Alphonse Louis Constant nasceu no dia 8 de fevereiro de 1810, no número 5 da rua des Fossés-Saint-Germain-des-Près (que depois se tornou rua de l'Anciene Comédie) em Paris, filho de Joseph Constant e Jeanne Agnes Beaucourt. Seu pai era sapateiro. Graças ao abade J. B. Hubault Malmaison, que havia organizado na sua paróquia, um colégio que dispensava gratuitamente o nível básico de instrução às crianças pobres, ele fez seus primeiros estudos. Depois entrou em 1825 no pequeno seminário Saint-Nicolas du Chardonnet, dirigido então pelo abade Irmão Colonna, que o teria orientado talvez já em direção ao estudo da magia.
Em 1830 tendo terminado a sua retórica, ele passou, de acordo com a regra, ao seminário d'Issy, para terminar seus dois anos de filosofia. Nesse mesmo ano, ocorreu a morte de seu pai. Depois de Issy, ele chega ao seminário de Saint-Suplice para fazer sua teologia. Lá mesmo ele é ordenado sub-diácono e tonsurado(1). Em 1835, sendo encarregado de aulas de catecismo para moças de Saint-Suplice, a jovem Adèle Allembach lhe foi confiada por sua mãe, com a missão de “protegê-la muito especialmente e de instruí-la particularmente como se ela fosse a filha de um príncipe”.
Sua mãe, católica fervorosa e esposa de um oficial suíço, havia emigrado para a França em 1830 porque a religião de sua filha lhe parecia ameaçada, e ambas viviam desde então um grande desenlace.
O jovem abade pouco a pouco foi ficando perdidamente enamorado pela sua protegida, na qual ele crê ver a Santa Virgem numa forma humana. Ele é ordenado diácono no dia 19 de dezembro de 1835, e alguns meses após ele finalmente deixa o seminário em junho de 1836 antes de receber o sacramento da ordem; mas nesse meio tempo, a jovem pela qual ele havia se apaixonado, o abandonou.
Sua velha mãe enferma, que havia colocado todas as suas esperanças nele, ficou muito triste com a saída do filho do seminário e suicidou-se algumas semanas mais tarde asfixiando-se com os gazes do seu aquecedor a carvão. A. Constant, por um momento teve a idéia de entrar na Trapa(2), mas seus amigos conseguiram faze-lo desistir. Ele passou então, um ano num pensionato perto de Paris, depois acompanha um amigo comediante ambulante chamado Bailleul, numa turnê pela província.
Em 1838, ele faz amizade com a socialista Flora Tristan, e colabora com Alphose Esquiros, que conheceu no pequeno seminário, numa revista: As Belas mulheres de Paris, que revela ao público seus dons de desenhista. Então, enquanto ele frequenta os salões em função do seu trabalho na revista, ele conheceu Honoré de Balzac, num momento de plena glória, na casa de Madame de Girardin.
Sonhando ainda em chegar ao sacerdócio, ele parte para a abadia de Solesmes, decidindo aí passar o resto dos seus dias. A abadia possuía uma biblioteca de cerca de 20000 volumes, na qual ele poderia consultar os autores originais. Ele estuda a doutrina dos antigos gnósticos, aquela dos Padres da Igreja primitiva, os livros de Cassien e de outros ascetas, os piedosos textos dos místicos e especialmente os livros de Madame Guyon. Nessa época aparece o seu primeiro livro: A Roseira de Maio (1839). Por causa de um desentendimento com o abade de Solesmes, A. Constant deixa finalmente a abadia no final de um ano, sem um centavo.
Intercedendo junto ao arcebispo de Paris, Monsenhor Affre, ele termina por obter um cargo humilde de inspetor no colégio de Juilly. Seus superiores o maltratam, e na sua angustia ele compões sobre o grande escândalo do clero e dos pensadores, A Biblia da Liberdade (1841). A obra apareceu no dia 13 de fevereiro e foi apreendida em Versailles uma hora após a sua colocação a venda. Um grande número de exemplares puderam mesmo assim, serem salvos, e o abade Constant foi preso nos primeiros dias do mês de abril.
