segunda-feira, 18 de outubro de 2010

HERMETISMO E MAÇONARIA








HERMETISMO E MAÇONARIA 
Doutrina, História, Atualidade


INTRODUÇÃO
Faz já mais de vinte anos foi publicado na França Science de l'Homme et Tradition 1; seu autor, o discutido Gilbert Durand, ao referir-se à decadência do racionalismo, do positivismo, etc., quer dizer, das ciências humanas atuais, sustenta que a única possibilidade de tirá-las de seu beco sem saída, é a presença do Hermetismo, ou seja a aceitação de tudo aquilo que significam os deuses enquanto pautas, enquadramentos e padrões do pensamento, em particular o versátil Hermes, deidade das adaptações, mensageiro e portanto veículo da comunicação e do Ensino (Psicopompo). 

Segundo G. Durand isto já ocorreu outras vezes, o que está implícito, adicionamos nós, em sua própria denominação de Hermes Trismegisto, ou seja, de três vezes grande, que não só está em relação com sua própria identidade, mas também com sua atuação no devir, sua intervenção histórica. De fato, esta figura percorre toda a história do Ocidente até nossos dias já que não só é o Trismegisto alexandrino, o Hermes grego e o Mercúrio romano, entidades tão móveis e inquietas como seus múltiplos atributos, que abrem caminhos e resolvem encruzilhadas, mas também da mesma forma o Thot egípcio, deidade escritora que aparece aqui e acolá como herói cultural. De fato esta figura é universal e pode assimilá-la aos Odín e Wotan Nórdicos, com os Enoque, Elias e Eliseu bíblicos, com o Zoroastro iraniano, e com o Quetzalcoátl tolteca e seus análogos em toda a América2, com quem compartilha muitos de seus atributos e funções, dos quais se diz que não morreram, mas foram arrebatados ao céu, estão vivos, e se afirma têm que voltar para final dos tempos, quer dizer deste ciclo humano. 

De fato, estes deuses são antediluvianos, atlantes, e ainda de origem anterior, hiperbóreos, e sua presença foi contínua ao longo da presente humanidade articulando as tradições conhecidas por sua própria função, e até aquelas das quais perdemos notícia. Inclusive é muito importante na última revelação religiosa, o Islã, onde é conhecido como o profeta Idris (como tal é mencionado no Corão) e onde é assimilado ao Mahdi, personagem que também aparecerá ao final dos tempos3, e que de fato se apresentou cada vez que esta tradição esteve em perigo de extinção ou corrupção. As comparações com Jesus, o Cristo, –assim como suas relações com os deuses de distintos panteões, especialmente o grego– levar-nos-iam muito longe para os limites desta introdução, embora não podemos deixar de assinalar as numerosas equiparações da alquimia cristã4 Medieval e Renascentista entre o Mercúrio Solar e a divindade crística, e igualmente as relações hebraicas entre o Metatron e esta divindade, filha direta do Pai, quer dizer, nosso irmão5.

O Hermes grego, segundo os hinos homéricos, nasce na obscuridade de uma gruta, –como Jesus num presépio– na noite, e finalmente tem que converter-se no sol do amanhecer6. Seus pais são Zeus e Maia7(relacionar este nome com o da mãe de Buda) e, como todas as deidades análogas, através de um processo ascendente alcança a plenitude de suas possibilidades e o ser humano então se deifica através de céus, ou planos –o mundo intermediário–, como o Corpus Hermeticum e outros textos atestam; o que é o mesmo que dizer que os númens ou anjos se fazem nele (de modo descendente)8, posto que o recipiente de sua alma conseguiu lhes dar capacidade mediante uma reciprocidade harmônica, possibilidade que pode se expressar em cada alma individual, ou ser coletivo, ainda que em nossos dias sombrios.

