terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A MAGIA DO SIGILO

A magia do sigilo

Por H. Spencer Lewis, F.R.C.

Revista O Rosacruz – 4º TRI – 2001 – nº 238 – p. 26 a 28

No mundo inteiro, há centenas de milhares de pessoas que buscam a verdade e se esforçam por compreender as leis subjacentes que regulam a vida em geral. Vagueiam de seita a seita, culto a culto, jamais encontrando a contento o que buscam. Não se afiliam a nenhuma organização secreta simplesmente porque se recusam a ligar-se a tudo que seja privado ou oculto aos olhos do público.

Os que se recusam a se afiliar a alguma organização de natureza secreta acham que o conhecimento, se valioso, deve ser oferecido livremente ao mundo. Fazem eles a pergunta: "Se o conhecimento pode elevar a humanidade, por que é mantido longe de todos, a não ser dos iniciados?" Essa pergunta geralmente é formulada somente por aqueles que não estão dispostos a fazer algum esforço deliberado em prol do que poderiam receber.

No decorrer dos séculos grandes verdades foram veladas. Tal verdade, porém, não foram ocultadas à mente do homem.


A Bíblia, por exemplo, é o livro mais secreto e, ao mesmo tempo, o mais revelador de todos quantos já se escreveu. Suas grandes verdades estão veladas, mas não com peso tal que o véu não possa ser levantado. Por que, então, poucos são os que as compreendem? A resposta é simples: A maioria das pessoas não se disporá a gastar o tempo ou a fazer o esforço consciente necessário a levantar o véu.

Consideremos a organização secreta conhecida com Franco-Maçonaria, por exemplo. Afirma-se que a Maçonaria encerra princípios secretos que são revelados apenas a seus iniciados. Não sendo membro dessa augusta fraternidade, eu não sei exatamente o que ela contém ou revela; mas é evidente que deve reter e revelar algo valioso, caso contrário, não seria a organização tão poderosa que sabemos ser.


Entretanto, se a Maçonaria retém o conhecimento de todos os princípios e leis e se revela meios pelos quais seus membros podem usar esse conhecimento de modo a realizar feitos considerados miraculosos, seria despropositado espalhar ao mundo esse conhecimento. As multidões talvez ouvissem, esperando algo, mas não estariam preparadas para receber as grandes verdades em sua singeleza, de modo que virariam as costas.

Tomemos os Rosacruzes, que se sabe possuírem e ensinarem muitos dos princípios e leis secretos que possibilitam ao homem viver segundo seu Criador pretendeu. O que ocorreria se essa grande fraternidade oferecesse ampla e livremente seus ensinamentos ao mundo inteiro? Muito poucas pessoas dariam ouvidos; menos compreenderiam e menos ainda os colocariam em prática para colher seus benefícios. No entanto, os ensinamentos rosacruzes não são ocultados do público; estão à disposição de todos que os busquem com sinceridade no coração. Por que, então, a maioria dos que buscam a Verdade não tiram deles proveito? Será simplesmente porque devem gastar tempo e energia para absorver e compreender tais ensinamentos? Isso eles não estão dispostos a fazer!


Na busca da Verdade, o indivíduo ficou tão enredado no labirinto das complexidades exteriores, que não se permite ouvir e compreender as simplicidades interiores. Ele procura em toda parte, esperando encontrar fora a resposta que deve provir da silente voz interior.

O Homem interior a tudo conquista, se tem à necessária oportunidade. Ele nada pede, mas oferece tudo, e busca a Deus somente visando ao poder de romper as correntes e abrir a porta pela qual poderá sair e conquistar. Ele se projeta ao espaço cósmico e usa as forças mais sutis. Cria vida em todas as células e percebe quando e onde existe o mal. Ele encontra força no amor.

De que modo, pois, esse homem interior pode ser libertado? O que Deus concedeu é sagrado; contudo, por que o homem inferior é agrilhoado, aprisionado e impedido de se manifestar? Que maior problema conhece o homem que não esse problema tão pessoal?


