quinta-feira, 18 de agosto de 2016

A FÉ, FACULDADE ESPIRITUAL

A Fé
Faculdade Espiritual

Por
Constant Chevillon
 
A Fé não é apenas uma virtude teológica, uma certeza intelectual e moral de ordem especulativa. É também uma Luz viva que se incorpora, de certa maneira, à vontade e torna-se um poder espiritual, um dinamismo efetivo, cujas potencialidades se atualizam e repercutem em todos os nossos atos.

Ela é uma realização contínua da experiência humana.
 

Essa fé dinâmica é a alavanca das Escrituras e o ponto de apoio de Arquimedes. Aplicada ao eixo das leis naturais, ela pode desencadeá-las bruscamente, reforçar sua ação, ou desviar seu curso para introduzir no ciclo normal da criação visível as leis superiores do mundo invisível. Ela pode curar as doenças, iluminar as inteligências, fortalecer as vontades, aniquilar os obstáculos, realizar milagres. Mas esta é a faceta menor de seu poder realizador.

Ela está na própria origem da nossa consciência; ela nos dá a certeza absoluta de nossa realidade, é a raiz e o princípio do “Cogito” de Descartes. Ela nos confirma, portanto, numa segurança moral, intelectual e física, das quais nossas cogitações e nossos atos subseqüentes são a prova e a conseqüência imediata.

As bases do julgamento — pelo qual nossa personalidade assume seu valor, suas responsabilidades, eleva-se ou desce a certo nível — são função de seu dinamismo próprio. A fé pode tornar-se, em cada homem, um “Fiat” criador, suscetível de projetá-lo rumo ao plano divino e de torná-lo coparticipante dos atributos de Deus. Porque, não satisfeita com uma autocriação interna da consciência, ela é o suporte e o aguilhão da liberdade, da qual a vontade é o órgão; ela assegura seu desenvolvimento e uso no quadro do nosso ser, mas levando sempre mais adiante o limite de suas possibilidades.

Mônada essencialmente expansiva, ela de fato irradia-se no nada para nele suscitar uma criação análoga à que realiza em nós; ela é o Mesmo em gestação do Outro.

Assim, a fé não é uma crença tímida, incessantemente abalada pelos acontecimentos exteriores, sempre em busca de uma consolidação problemática. É uma consciência absoluta das possibilidades interiores de nosso ser e de suas reações vitoriosas. É uma possessão antecipada do futuro, a bigorna sobre a qual forjamos duramente nosso porvir, porque o homem, malgrado as contingências individuais ou coletivas, é o artesão de seu próprio destino; ele o faz grande, mesquinho ou miserável, ao ritmo da fé que o anima.

Em sua unicidade substancial, a fé assume um aspecto triplo: fé em Deus, fé em si mesmo, fé no destino. Se perdermos a primeira, perdemos também as outras, porque Deus é o eixo do Universo e é ainda um fim. Se o aspecto divino desaparece de nossas faculdades, não há mais suporte nem fim adequados à nossa essência íntima.

Nenhum raciocínio, nenhum pensamento, nenhum gesto poderão colocar-nos diante de um porvir que satisfaça as nossas aspirações. Ficaremos num vai e vem entre uma margem e a outra do rio vital, prontos a afundar no abismo das contingências.

Ora, a fé não nasce na dispersão anímica e intelectual, ela repousa na unicidade espiritual. Um homem, um povo dividido contra si mesmo, refratário à unidade, perecerá na desagregação de seus elementos. Tornado, ao contrário, coesivo pela unificação de suas partes constitutivas, viverá no tempo e no espaço, pois ele está confirmado na segurança interna, contra a qual as discórdias externas são impotentes.

Coloquem dois homens em confronto na luta pela vida. O triunfo pertencerá ao detentor da fé mais enérgica e mais atualizada. Ele é, de fato, o melhor adaptado ao fim real da raça humana, porque essa adaptação resulta da fé, parte integrante e centro de seu ser.

A fé verdadeira é pouco comum; os homens afastam-se dela, preferem a facilidade das vontades vacilantes, a dúvida, à certeza, e a influência passional à pureza do coração.

Esta matéria foi publicada pela primeira vez na Revista L’Initiation no nº 4 de 1983. 

Fonte: Sociedade das Ciências Antigas

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

RA-MAK-HOTEP E OS HOMENS QUE VEGETAM PELAS SOMBRAS


NT.: Texto abaixo encaixa-se perfeitamente na atualidade, principalmente entre os sábios e iniciadores de 5min e suas discussões em redes sociais.


Paul Brunton

Ra-Mak-Hotep*

Por: Sri Sevãnanda Swami, 23/07/1950

Não sabe do valor do poder aquele que divaga inutilmente! Não sabe do valor do poder aquele que deixa que sua atenção voe loucamente, como uma mariposa, sobre pequenas coisas e objetos que, ainda que relativamente nobres em si mesmos, não devem ter a atenção daqueles que querem ocupar-se com coisas de mais necessidade e importância. Não se pode, ao mesmo tempo, servir à Luz e a pequenas coisas que vegetam nas sombras. Assim, todos vós, se quereis buscar a Luz e Servir, ide direto à Luz, com os olhos fixos nela, e não deixeis destruir vossos esforços e vossa atenção nem gastais mal nenhuma energia: nem corporal, nem mental, nem visual, nem auditiva, nem verbal, especialmente verbal, nem coisa alguma que não seja bela, nobre, útil e, se possível, grande.