Assinalamos a estreita vinculação do Hermetismo com o Cristianismo, e também com a Tradição Hebraica (Enoque, Elias, Metatron) mas queremos adicionar quanto a esta última sua relação com o Egito, onde os judeus viveram cativos e foram liberados por meio de Moisés, filho adotivo do Faraó, que certamente recebeu determinados conhecimentos tradicionais dessa civilização. Igualmente outra influência muito destacada é a caldéia, já que o patriarca Abraão era da cidade de Ur; isto se encontra vinculado, então, a importantes legados astrológicos e "mágicos", já que na Antigüidade estes termos estavam identificados com o vocábulo caldeu. Isso sem negar a absoluta originalidade da Tradição Judaica e sua língua sagrada. Entretanto, em épocas posteriores, na Idade Média, surgem na Espanha com a aparição do Zohar, e em toda a Europa, várias correntes relacionadas não somente com a Árvore da Vida Cabalística (Sepher YetsirahSepher Bahir), que tiveram parentesco com o pensamento gnóstico e neoplatônico, conforme autorizados investigadores; este é o caso de Gershom Scholem, e atinge o cerne do judaísmo, pois tudo isso foi incorporado à doutrina, à Cabala, termo cuja tradução, como se sabe, é literalmente "Tradição" e, portanto, nós adicionamos, igualmente ligada por intermédio da Gnose com a Tradição Hermética. Tudo isso sem mencionar à Cabala Cristã –que se denomina assim por constituir a aparição da Tradição judaica no seio do cristianismo, tal como o termo Hermetismo Cristão com respeito a Hermes, na Tradição cristã– de tanta influência no Renascimento (e ainda na Idade Média) e que se projetará até nossos dias.

No caso do Islã, um povo, o dos sabeus, rendia culto a Hermes. Posteriormente foram islamizados e, como já dissemos, seu antigo Deus passou a ser o profeta Idris9. Diz-se que este povo "descendia" da Rainha de Sabá, e daí sua vinculação com Salomão e seu Templo, deste modo tomado como modelo da Maçonaria, cujo parentesco com o Hermetismo se estudará no presente livro. 
Por isso Hermes, Pastor do rebanho celeste, Deus verdadeiramente Universal, é ao mesmo tempo a deidade mais antiga de todos os panteões –sendo antediluviano– e portanto um númen que bem poderia ser qualificado de Arquetípico, ou melhor, o Arquétipo da deidade no plano intermediário, ou identificado ao Ensino, como forma de comunicação, por mediação do Conhecimento, com os planos mais altos da Cosmogonia e a Ontologia, e da mesma forma com os autênticos suportes da Metafísica10.

Igualmente Hermes está vinculado com a música e a arte em geral, pois é o inventor da lira –que entrega a Apolo– e tem estreito parentesco com as Musas11, já que suas três primeiras irmãs, em Delfos, personificavam as cordas desse instrumento.12 De fato, a música, cuja origem é divina, está relacionada com o plano intermédio, e é capaz de estabelecer vínculos entre a audição e o Verbo, quer dizer entre o que se ouve e o sopro do inaudível.

Comparou-se a estrutura do cosmo com uma arquitetura musical, já que os sons e os números expressam proporções arquetípicas de harmonia e movimento coincidentes tanto no macro como no microcosmo. Não só a música é terapêutica –e aqui é preciso recordar a vara mágica que Apolo deu a Hermes em troca da lira, que podia curar13, ou despertar, tanto como dar o sonho e a morte, e que logo se converte no eixo de seu caduceu–, mas também manifesta estruturas invisíveis e inaudíveis que se expressam por sua intermediação. Por outra parte, é sabido que a música se propaga pelo ar e as asas do caduceu mercurial representam esta idéia, já que a deidade transmissora se vale fundamentalmente deste meio para revelar suas mensagens, assim como o vento anuncia a bênção das chuvas.

A.-J. Festugière, em seu livro La Révélation d'Hermès Trismégiste,afirma que há um hermetismo popular e um hermetismo culto. Estamos de acordo com ele mas não por suas razões, já que parece confundir povo com "massa". De outra parte, cataloga o hermetismo popular como se expressando mediante mancias, tais como a astrologia, ou por conjuros, ou talismãs, o que considera superstições, ao mesmo tempo em que só destaca os textos sapienciais (sem entendê-los por seus preconceitos, claro, embora este é outro assunto). Não obstante nós queremos também destacar esse outro grupo de ensinos e costumes, próprios de todas as tradições, e que só podem ser qualificadas de supersticiosas quando se as compara com outros ritos que se entendem como oficiais, ou apoiando-se no racionalismo mais evidente e numa lógica que exclui o pensamento analógico. Se todo um povo acreditar em certos amuletos –em primeira instância símbolos– que expressam a energia desse deus, é que esse deus está vivo para eles, e invocado permanentemente. Por isso é que existe igualmente uma Tradição Hermética popular, tão válida quanto a sapiencial, pois o Deus ao qual se invoca naquela se encontra tão vivo como o que possa existir nesta.14Nos momentos em que Hermes presidiu um povo, uma instituição, um grupo, pelo consentimento deste e, sobretudo, por Sua graça, a diferença entre os conhecimentos é só questão de grau numa sociedade organizada de tal maneira que todos participem de acordo com as suas capacidades e condições especiais, que têm sua função dentro dela, sem nenhuma exclusão por motivos artificiais, ou por uma diferenciação contundente, como nos é possível observar cotidianamente.