Conhecendo muito bem o poder do Eu interior, Jesus só pedia que seus seguidores tivessem fé. Ele sabia que eles não podiam compreender as leis e princípios subjacentes a suas obras, mas que pela fé eles teriam a capacidade de conseguir o que pretendiam. Compreendidas por aqueles que estavam despreparados ou que eram indignos, as leis seriam perniciosas à influência de Jesus. O mesmo aconteceria no caso do garoto diante do mágico: o garoto vê o mágico realizar um truque extraordinário e lhe pede que ele revele o segredo. Não obstante, ao tentar fazer o mesmo que faz o mágico, não o consegue. Após várias tentativas sem sucesso, o garoto volta-se para o mágico e exclama: "Eu sabia que não ia dar certo!".

Jesus, portanto, estaria na mesma posição do mágico. Tivesse explicado s leis e os princípios simples, todos teriam buscado demonstrá-los. Dado o seu extremo despreparo, o fracasso teria sido o resultado.


Com base em nossos registros e experiência, aprendemos que as grandes verdades só podem ser preservadas se forem mantidas em segredo e consideradas sagradas. Para que os que as conhecem realizem o máximo bem possível, devem trabalhar em segredo, sem revelá-las aos que não estão preparados para receber esse conhecimento. "Não atire suas pérolas aos porcos" seria mais bem entendido se fosse expresso "não atire suas grandes verdades às mentes despreparadas".

Essa afirmação é válida a despeito de como a encaremos, e algum dia todos os buscadores chegarão a perceber que as grandes verdades são compreendidas somente por aqueles que são dignos e que estão preparados para recebê-las. Os despreparados compreendem-nas equivocadamente.


Só Deus, em Sua infinita sabedoria, possui toda a Verdade e toda a lei desse grande poder chamado sigilo. Deus é sempre o mais secreto dos segredos, que jamais pode ser contemplado pelo homem mortal e que só é revelado através do homem interior e imortal, pois se Ele Se revelasse aos olhos do homem profano ou exterior, logo seria considerada uma impossibilidade por causa de Sua própria simplicidade.


O Poder do Sigilo

O Poder do sigilo - o grande, místico e dito mágico poder do sigilo - sempre está presente no interior de todos nós. Trata-se do poder que, conhecido e praticado, muda toda a vida da pessoa e das condições que a cercam, inclusive seu progresso material e espiritual. Trata-se do poder pelo qual ascenderam todos os grandes homens, foram realizadas todas as grandes obras e conseguidos todos os progressos do homem interior e do homem exterior.


Alcançar o sucesso é o fator mais destacado na mente de todos. A despeito de como visualizemos o sucesso, temos certo objetivo para alcançar. Tendo alcançado o sucesso, diremos: sou bem sucedido. Talvez nossa concepção de sucesso seja acumular imensa quantia em dinheiro para realizar algum grande plano em prol de todos os envolvidos. Ou pode ser que desejemos alcançar sucesso como pintor, engenheiro, músico ou escultor, ou talvez desejemos dedicar a vida ao serviço da humanidade, mas somos impedidos por algumas circunstâncias. Qualquer que seja o nosso objetivo, precisamos alcançá-lo para nos tornar um sucesso.

De que modo podemos alcançar nosso objetivo? Através do trabalho árduo? Muitas pessoas trabalham arduamente todos os dias, dando o máximo de si e trabalhando conscientemente; contudo, poucas são bem sucedidas ou alcançam seus objetivos. Economizando centavos? As agências de poupança possuem milhares de clientes que são econômicos, entretanto, poucos estão mais próximos do sucesso do que estavam muitos anos atrás.


Estudando muito e absorvendo todo o conhecimento que possamos? Que dizer dos milhares de formados em curso superior que têm na ponta da língua vasto e valioso conhecimento? Alguns estão em cargo cujo salário mal dá para o sustento; alguns são incapazes de manter sua posição; outros são tristes e fracassados.