O processo aconteceu no dia 11 de maio de 1841 e o abade foi condenado a 8 meses de prisão e 300 francos de multa. Na prisão de Saint-Pélagie, onde ele passa 11 meses (não tendo provavelmente como quitar a multa...) ele reencontra seu amigo Esquiros e o abade de Lamennais. Todos os meios são usados para fazê-lo morrer de desgosto e de miséria. Suas cartas são interceptadas para deformar o sentido, ele é acusado de se vender a polícia e ele deve, além disso, sofrer a animosidade de certos outros detentos. Ele procura na leitura, consolar-se um pouco, lendo pela primeira vez os escritos de Swedemborg. Porém seus amigos do lado de fora não o esquecem. Uma certa Madame Legrand, uma amiga muito rica de Flora Tristan, procura tornar mais suave o dia a dia do prisioneiro, trazendo a ele uma alimentação mais variada.
Saindo da prisão em abril de 1842, ele recebeu um pedido de pinturas murais para a igreja de Choisy-le-Roy, graças ao capelão de Sainte-Pélagie. Em 1843, morando no presbitério de Choisy, ele começa a escrever A mãe de Deus. Sua conduta é tão exemplar, que Monsenhor Affre decide recomenda-lo a Monsenhor Oliver, bispo de Evreux. O bispo está pronto a acolher o abade desde que ele mude o seu nome pelo de sua mãe, afim de evitar todo o escândalo em relação ao assunto A Bíblia da Liberdade.
É então o abade Beaucourt quem parte para Evreux em fevereiro de 1843. Suas qualidades aí fazem um grande sucesso e provocaram muito ciúme entre os padres da diocese. No mês de junho o jornal O Universo anunciou a morte do abade Constant, informação desmentida em seguida pelo O Popular. Em 22 de julho de 1843 aparece no O Eco da Normanadia um artigo intitulado, O novo Lazaro, no qual é revelada toda a estória do abade Beucourt. Sua identidade seu processo e sua condenação. Obrigado a sair do seminário, ele não é esquecido pelo bispo de Evreux que cuida da sua subsistência e ainda procura ajudá-lo com o pedido de uma pintura mural para um convento. Infelizmente Monsenhor Oliver está muito aflito pelo lançamento de A Mãe de Deus em 1844, e no fim de fevereiro desse mesmo ano, o abade retorna à Paris deixando sua pintura inacabada.
Ele revê sua amiga Flora Tristan, que morrerá pouco tempo depois em Lyon. Ele hesita durante muito tempo antes de publicar o manuscrito de Flora Tristan, pensando que o tornariam responsável por ele; abandona finalmente o projeto e edita o primeiro manuscrito sob o título: A Emancipação da Mulher ou o Testamento da Pária. No outono de 1844, Madame Legrand pede a ele que venha a Guitrancourt afim de assumir a educação de seus filhos. Ele fica lá durante um ano e depois retorna a Paris e lança o seu manifesto pacífico, inspirado por Silvio Pellico: A Festa-Deus ou o Triunfo da Paz Religiosa (1845).
As idéias utopistas e humanitárias da época o absorvem então inteiramente. Dois movimentos principalmente suscitaram de sua parte, profundas e longas meditações: O Santo-Simonismo e o Fourierismo.
“A escola Santo-Somoniana, apesar de suas grandes qualidades, sempre me provocou uma viva repulsão. Eles tem a verdadeira religião exceto o espírito de piedade; a mulher livre da qual eles falam me faz horror e eles não podem compreender a caridade já que eles desconhecem o amor. Eles são frios como o industrialismo, cortantes, déspotas e calculistas. Eu me irrito quando eu os vejo tocar nossas grandes verdades que a sua secura de coração compromete e profana. Enfantin tem certamente percepções notáveis mas ele é pleno de egoismo e de fatuidade” (correspondência com o barão Spedaliere).