Como se pode apreciar, as revelações do Deus Hermes são múltiplas e a deidade aparece de muitíssimos modos distintos no curso da História.15Deste modo se poderá observar neste estudo a íntima relação de nosso deus com a Maçonaria, como arauto do Grande Arquiteto do Universo. Para nosso trabalho tomamos em geral modelos míticos greco-romano-alexandrinos, que posteriormente poderão ser assimilados a outros panteões, mas a deidade, ou o conjunto de deidades intermediárias, segue sendo o mesmo, agrupado sob a entidade chamada Hermes (Hiram), que está tão presente hoje em dia como o fora em outros tempos e espaços, e se continua revelando de muitas diferentes maneiras, de acordo às diversas mentalidades, grupos e indivíduos que habitam o planeta.

O caduceu ou a vara –junto com as asas já mencionadas– é o elemento principal da iconografia do Hermes greco-romano, mas estes elementos estão presentes de diversos modos em outras muitas representações. De fato, as serpentes enroscadas no eixo da vara se encontram em diferentes tradições; no caso do Hermes-Mercúrio, é óbvio que elas representam à dualidade, própria de tudo o que é criado no Cosmo. E a interação destas serpentes enroladas no eixo universal em três níveis reflete, por um lado o plano do Universo, e por outro a conjunção dos opostos efetuada igualmente em todos os mundos. Mediante esta união dos contrários, pode-se escalar através do eixo até que essa dualidade é superada pela função polar do próprio eixo, que transcende os opostos, e vitorioso se eleva para um espaço definitivamente outro.

Por sua agilidade, nosso deus é preparado, espontâneo e rápido, por isso foi reconhecido como o númen de comerciantes16 e diplomatas, inclusive de ladrões; isso está claro em seu currículo, já que uma de suas primeiras façanhas é roubar cinqüenta vacas do rebanho de Apolo, o que indigna a este, embora que seja posteriormente perdoado. Além das significações astronômicas atribuídas a este mito, isto ao mesmo tempo o localiza dentro das deidades "trapaceiras", ou seja, as que vivem em sua raiz o paradoxo da dualidade cósmica, à qual são capazes de transcender de súbito, através de uma conjuntura pela qual podem filtrar-se.

Sem dúvida a Hermética é uma tradição complexa, como é a vida, o plano do Universo, e as relações entre os homens; ousar é quase necessário para nos tirarmos as cadeias que nos fazem escravos de nossa programação, ou das que querem nos infligir outros, verdadeiros policiais do pensamento, espíritos totalitários cujo refúgio é a norma, embora esta seja notoriamente falsa. Ninguém vem nos oferecer ou nos dar a liberdade; uma das condições para obtê-la é fazê-lo por nós mesmos, sem se deixar enganar por qualquer "mestre" ou diretor espiritual, mas sim por meio do plano intermediário, invocando ao Mestre Interno.
Apesar da sua ambigüidade, a entidade numênica será capaz de nos guiar no caminho, de tutelar nossas peregrinações e de nos tirar dos labirintos aos quais constantemente acedemos; e, se nos amparar com sua graça, seremos capazes de encontrá-la em cada volta da viagem, e reconhecê-la sob as diferentes maneiras e os diversos disfarces com que se reveste.

