos a ideia da importância e rigor dos trabalhos de Newton poderemos mencionar, por exemplo, a previsão da existência do planeta Neptuno (à data desconhecido)feita pelo matemático francês Urbain-Jean-Joseph le Verrier, em 1846, um fanático das teorias de Newton, com base na Teoria da Gravitação Universal.

Este cientista calculou o valor da excentricidade da orbita de Úrano entrando, apenas, com a influência gravítica do Sol mais os restantes planetas, sobretudo, Júpiter e Saturno ( os planetas mais próximos). O valor que encontrou só seria correcto caso existisse um planeta exterior a Úrano, tivesse determinadas características e determinada posição. Comunicou essa previsão ao astrónomo Johan Galle do Observatório de Berlim e este, bastou-lhe uma hora, para descobrir Neptuno com apenas 1º de desvio em relação aos dados de Verrier.

Quando em 1905, Einstein publica a Teoria da Relatividade restrita, tem que esperar dez anos e pedir apoio matemático, que pela primeira vez utiliza a Geometria diferencial, para publicar a Teoria da Relatividade Geral, já que as Leis de Gravitação de Newton, que Einstein tentava complementar, não explicavam satisfatoriamente o facto de todos os corpos caírem para a Terra com a mesma aceleração independentemente da sua massa. Essa aparente contradição só foi solucionada com a noção de curvatura do espaço-tempo postulada na Relatividade Geral recorrendo, como Newton, a novas ferramentas matemáticas. Isto mostra o respeito que todos os físicos têm pelos trabalhos de Newton, obrigando Einstein a abandonar a sua constante cosmológica da Relatividade Restrita para chegar à Relatividade Geral, constante essa que apenas existiu porque nem Einstein punha em causa o trabalho de Newton mais de duzentos anos antes. Mas era Einstein que tinha razão e apenas é licito dizer que Einstein alargou para além do impensável, também como Newton fizera, o conceito da Gravitação passando para um patamar que, para nós, já não é tão óbvio, porque quando se lança um foguetão para o espaço sideral, quando se criam sistemas de controle de estabilidade num veículo, quando se calcula uma ponte ou o movimento de um projéctil, chega-nos (e sobra-nos) Isaac Newton.

O conhecimento evolui pela dúvida sistemática e aquilo que é verdade hoje poderá não o ser, totalmente, amanhã. Quando Einstein tentou que o Universo fosse estático, cometendo um dos seus dois erros, logo surgiu um advogado útil , porque se tornou astrónomo, que veio mostra que as galáxias divergiam. O seu nome, Edwin Hubble, é uma referência em toda a astronomia, que por sua vez não ficou nada incomodado quando se postulou que as galáxias não se afastavam num conceito de movimento de deslocação tradicional, mas estavam mais longe umas das outras , porque se estava a criar Espaço entre elas, ao longo da linha do tempo. Agora Stephan Hawkins, Feynman e Michael Green procuram a unificação do Campo Electromagnético e Campo Gravítico, introduzindo o conceito de forças nucleares fortes às forças que actuam a distâncias muito próximas no interior dos átomos, e forças nucleares fracas que actuam a grandes distâncias como as que separam os corpos celestes. A admiração que têm por todos os que os antecederam é evidente em todas as suas obras ao longo do tempo.

O futuro está ainda para lá dos 180º graus que o compasso abrange, mas o trabalho de Newton perdurará para sempre na História da Física, que depois dele passou a suportar-se na dedução teórica, recorrendo á sua ferramenta natural que é a Matemática.

Hoje podemos prever qual o resultado de experiências que só conseguiremos realizar quando dominarmos a tecnologia necessária.

Foi Newton que nos ajudou, muito, neste caminho.

Este espírito de dúvida sistemática, de respeito e admiração pela obra dos que nos precederam, que conseguiram tanto com tão poucos recursos. Este espírito de humildade, tentando nunca ficar prisioneiro dos sentidos que, recorrentemente, nos enganam. Este espírito que nos obriga a valorizar o trabalho sério, desinteressado, quase missionário, não sucumbindo a génios fabricados numa sociedade que se afirma cada vez mais pelo ter e não pelo ser, que permite, até, comprar a genialidade.

É este o espírito que o verdadeiro Maçon terá que incarnar.

Nós somos o que sabemos, mas somos, sobretudo, a noção que fazemos da ignorância que temos.

Isaac Newton M:. M:.
Outubro de 2009

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