“Fourrier retornou o sistema de Swedenborg, para criar sobre a terra o paraíso das atrações proporcionais às destinadas. Por atração ele compreendia as paixões sensuais às quais ele prometia uma expansão integral e absoluta. Deus, que é a suprema razão, marcou com um celo terrível essas doutrinas reprovadas: Os discípulos de Fourrier haviam começado pelo absurdo e terminaram pela loucura”(História da Magia).
Em 1845, no Livro das Lágrimas, ele desenvolve pela primeira vez, noções esotéricas. Durante este período ele compõe também canções e ilustra duas obras de Alexandre Dumas: Luiz XIV e seu século e Conde de Monte Cristo. Adele Allembach, tornou-se artista e vinha vê-lo frequentemente. Ela conservava sempre a mesma admiração pelo seu “paizinho” cujo trajeto ela acompanhou até a última morada.
A. Constant habita algum tempo em Chantilly e depois volta a se fixar em Paris, no número 10 da rua Saint-Lazare. Ele torna-se amigo de Charles Fauvety e os dois fundam em 1845 a revista mensal: A Verdade sobre todas as coisas que só apareceu durante quatro meses.
Desde seu retorno de Evreux, ele ia frequentemente a Choisy-le-Roi onde ele havia encontrado em 1843 a senhorita Eugénie Chenevier, sub-diretora da Instituição Chandeau. Entre as pensionistas da instituição se encontrava a jovem Marie-Noémie Cadiot a quem Eugénie tinha uma ligação de amizade. Quando as duas jovens saiam aos domingos, A. Constant acompanhava-as, e eles passavam os três bons momentos juntos.
Eugénie Chenevier aceitou ser sua mulher perante Deus. Confiante no futuro, ela já se havia entregado a ele e esperava um filho. Esse filho Xavier Henri Alphonse Chenevier, que nasceu no dia 29 de setembro de 1846, viveu até 1916 e teve também um filho, Pierre (pela linhagem de Eugénie a descendência de Eliphas Lévi representa, atualmente, mais de 40 pessoas na sexta geração)
Mas Marie-Noémie Cadiot apaixonou-se... Depois de ter mantido uma correspondência inflamada com A. Constant, ela foge um belo dia da casa de seus pais para se refugiar na pequena casa dele. Seu pai exige então que se casem, sob ameça de desvio de menor porque a jovem só tinha 18 anos. A. Constant teve que se resignar.
A cerimonia civil aconteceu na sede do conselho municipal da décima circunscrição administrativa, no dia 13 de julho de 1846. A familia Cadiot não quis dar dote a Noémi, e os dois ficaram de tal forma destituídos de recursos que eles prepararam sua refeição com alguns centavos de batatas fritas compradas na Ponte Nova.
Desde o “assunto” de A Bíblia da liberdade em 1841, A. Constant era impedido de expressar seu pensamento sendo negado a ele escrever para jornais. Por sugestão de Noémi ele se põe a fazer política. Ele colabora notadamente na A Democracia Pacífica e escreve um panfleto virulento, A voz da Miséria. No dia 3 de fevereiro de 1847, ele é condenado ainda a um ano de prisão e 1000 francos de multa. Sua mulher intercede por ela e o filho que ela espera junto aos ministérios e obtém finalmente a sua libertação no final de 6 meses. Madame Constant dá a luz em setembro de 1847 à uma menina, Marie. A pequena Marie morre em 1854 com a idade de 7 anos para grande desespero de A. Constant que a adorava.