Por isso não sempre é fácil para todos conseguir uma filiação com esta Tradição –tampouco Hermes tem que lha outorgar a qualquer um sem que este pague seu preço– nem a realização nessa via, que não se expressa de maneira religiosa ou sentimental-devocional, que não possui ortodoxias teologais estritas, a não ser a vivência de sua doutrina por meio do Conhecimento, o que obriga constantemente ao Aprendiz a constatar o que acontece no itinerário de seu próprio caminho, em seu ser interno, quer dizer, em sua Iniciação, sem o consolo que lhe soem brindar determinadas crenças relativas ao aparato religioso, que, entretanto, podem ser observadas desde outro nível simbólico, depurando-as, ou seja, em termos alquímicos, "retificando-as". Por isso é que a denominou uma Tradição "à intempérie" e pode ser considerada pouco apta para certos espíritos pacatos que não se arriscam e, portanto, desta forma não podem calar ou deixar de se queixar por suas vicissitudes, ao invés de prosseguirem seu caminho, presidido pelo silêncio hermético.

Antes de finalizar estas palavras preambulares, queremos destacar um meio do qual se vale o hermetismo. De fato, para os hermetistas, o livro é um transmissor direto de conhecimentos, que se unem numa doutrina, que é absolutamente transformadora já que, tomando consciência de nós mesmos, conhecemos também nosso ser no mundo, quer dizer, os segredos da cosmogonia em virtude das leis da analogia que estabelecem as correspondências entre macro e microcosmo. A intermediação deste conhecimento do "Si", sempre é pela mediação simbólica de um terceiro elemento, capaz de conectar duas proposições e realizar o milagre da triunidade do Ser, tanto do homem quanto do mundo, posto que sabemos que a cosmogonia é o Ser (ontologia) do Universo.
Por este motivo se justifica que comecemos esta obra com um capítulo dedicado aos livros herméticos –que fixam o ensino oral– onde se poderá apreciar a história desta deidade, tanto quanto de suas doutrinas no mundo greco-romano e alexandrino, na Idade Média e no Renascimento e seus epígonos atuais.

Nesse sentido, o Corpus Hermeticum, a coleção de escritos mais emblemática da Tradição Hermética, no cap. XXIII (5-8) dos "Extratos de Estobeu", denominado a Pupila do Cosmo ou Koré Kosmou, afirma:
"Agora, oh maravilhoso filho meu, Hórus, não é num ser de raça mortal onde isto poderia se produzir –de fato nem sequer existia ainda–, a não ser numa alma que possuísse o laço de simpatia com os mistérios do céu: eis aí o que era Hermes, quem tudo conheceu. Viu o conjunto das coisas; e, tendo visto, compreendeu; e, tendo compreendido, teve poder de revelar e ensinar. De fato, as coisas que conheceu, gravou, e, havendo-as gravado, ocultou-as, tendo preferido melhor, a respeito da maior parte delas, guardar um firme silêncio antes que falar, a fim de que tivesse que as buscar toda geração nascida, depois, do mundo. Nisto, Hermes se dispunha a remontar para os astros para escoltar os deuses seus primos. Entretanto deixava por sucessores a Tat, simultaneamente seu filho e o herdeiro destes ensinos, logo, pouco depois, a Asclépios o Imuthés, segundo os intuitos de Ptah-Hefaistos, e a outros ainda, a todos aqueles que, pela vontade da Providência rainha de todas as coisas, deviam realizar uma busca exata e conscienciosa da doutrina celeste. Hermes pois, estava a ponto de dizer em sua defesa, ante o espaço circundante, que nem sequer tinha entregue a doutrina íntegra a seu filho, em vista da ainda muito pouca idade deste, quando, havendo-se levantado o dia, sendo que, com seus olhos que a tudo vêem, contemplava o Oriente, percebeu algo indistinto e, à medida que o examinava, lentamente, ao fim, veio-lhe a decisão precisa de depositar os símbolos sagrados dos elementos cósmicos perto dos objetos secretos de Osíris e, depois, assim que realizou ainda uma prece e pronunciado tais e quais palavras, subiu ao céu."
"Mas não convém, meu menino, que deixe este relato incompleto: é necessário que refira tudo o que disse Hermes no momento de depositar os livros. Ele, pois, falou assim: 'oh livros sagrados que foram escritos por minhas mãos imperecíveis, vós sobre os quais, havendo-os ungido com o elixir da imortalidade, tenho todo poder, permaneçam imputrescíveis e incorruptíveis, através dos tempos de todos os ciclos, sem que se lhes veja ou se lhes descubra nenhum daqueles que terão que percorrer as planícies desta terra, até o dia em que o céu envelhecido da luz a organismos dignos de vós, aqueles que o Criador chamou Almas'."
   