Planejando e programando? Em quase todos os casos, fracassos decorrem de planos e esquemas que, embora bastante viáveis e que trouxeram sucesso a alguns, trouxeram a muitos, fracasso. Não, o sucesso não é alcançado por nenhum desses métodos exclusivamente. É verdade que é necessária certa dose de trabalho, conhecimento, economia, planejamento e programação para alcançar o sucesso; mas tão-somente com isso não conseguiremos alcançar nossos objetivos. Todas essas coisas são inúteis sem o grande poder a elas subjacentes.


A Lei Subjacente

A totalidade do universo está baseada na grande lei subjacente ao poder do sigilo. Não há uma única pessoa no mundo inteiro que possa nos dizer o que Deus é, pois Ele é um segredo para o homem. Ninguém pode nos dizer como a menor folha de relva é criada, pois isso também é um segredo. Se todas as secretas leis do universo fossem reveladas, por seu egotismo o homem tentaria fazer um melhor trabalho que Deus, e ocorreria de o universo ficar numa condição crítica. Por isso, Deus e Suas leis necessariamente precisam continuar secretas.

Há muitos pretensos peritos prontos para nos dizer o que é Deus, assim com o há cientistas prontos para nos revelar o que é uma folha de relva. Eles e nós sabemos que a relva é constituída de moléculas compostas de certos elementos químicos, e que as moléculas são compostas de átomos, estes de elétrons, etc. Mas o como e o porquê de os elétrons se combinarem para constituir átomos, estes para constituir moléculas, estas para constituir a folha de relva, dando-lhe cor e forma, é um segredo, e sempre continuará sendo um segredo para o egótico homem exterior.


O homem interior, porém, a única parte real do homem, pode conhecer e de fato conhece o segredo da criação, pois o utiliza em todas as oportunidades. O Eu interior se projeta ao espaço cósmico e usa suas energias sutis, que criam vida em todas as células. Para que tenha o poder e a capacidade de criar coisas, deve também possuir o segredo desse poder. Pode concretizar seu desejo se este estiver conforme a lei e ordem do próprio universo.


A chamada mente do homem, isto é, a mente exterior, objetiva, não é nada em si mesma, porque só a mente de Deus, a mente interior, cria e manifesta todas as coisas. Em sua manifestação exterior, o homem não passa de um meio ou máquina cuja finalidade é cumprir as orientações do homem interior. Porque o homem exterior, através de uma vontade própria, tem até certo ponto o direito de escolher e fazer o que lhe agrade, vê isso como poder. Crê que também ele pode criar, e assim coloca-se à parte de tudo o mais. É desse modo que o homem exterior se separa do homem interior, vindo a conhecer o fracasso. Ele se recusa a comungar e dar ouvidos à voz interior, impedindo-a de criar e completar aquilo que o eu exterior deseja.

É pela atividade mental que sabemos que vivemos. Por essa mesma atividade, concebemos idéias, fazemos planos e decidimos como e quando essas idéias e planos devem se manifestar. Todos os nossos planos, idéias e ações são concebidos, criados e dirigidos pelo Eu interior, e são manifestos por meio de atividade física.


Assim, concebemos uma idéia, fazemos planos de acordo com ela, e levamos os planos até o fim, o que resulta ou em sucesso ou em fracasso. O resultado será o sucesso, se permitirmos que o Eu interior trabalhe sem interferências.


O melhor meio de chegarmos ao nosso objetivo de sucesso é trabalhar segundo a linha de menor resistência. Nosso eu interior nos dá a noção do que significa para nós o sucesso, de modo que fica estabelecido o objetivo. Desejamos alcançar o sucesso; por isso, só devemos fazer as coisas que contribuirão para tanto. Alguns perguntarão: quais são essas coisas? É aqui que tocamos a lei diretora do poder do sigilo ou segredo.