A revolução de fevereiro de 1848 deu a ele mais liberdade, começando assim a dirigir uma revista de esquerda: O Tribuno do Povo que só teve quatro números, do dia 16 ao 30 de Março de 1848. Ele funda, em seguida, com seus amigos Esquiros e Le Gallois um clube político: O clube da Montanha, composto principalmente por trabalhadores. Chegam as jornadas de junho, insurreição das classes trabalhadoras pela reação para fazer morrer a república que nascia. O dia 23 de junho de 1848 foi quase fatal a A. Constant: foi fuzilado, acreditando-se ter ligações com ele, um vendedor de vinho que se assemelhava a ele, na esquina da rua Saint-Martin e da rua de Arcis. No dia 24, Monsenhor Affre querendo apaziguar os insurgentes recebeu um tiro e morreu três dias mais tarde. A. Constant desejaria representar o povo na Assembléia Nacional, mas sua tentativa fracassou. Seu amigo Esquiros foi em compensação eleito no dia 13 de maio de 1849, e os dois homens não se frequentaram mais.
O Testamento da Liberdade 1848, que resume suas idéias politicas, será sua última obra do gênero. Nessa época, Madame Constant, que já havia publicado na revista de seu marido e frequentado o Clube das Mulheres de Madame Niboyet, se lança no mundo parisiense. Ela escreve no A Algazarra e o Moritor da Noite, novelas literárias, sob o pseudônimo de Claude Vignon (tirado de um romance de Balzac). Este é um período de relativo bem estar para o casal. Noémie toma aulas do célebre escultor Pradier, e graças à essa alta relação, A. Constant obtém dois pedidos de quadros do Ministério do Interior.
Paralelamente, ele lê a Cabala Desnuda de Knorr de Rosenroth, estuda os escritos de Boheme, Saint-Martin, Swedenborg, Fabre d'Olivet, Chaho e Goerres.
No final de 1850, ele encontra o abade Migne, fundador e diretor da livraria eclesiástica de Montrouge, que pede a ele um Dicionário da literatura cristã, para sua coleção. Surgindo em 1851, essa obra surpreende pela ciência profunda que ela encerra. Nessa época A. Constant encontra o sábio polonês Hoëné Wronski, cuja obra lhe proporciona uma impressão duradoura e o orienta em direção ao pensamento matemático assim como ao messianismo napoleônico. Começa então a escrever o Dogma e Ritual da Alta Magia. Ele toma então o pseudônimo de Eliphas Levi, ou Eliphas Levi Zahed que é a tradução em hebreu de Alphonse Louis Constant.
“A fé é somente uma superstição e uma loucura se ela não tiver a razão por base, e só podemos supor o que não soubemos pela analogia como o que conhecemos. Definir o que não se sabe é uma ignorância presunçosa; afirmar positivamente o que se ignora, é mentir.”(Dogma e Ritual da Alta Magia, página 360)(3)
Madame Constant, que tinha uma ligação com o Marques de Montferrier (cunhado de Wronski) já há algum tempo, fugiu um dia para não mais voltar. Profundamente magoado, ele se dedica ao trabalho para tentar escapar ao desgosto.
Na primavera de 1854, ele retorna a Londres, onde encontra o Dr. Ashbruner e Sir Edward Bulwer-Lytton, célebre autor de romances fantásticos (Zanoni, o Mestre Rosa-Cruz é sua obra mais conhecida) que torna-se seu amigo e o faz ser admitido no seio dos círculos rasacruzes. Encorajado por uma amiga dele, iniciada de alto grau, ele tenta uma série de evocações. Durante uma delas, o fantasma de Apolônio de Tiana aparece a ele, indicando-lhe o lugar em Londres onde ele poderia encontrar seu “Nuctemeron” (cf. A narração de sua estadia na Inglaterra, em Dogma e Ritual da Alta Magia páginas 132 à 135)(4). Entretanto Eliphas Levi se manterá sempre oposto às experiências de magia. Quando mais tarde ele teve alguns discípulos, ele os fez prometer de jamais tentarem a menor experiência que fosse e de só se ocuparem da parte especulativa da filosofia oculta.
