segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O INCOERISMO



O Incoerismo

O Incoerismo nasceu da necessidade de uma nova aliança entre vanguardas e tradições iniciáticas. Contudo, o Incoerismo não é um movimento, justamente uma atitude libertária e axiocrática, resultante da exploração, ao mesmo tempo metódica e errante, das filosofias do Despertar, particularmente Xivaísmo, Taoísmo e Budismos, das vanguardas literárias, Surrealismo de André Breton, Colégio de Sociologia de Georges Bataille, Grande Jogo de René Daumal, das tradições iniciáticas ocidentais, maçónicas e herméticas, e por fim, dos grandes poetas portugueses do Espírito, Camões, Bandarra, Vieira, Pessoa, Agostinho da Silva...

Libertou-se desta aventura pouco comum uma estrutura única, uma arte iniciática e poética engendrada no corpo pela tensão partilhada do Espírito rumo ao Real.

O Incoerismo quer afastar a Pessoa, tessitura condicionada, para deixar livre o lugar do Ser. Ele traça uma linha invisível entre a Mulher, musa e iniciadora, o Espírito, o Vazio e a plenitude do Vazio.

Convite ao Silêncio, convite ao corpo percebido e não mais pensado, trata-se efectivamente de discernir o que é, na presença aqui e agora, contra todas as representações, sonhos quiméricos projectados nos tempos passados e futuros. Perceber o Universo antes que pensá-lo. Ser antes que fazer e ter. Viver antes que ser vivido.

Ao mesmo tempo solidão, até mesmo solipsismo, e livre companheirismo, procura de uma perfeita imobilidade e alternativa nómada. É incoerista aquele que escolhe o caminho do intervalo que desenham os paradoxos. Ele é aquele que passa sem porta. Ele é malabarista, dançando sobre o fio do Espíritio.

O Incoerismo, Dom-Quixotismo afirmado, prega uma loucura controlada que perturba as ordens estabelecidas, sociais, culturais ou pretensamente iniciáticas. Sucede-lhe suscitar violentas e irracionais reacções de hostilidade naqueles que dizem saber, poder, deter, transmitir... Como, de facto, pretender possuir ou transmitir o Grande Nada?

Rémi Boyer

Autor de quatro textos incoeristas :

Fragmentos de Absurdidade Sagrada

O Quadrante do Despertar

22 breves tratados incoeristas

O Discurso de Lisboa

Edições Rafael de Surtis



MANIFESTO INCOERISTA



& 17

1- O Incoerismo é uma força de criação vertical, livre manifestação da Esseidade, alheia a tudo fazer e tudo ter, unicamente orientada para a Absolutidade, nascida do Oceano do Silêncio e brotada do Intervalo, como um génio demónico.

2- O Incoerismo gera a Vida como Performance a partir de uma postura de Despertar. Performance para se libertar mesmo da Libertação. Ou seja erguer a bandeira da perfeição dobrada na imperfeição. O Gesto Absoluto reside na perfeição do gesto imperfeito.

3- O Incoerismo é uma postura do corpo e do espírito contra todas as imposturas.

4- O Incoerismo é a consciência acrescida, a consciência de intensidade, a consciência de intenção, a consciência de que "eu sou" é o único criador, o único actor, o único encenador, o único realizador, enfim o único espectador do seu próprio espectáculo a que chama "mundo" e que apenas é "onda". Solipsismo total. Alto Jogo de "isso acontece" enquanto que "Aquilo permanece".

5- O Incoerismo nota sobre a Pessoa que a sua necessidade de coerência global é a fonte da sua alienação. A história, a política, as ciências, pretensamente humanas ou auto-proclamadas exactas, as religiões constituídas, as artes cristalizadas, são as patologias da Pessoa. O Ser é a única Coerência, alheio a todas as coerências, e o Grande Nada fica alheio a esta e àquelas.

6- Não existem valores universais, só existem valores pessoais. A questão dos valores, fonte de todos os conflitos, internos ou externos, resolver-se-á com a desaparição da Pessoa.

7- Estamos sob uma ditadura, subtil ou grosseira. Esta não nasceu num hipotético e improvável exterior mas em nós mesmos. O nobre combate é assim interno e axial. As brigas externas e periféricas levam invariavelmente à esgotamento. Não deixa de ser, ou torna-se tanto mais necessário desenvolver uma verdadeira Arte da guerra.

8- O Incoerismo desforra-se do tempo e de todos os tempos, para navegar, livre, nos mundos relativos, seguindo o vento do Querer.

9- A procura do transpor da arte tem o seu apogeu na Demanda de uma Arte de Nada, Arte absoluta do Intervalo. No Cruzamento da Beleza Absoluta, da Virilidade Absoluta, da Feminilidade Absoluta, só o Inapreensível é Arte.

10- O Incoerismo exige, clama, grava no Instante, e em Sempre, o respeito e a celebração ilimitados da Feminilidade Absoluta, essencial, universal, potestade magnífica e face sublime do Real, o Eterno feminino, em todas as suas formas, divinamente humanas ou humanamente divinas, todas sofiais.

11- Só os Mestres do Grande Nada podem reconhecer, na plenitude total do Ser, a subversão, o desvio e a Inversão como caminhos do Intervalo. Para os malcriados e desajeitados restará apenas agitação egótica da Pessoa.

12- O Incoerismo é a Ideia-Apreensão Amorosa, Lugar-Estado no ápex do Ser. Relâmpago de Absolutidade.

"Eu Sou, A Vontade Absoluta"

"Eu Sou, a Vontade Absoluta", simultaneamente alfa e ómega, décimo terceiro axioma e intervalo deste manifesto.

Fonte: http://pagesperso-orange.fr/aa.duriot/incoherisme/manifesteportu.htm