A diferença essencial (meditem o sentido de “essencial”) entre um Irmão da Luz e os homens que vegetam pelas sombras é que os homens que vegetam pelas sombras falam de coisas grandes que não são capazes de ver nem sentir. Já o Irmão da Luz fala muito pouco, porque seu coração e sua mente estão constantemente fixados em coisas Eternas, em coisas realmente grandes, e, ainda que se ocupe de algo menor, o faz empregando tanta grandeza de pensamento que dele não pode sair nada além de justas, belas, sábias, poucas e amorosas palavras, vigiadas e carregadas de poder, e, repito, carregadas de poder, porque são tão poucas as vezes em que se dedica a apreciar algo menor, tão raro que Sua consciência central se ocupe de falar, observar e atuar através do corpo que, quando o faz, é como o violinista pondo toda a sua arte através de um arco e uma corda, e é exatamente aí então que vibra o corpo e transmite um enorme poder que, por si, nada tem a mais do que o próprio violino, mas aquilo que um violino é capaz de transmitir.

Assim, pois, enobrecei vossos corpos e mentes. Empregai vossos corações, reduzi vossas palavras, sintetizai vossos pensamentos, vivei de forma intensa, atenta e humilde, para que quando fordes chamados a usar o instrumento, o tenhais em condições. E que o poder esteja armazenado por não haverdes gasto mal nenhuma de suas forças componentes. Assim, e só assim, os Senhores dos Poderes Secretos que residem nas Pirâmides outorgarão alguma vez alguma atenção a vossos desejos, desde que sejam desejos grandes, reconcentrados e contínuos, e não coisas ditas e repetidas mil vezes pelos lábios em vez de ardente impulso que move o coração e necessidade constante de um cérebro poderoso.

Haveis me obrigado a falar mais do que houvera desejado. Que vos seja proveitoso meditar umas cem vezes sobre o que vos disse.

Que a Luz e a Paz possam penetrar em vós, porque somente quando as deixeis entrar tereis algo para Dar de volta.

*Ra-Mak-Hotep: vive na Pérsia, Irã e Egito. Dirige telepaticamente aos que seguem a via egípcia da busca da Luz pela magia da vida. 

Fontes: 
"O Egito Secreto", Paul Brunton

.·.

domingo, 7 de agosto de 2016

Saber Quem Está Mais Adiantado, A Verdadeira Arte de Fazer Comparações

NT.: Apresentamos para nosso estudo de hoje, o texto de Carlos C. Aveline, dedicado a todo estudante, principalmente aos que dispensam horas de puro desperdício traçando comparativos entre alunos, escolas, ordens seja pessoalmente ou em grupos virtuais. 

"Disputa do Sagrado Sacramaneto", autor Rafael, 1509 -1510.
  
Saber Quem Está Mais Adiantado
A Verdadeira Arte de Fazer Comparações
  
Por: Carlos Cardoso Aveline
 
“Um grupo de estudantes das Doutrinas Esot.
que queira obter qualquer proveito espiritual deve
estar em perfeita harmonia e unidade de pensamento.”

Um Mestre de Sabedoria [1]

A busca da sabedoria mostra que, quando a meta é suprema, o realismo é indispensável. Sem discernimento não há como evitar a derrota.

Um exemplo prático da necessidade de bom senso está no fato de que, nas primeiras etapas do aprendizado, o estudante pode ter vontade de saber se algum outro estudante está mais atrasado ou mais adiantado que ele no caminho.

A tentativa de saber “quem está mais na frente” na caminhada não leva a nada. Quem hoje parece brilhante e dedicado pode revelar-se, amanhã, como alguém que não tem perseverança. Aquele que agora parece ter enormes limitações talvez experimente um grande despertar dentro de cinco anos, ou de cinco dias. E as melhores qualidades internas de alguém talvez sejam invisíveis para todos.

Comparar-se com os outros para ver “quem é o melhor” é inútil, portanto, e quase sempre prejudicial; mas o estudante pode comparar-se consigo mesmo. Esta é a verdadeira arte de fazer comparações, em teosofia.

* Será que ele é um indivíduo melhor, hoje, do que há dez anos?

* Ele está tomando providências para que amanhã pela manhã seja um melhor ser humano do que é hoje? E no próximo ano?

* Ele tem certeza de que o tempo da sua vida não está passando em vão?

* Em que aspectos ele pode melhorar a eficiência da sua caminhada?

Aprender com os outros não implica especular sobre se eles são “mais adiantados”. Ensinar aos outros não é motivo para supor que se é “mais evoluído que eles”. Interessa, isso sim, aumentar o seu próprio nível de eficiência energética, concentrando a mente na sabedoria, na cooperação entre todos, e no ideal de uma vida correta.

Interessa examinar se o esquema referencial e o processo de pesquisa, de ensino e aprendizagem de que se faz parte são legítimos e abertos ao exame crítico. Cabe ao estudante garantir que a fonte dos ensinamentos é autêntica e fazer o melhor que pode de modo sustentável, numa perspectiva de tempo que inclui várias encarnações. 

NOTA: 
[1] Veja o item III, Carta 3, primeira série, em “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, pp. 24-25. Neste trecho a tradução está revisada levando em conta o original em inglês.
Uma versão inicial do texto acima foi publicada de modo anônimo na edição de junho de 2010 de “O Teosofista”.