A senhorita Eugénie Chenevier estava em Londres já há alguns anos onde ela ganhava com dificuldade para educar seu filho. A. Constant escreveu uma carta a ela para pedir-lhe perdão e o obteve. Durante esse tempo em Paris, seu amigo Adolphe Desbarolles, faz com a ex-Madame Constant os arranjos necessários e retira da casa dela os objetos pessoais do Mestre.
De volta à França em agosto de 1854, Eliphas se hospeda durante algum tempo na atelier de pintura de seu amigo Desbarolles, depois habita num modesto quarto de estudante no primeiro andar do número 120 do boulevard de Montparnasse onde ele termina o Dogma e Ritual da Alta Magia que aparece de 1854 à 1856. Então começa o sucesso, mas não a fortuna.
Em 1855, ele funda com Fauvety e Lemounier a Revista Filosófica e Religiosa que durará três anos e na qual ele escreve numerosos artigos sobre a Cabala abandonando um pouco a filosofia oculta, ele põe-se a compor canções uma delas na qual ele compara Napoleão III à Calígula o faz voltar mais uma vez à prisão. Mas, alguns dias após seu encarceramento ele escreve uma outra canção onde ele explica satiricamente que os juízes cometeram um equívoco: ele jamais comparou ninguém a Calígula, e faz chegar isso ao imperador que o perdoa. De abril à junho de 1856 ele publica canções no O Mosqueteiro de Alexandre Dumas garças a Desbarolles.
No dia 3 de janeiro de 1857, um acontecimento sangrento mergulha Paris em estupor. O arcebispo de Paris, Monsenhor Sibour é assassinado por um padre que teve seus direitos interditados, Louis Verger, quando inaugurava a novena de Santa-Genoveva em Saint-Etienne-du-Mont. Nas duas noites anteriores, Eliphas havia tido um sonho premonitório que terminava pelas palavras: “venha ver teu pai que vai morrer!” Estando seu pai morto há muito tempo ele não compreendeu logo o sentido. No dia três de janeiro por volta das quatro horas da tarde, Eliphas estava entre os peregrinos que assistiam ao ofício no final do qual o arcebispo devia morrer.
Porém, lendo mais tarde a descrição do assassino nos jornais, ele se lembra de um padre pálido encontrado com Desbarolles um ano antes na casa de Madame A. e que procurava o livro, o grimório de Honorius. Esse episódio é relatado em detalhes no A Chave dos Grandes Mistérios (1861), páginas 139 à 151.(5)
Após três anos passados no boulevard de Montparnasse, ele vai morar no n° 19 Avenida do Maine, por volta de junho de 1857. O quarto ensolarado que ele decora aproveitando seus talentos de artista, verá os sete melhores anos de sua vida.
Em 1859, a publicação da História da Magia lhe rende 1000 francos, o que era considerado uma boa quantia para a época, e o consagra atraindo-lhe a maior parte dos esoteristas franceses (notadamente Henri Delaage, Luc Desages, Paul Agnez, Jean-Marie Ragon, Henri Favre, e o Dr. Fernand Rozier, que será encontrado mais tarde do lado de Papus). Ele conheceu também o cartomante Edmond e o magnetizador Cahagnet.
Solicitado por seus amigos Fauvety e Caubet; ele entra na Maçonaria. Iniciado em 14 em Março de 1861 na loja Rosa do perfeito Silêncio, da qual Caubert era o Venerável, ele declara no seu discurso de recepção:
“Eu venho trazer à vós as tradições perdidas, o conhecimento exato de vossos sinais e de vossos emblemas, e em seguida, vos mostrarei o objetivo para o qual vossa associação foi constituída...” (Caubet, Lembranças; Paris, 1893).
A cerimônia teve lugar na presença de um grande número de Irmãos a quem ele tentou explicar que o simbolismo Maçônico veio da Cabala. Mas foi inútil, não acreditaram nisso.