NOTAS
1Há edição em castelhano recente: Ciencia del Hombre y Tradición, Ed. Paidós, Barcelona 1999.
2Quetzalcoátl (serpente alada) é também deus Asteca e como tal se estendeu por toda a área deste império, inclusive o sudoeste dos E.U.A. A mesma deidade recebe os nomes de Kukulcan, Gucumatz e Votam (notar o parentesco do nome com a deidade nórdica) entre os Maias, Bochica nos Chibchas colombianos, Viracocha entre as culturas incaicas, etc. etc., os quais bem poderiam ser chamados os Hermes Atlantes.
3Ver L. Massignon, apêndice bibliográfico sobre "L'Hermétisme Arabe", em La Révélation d'Hermès Trismégiste: A.-J. Festugière, Les Belles Lettres, Paris 1989.
4Muitos textos dão conta dela. Virtualmente toda a alquimia ocidental está posta sob o patrocínio de Hermes, invocado dentro da Tradição Cristã.
5Ver Charles Mopsik. Le Livre Hébreu d'Hénoch. Moshé Idel, Hénoch c'est Métatron. Ed. Verdier, Lagrasse, França 1989.
6Ou seja, a possibilidade de cada um ser um Hermes não nascido, que posteriormente fará despontar a alvorada.
7Maia é uma das Plêiades, filhas de Atlas, daí sua relação com a civilização Atlântida e suas resultantes, ou seja: com a raça vermelha.
8Ainda que ambos movimentos, ascendente-descendente, são na verdade simultâneos.
9Ver Henry Corbin, Historia de la Filosofía Islámica. Editorial Trotta, Madrid 1994.
10Se houver uma tradição Primordial, quer dizer: Arquetípica, e todas as formas em que se manifesta são só maneiras diferentes devido a condições de tempo, espaço e mentalidade, também há deuses arquetípicos e unânimes em todos os panteões, e se revelam também de diversas maneiras. De fato, Hermes, senhor do plano intermediário e condutor sutil nas estruturas do pensamento, é universal, e portanto cósmico e capaz de nos levar pelos caminhos do Conhecimento até os graus mais altos, e igualmente dos modos mais inesperados.
11Ver W. Otto, Las Musas, el origen divino del canto y del mito. Eudeba, Bs. As. 1981.
12No início, segundo Erastóstenes em sua Mitologia do Firmamento (Catasterismos = transformação em estrelas), a lira estava feita "a partir da carapaça de uma tartaruga e dos chifres das vacas de Apolo; tinha sete cordas, em lembrança das filhas de Atlas [Plêiades]. Foi entregue a Apolo, que, depois de entoar um canto com ela, deu-a de presente a Orfeu, o filho de Calíope, uma das Musas, que ampliou o número de cordas a nove" em honra das mesmas. (Alianza Ed. Madrid 1999).
13Quanto à medicina, o Caduceu preside até hoje através do bastão de Esculápio (Asklepios) seu filho, todas aquelas ciências não só vinculadas a esta mas também a farmacopéia.
14Recordemos aqui uma forma de Hermes, como a antiga divindade Tracia, invocada pelos pastores para cuidar e reproduzir seus rebanhos, daí que na Arcádia fosse representado com o falo ereto, o que chegou a ser extremamente popular entre os camponeses que o colocavam nas frontarias de suas casas, passando posteriormente como um poderoso talismã às cidades gregas.
15Por exemplo –e para citar só um caso–, nas tradições pré-colombianas, Quetzalcoátl e seus análogos já citados possuem distintos atributos e formas, mas não é difícil reconhecer à deidade em sua função mediadora e transmissora. "Salve Hermes, dispensador de alegria, mensageiro, doador de bens!" (Hino Homérico XVIII).
16A presença de Hermes como deus do comércio está testemunhada em numerosas cidades de diversos continentes nos edifícios dedicados às Bolsas, ao comércio marítimo, (nossa deidade não só é fundamental na viagem iniciática mas também em todas as viagens, e especialmente nas grandes empresas de navegação –sem contar as terrestres– que deram lugar ao descobrimento de novos mundos), aos seguros, etc. Muitas destas esculturas ou baixos-relevos, emblemas e alegorias, são verdadeiras obras de arte, e em especial foram produzidas nos séculos XVIII e XIX.
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