Nossa mente objetiva recebe instruções pelos impulsos ou sugestões da mente interior. Devemos ouvir e seguir essas sugestões em seus mínimos detalhes para alcançarmos o sucesso. Não devemos permitir interferência da mente objetiva, exterior, nem permitir que realize coisas que se oponham às sugestões I interiores. Não devemos deixar de lado tais sugestões senão num momento futuro, pois o Eu interior sabe mais o que fazer e quando fazer.


Mantenha Sigilo

Devemos também fazer outra coisa, fácil num aspecto, mas, difícil em outro: Manter sigilo! Devemos manter sigilo quanto às coisas que pretendemos realizar, pois é só desse modo que podemos esperar conseguir a necessária energia mental que nos leve a nosso objetivo. Não devemos falar a ninguém. Só devemos falar com nós mesmos, pois no próprio ato de revelarmos nossos planos usamos energia mental necessária para realizá-los. Sigilo significa a conservação da energia mental, que é necessária ao sucesso.


Para ilustrar o modo pelo qual o sigilo conserva e acumula energia mental, recorramos ao dínamo comum usado para gerar eletricidade. O dínamo gera energia elétrica somente enquanto há outra fonte de energia que o ponha em movimento. Quando essa outra fonte de energia é suprimida, o dínamo pára. Enquanto o dínamo é levado a trabalhar, temos a energia, que pode ser usada de muitos modos. Se não usamos a energia, ela é desperdiçada. Se a usamos, devemos usá-la segundo é gerada pelo dínamo.


A energia consumida só pode ser substituída por uma nova carga, que é suficiente apenas para as necessidades atuais. Se não precisamos imediatamente da energia e nem sempre dispomos da força que move o dínamo para gerá-la, precisamos acumular algo da energia para usá-la quando necessário. Fazemos isso por meio de uma bateria, para que possamos usar energia imediatamente.

A mente objetiva pode ser comparada com o dínamo, e a mente interior com a força ou poder por trás dele. Enquanto o homem desperdiçar a energia dinâmica de sua mente, jamais terá energia suficiente para concretizar seus grandes planos ou idéias. Usar a energia para revelar desnecessariamente os planos a outrem, esgota o abastecimento. A bateria pode ser comparada à vontade do homem, por meio da qual ele produz um esforço volitivo, mas, fazendo isso, retém a maior parte da energia produzida pelo Eu interior. Decidindo manter sigilosos seus planos e ações, o indivíduo acumula enorme quantidade de energia mental.


Sigilo acarreta poder, porque os outros nunca saberão se nossos planos foram mudados, descartados, ou se deixaram de se cumprir por nossas próprias decisões. Por causa disso, passaremos a ser vistos como pessoas que não conhecem o fracasso. O mundo aplaude o sucesso. Recorra a pessoas bem sucedidas em busca de conselhos. A pessoa bem sucedida é depositária de confiança, e grandes oportunidades lhe são concedidas.

O sigilo, combinado com uma dose normal de trabalho, inteligência, economia e idéias, acarreta o sucesso em qualquer empreendimento, desde que aceitemos as sugestões de nosso Eu interior, que jamais nos leva por caminhos errados. Sigilo exige silêncio, pois no silêncio chegam as maiores dádivas de Deus. No silêncio podemos comungar com nosso Eu interior e receber instruções. O silêncio é harmonização com as forças ou energias mais refinadas do Cósmico. Ele nos dá força, coragem e confiança. O sigilo requer que o eu exterior coopere com o Eu interior.


Tenhamos sempre em mente o poder do sigilo. Carreguemo-lo sempre em nosso íntimo e comecemos a pô-lo em prática agora. Temos livre acesso a ele. Devemos usá-lo com a mesma espontaneidade, doando-nos a nós mesmos, a nosso Deus e a nossos semelhantes. Usemos esse segredo para alcançar o sucesso. Essa é a lei de Deus, que é sempre o poder secreto e a glória.