Nesse meio tempo, a senhorita Eugénie Chenevier e seu filho voltam a Paris e Eliphas diz que deseja se ocupar da criança. A mãe cede a esse desejo, mas um desentendimento acontece em 1867 por questões financeiras e ele não verá nem a mãe nem o filho até sua morte. Em 1861, ele publica A Chave dos Grandes Mistérios, última parte da trilogia começada com História da Magia e Dogma e Ritual da Alta Magia.
O Mestre trabalhou muito, iniciando nas Ciências Ocultas eruditos pertencentes à mais alta aristocracia, e mesmo o bispo de Evreux, Monsenhor Devoucoux, a quem ele dá lições de Cabala. Graças ao pagamento de suas lições, ele vive num relativo conforto material, enriquecendo sempre sua biblioteca. Com o conde Alexandre Branicki, hermetista, ele tem exito com algumas experiencias convincentes da Grande Obra, num laboratório instalado no castelo Beuregard, em Villeneuve-Saint-Georges. Esse castelo pertencia a viúva de Honoré de Balzac e Eliphas tornou-se também amigo do genro de Madame de Balzac, o conde Georges Mniszech. O castelo saqueado pelos prussianos em 1870, é, hoje em dia, a sede do conselho municipal de Villeneuve-Saint-Georgs.
Em maio de 1861, ele volta a Londres, acompanhado do conde Alexandre Branicki para passar alguns meses perto de Bulwer-Lyton que é o presidente da Socidade Rosacruz de Londres naquele ano. Durante esta segunda temporada, Eliphas Lévi faz várias visitas a Eugène Vintras, que lhe havia enviado dois de seus discípulos para convida-lo em anos anteriores. Ele o considera não como um profeta, mas como um médium singular, um interessante caso de estudos, e compra para ele mesmo, seu livro O Evangelho Eterno.
Em Julho de 1861, o barão italiano N-J Spedalieri havia comprado num livreiro de Marselha, o Dogma e Ritual da Alta Magia e decidira fazer contato com o autor. Segui-se a isso uma correspondência de mais de 1000 cartas que durou de 24 de outubro de 1861 à 14 de fevereiro de 1874. É um curso único de Cabala, preciso, cheio de figuras explicativas e anedotas. Spedalieri foi um dos mais importantes “mecenas” do professor de Ciências Ocultas.
De volta a Paris, Eliphas Lévi publica O feiticeiro de Meudon dedicado á Madame de Balzac. Desde sua volta de Londres, ele assiste regularmente às reuniões maçônicas da loja Rosa do perfeito Silêncio. No dia 21 de agosto de 1861, ele recebe o grau de Mestre.
Em seguida a um longo discurso sobre os Mistérios da Iniciação que ele fez no mês seguinte, um irmão, o professor Geneval, querendo apresentar algumas observações sobre o que acabava de ser dito chocou-se aos protestos de Eliphas que se retirou e não apareceu mais na loja. As tentativas de Caubert para faze-lo voltar atrás nas sua decisão, no dia seguinte, não surtiram efeito. A loja Rosa do perfeito Silêncio ficará adormecida em 1885, mas não procuremos trazer nela, como Oswal Wirth, uma relação de causa e efeito.
“Eu cessei de ser Franco-Maçon porque os Franco-Maçons, excomungados pelo Papa não acreditavam mais dever tolerar o catolicismo.”(O Livro dos Sábios)
No dia 29 de agosto de 1862 aparece Fabulas e Símbolos, obra na qual Eliphas Lévi analisa os símbolos de Pitágoras, dos evangelhos apócrifos, do talmude... etc. Algumas vezes ele frequenta, incógnito, as reuniões espíritas para se documentar. Pierre Cristian, autor do estranho romance O Homem vermelho das fabricas de telhas, foi vizinho de Eliphas e aproveitou suas conversas e suas lições todas benévolas.
Em 1863, morre Louis Lucas, químico iniciado nos segredos de hermes, discípulo de Wronski e amigo de Eliphas. Seus escritos contém a primeira síntese científica que alia Ciência Oculta e Ciências experimentais. Ele foi o inventor de um aparelho capaz de medir o equilíbrio do magnetismo vital, que ele chamava de biômetro. Esse aparelho encontrou uma bem curiosa utilização; um aparelho muito similar faz com efeito parte da panóplia dos cientólogos.
No dia 15 de maio de 1864, Eliphas muda-se para um três cômodos no 2° andar do número 155 rua de Sèvres, sua última residência. Em 1865 aparece A Ciência dos Espíritos conjunto de ensaios tratando de novo do simbolismo dos Evangelhos apócrifos, do Talmud... etc. (absolutamente nada a ver com o espiritismo). No verão de 1865, o editor Larousse lhe pede para escrever alguns artigos de Cabala para seu Grande Dicionário. Ele trabalha ao mesmo tempo em uma obra soberba, mas de um valor histórico contestável, O Livro dos Esplendores que trata principalmente da Cabala do Zohar e que só aparecerá após a sua morte.
Nessa época ele começa a sentir com frequência, dores nevrálgicas na cabeça, que o fazem sofrer muito. Durante o cerco de Paris em 1870, sua vida foi muito penosa, porque estando cortadas as ligações com a província, ele não podia mais receber subsídios da parte de seus alunos. A dureza do seu serviço como Guarda Nacional revela uma doença do coração. Uma vez a comuna terminada o Mestre totalmente desprovido de recursos uma vez mais, encontra na casa de uma de suas alunas, Madame Mry Gebhard, que morava em Elberfeld, Alemanha, uma longa e calorosa hospitalidade. Os acontecimentos lhe inspiram alguns pensamentos que ele reúne sob o título de As Portas do Futuro.
Quando ele retorna da Alemanha, ele fica sabendo da morte da mulher do barão Spedalieri. A morte dela afeta de tal forma o barão que ele crê tornar-se materialista e ateu terminando por se afastar do Mestre. Em dezembro de 1871, Eliphas Levi termina um outro manuscrito: o Grimório Franco-Latomorum, consagrado à explicação dos ritos da Franco-Maçonaria. No outono de 1872, sua ex-mulher, escritora e escultora a partir de então muito conhecida, se casa com o deputado de Marselha, Maurice Rouvier que se tornará Ministro do Comércio. Porém sua saúde continua a piorar. Por causa de um problema cardíaco ele fica sujeito a desmaios durante os quais ele diz ter visões profundas. Durante o ano de 1873, ele termina o manuscrito do Evangelho da Ciência.
Em novembro de 1873, Judith Mendes, filha de Theofilo Goutier, havia tido necessidade para um dos seus romances orientais, de informações sobre a Cabala Caldea. A fama a conduziu diretamente à Eliphas Lévi, que convidado um dia a ir à casa do pai dela, havia previsto à jovem seus sucessos futuros, lendo sua mão. Seu marido Catulle Mendes apresentou Eliphas ao escritor Victor Hugo que parecia conhecer as obras do Cabalista e as havia mesmo apreciado.
O ano de 1874 foi muito doloroso a passar: uma bronquite bastante grave, sufocamentos, e uma febre persistente não lhe permitiam nenhum repouso. Sua pernas começaram a inchar e um tipo de elefantíase logo se instalou. Em janeiro de 1875, o Mestre termina o seu último manuscrito: O Catecismo da Paz. No dia 31 de maio de 1875 ele morreu no n°155 da rua de Sevres, com a idade de 65 anos. Ele foi enterrado no cemitério de Ivry, uma simples cruz de madeira marcando o local de seu túmulo. Em 1881 seu corpo foi exumado e seus restos colocados numa fossa comum.
Agradecimentos à M. Paul Chenevier, descendente direto de Eliphas Levi, pelo seu precioso complemento de informações:
Alphonse Chenevier (Xavier Henri Alphonse Chenevier), filho de Eugénie, não foi reconhecido pelo seu pai natural, e é então nascido de pai desconhecido, pelo cartório civil. Ele foi educado principalmente pelo seu tio (Pierre Lemaître, esposo da irmã de Eugénie), porque sua mãe para satisfazer suas necessidades e as de seu filho, foi trabalhar na Inglaterra como governanta e professora de francês; em 1860, ele passou 1 ano na casa de seu pai natural que se havia separado de sua mulher (Noémi Cadiot) há 7 anos (um ano antes da morte da filha deles, Marie, morte que afetou a saúde mental de Noémi).
A desunião definitiva que ocorreu em 1861 entre Alphonse Constant e Eugénie Chenevier (por causa de uma sórdida estória de dinheiro) o separou de seu pai que ele só reviu em seu leito de morte. Em 1865 Madame Constant obteve perante um tribunal civil, um julgamento de nulidade do casamento que ela havia impetrado sob a acusação de que o estado religioso de Alphonse Constant impedia o casamento (lei orgânica da Concordata de Germinal ano X). De fato a ata do casamento não existe mais. Tornou-se mecânico-serralheiro (operário mecânico de cofres fortes na Fichet) Alphonse Chenevier e casou-se com Marie Octavie Lefèvre, florista do seu estado em 1868 e teve uma filha em 1869, Marguerite (que morreu em 1901) no dia 6 de novembro de 1888, 19 anos após Margerite, nasceu o filho deles, Pierre Chenevier, em Paris, no 15° distrito (Cité Talma, tornou-se hoje a rua Dalou). Pirre foi provavelmente um “presente tardio” da Providência para seus pais, porque sem ele, Eliphas Lévi não teria tido nenhuma descendência direta (ou conhecida).
Pierre Chenevier foi um aluno estudioso e brilhante. Ele passou em grandes concursos (Politécnica, Normal), e escolheu a Escola Normal de Matemáticas. Tornou-se professor e fez uma maravilhosa carreira, ensinou matemáticas especiais à Louis Le Grand bastante jovem e seus livros de cursos de matemáticas que tiveram um sucesso considerável nas livrarias escolares dos anos 30, foram tidos como de grande valor até o inicio dos anos 50. Tornou-se inspetor geral e foi apresentado antecipadamente à liberação por haver ocupado cargo técnico no Ministério da Educação Nacional sob Vichy. Ele morreu no dia 8 de novembro de 1977.
Pierre Chenevier teve 4 filhos: Jean, Hélène, Henri e Claudette. Jean nasceu no dia 30 de abril de 1918, teve uma escolaridade brilhante e saiu Major da Escola Politécnica em 1939 fazendo uma marcante carreira na indústria petrolífera entre 1947 e 1978, sempre participando ativamente em atividades extra-profissionais (e benévolas) dirigidas a formação e a prospectiva (ele fundou entre outras o instituto da Empresa com François Dalle, e presidiu o CRC – Centro de Pesquisa de Chefes de Empresas – durante mais de 20 anos). Casado em 1941 com Andrée Dontot, a mais jovem agregada de matemática do seu tempo, ele teve nove filhos (todos vivos). Jean morreu no dia 20 de Julho de 1998, no seu 80° ano, na confiança de uma fé cristã radiante, colocada em prova na sua doença (Parkinson).
Jean, foi meu pai (eu sou o 3° dos seus 9 filhos) e o retrato de Eliphas Lévi, pintado por Ch. Revel em 1874, está sempre na casa de nossa mãe, em Versailles. Pela linhagem de Eugénie, a descendência de Eliphas Lévi representa hoje em dia mais de 40 pessoas, na 6° geração.
.·.